Profissionais de saúde confiantes nas novas tecnologias, mas pedem mais formação

Portugal foi, de sete países avaliados, um dos que mais impulso mostrou na adopção de tecnologias para responder à covid-19.

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Paulo Pimenta

Os profissionais de saúde portugueses estão confiantes na transformação digital e acreditam que as instituições onde trabalham estão bem preparadas para a adopção de tecnologias digitais. Mas consideram que precisam de mais formação para o uso correcto da tecnologia. A pandemia veio acelerar a necessidade e a implementação de respostas tecnológicas e Portugal foi, de sete países avaliados, um dos que mais impulso mostrou na adopção de tecnologias para responder à covid-19.

No estudo Closing the digital gap: Shaping the future of European healthcare, realizado pela consultora Deloitte e apresentado esta quinta-feira num webinar, participaram Portugal, Itália, Alemanha, Reino Unido, Países Baixos, Dinamarca e Noruega. O objectivo foi ter “uma visão da maturidade digital na perspectiva dos profissionais de saúde”, explica Carlos Cruz, responsável na Deloitte para área da saúde. Dos 1781 profissionais de saúde – entre médicos e enfermeiros de cuidados de saúde primários e hospitalares – que participaram no inquérito online realizado entre os dias 23 de Março e 4 de Abril, 150 são portugueses (dos quais 86,% trabalham em hospitais públicos). Os restantes repartem-se entre Itália (401), Alemanha (400), Reino Unido (400), Países Baixos (150), Dinamarca (140) e Noruega (140).

De uma forma geral, praticamente todos os profissionais dos países participantes acreditam que a adopção de soluções digitais e a gestão de dados dos utilizadores são fundamentais para a melhoria dos cuidados de saúde. Entre as tecnologias mais usadas estão o registo electrónico, a prescrição electrónica e a marcação de consultas online. Embora, o nível de utilização destas ferramentas não seja igual entre os países.

Uma fatia dos profissionais inquiridos – 60%  acredita que em cinco anos os sistema de saúde estarão completamente digitalizados. Mas há necessidades que acompanham essa evolução como a formação, investimento em inteligência artificial, telemedicina e em infra-estruturas. Questionados sobre os principais desafios à implementação da transformação digital, três pontos sobressaíram das respostas: a burocracia dos sistemas de saúde (57%), os custos da tecnologia (50%) e a selecção das tecnologias certas (49%).

No caso de Portugal, os profissionais de saúde dão ainda destaque à falta de formação dos colaboradores no uso da tecnologia (44%), preocupação semelhante à dos italianos. Apesar desta questão, os profissionais portugueses “são mais confiantes face a outros países relativamente ao nível de preparação e capacitação das instituições para a adopção de tecnologias digitais”, refere Carlos Cruz. De acordo com os resultados do inquérito, 84% dos profissionais de saúde em Portugal acreditam que as suas organizações estão preparadas para adoptar tecnologias digitais comparando com 77% da média europeia.

Efeitos da pandemia

A pandemia, refere a análise, veio acelerar a introdução de soluções digitais para responder às necessidades dos utentes. Segundo o estudo, “quase 65% dos entrevistados disseram que sua organização aumentou a adopção de tecnologias digitais para apoiar as formas de trabalho dos médicos e 64,3% disseram que sua organização aumentou a adopção de tecnologias digitais para fornecer suporte virtual e formas de envolver os pacientes em resposta à pandemia COVID-19”.

“A mudança na adopção para apoiar as formas de trabalho dos médicos foi maior na Noruega (83,6%) e para apoiar os pacientes foi maior em Portugal (81,4%), lê-se no documento. “Da perspectiva dos profissionais de saúde é traçado um cenário positivo em termos do que foi permitido com o recurso à prática de telemedicina no sentido de assegurar a continuidade do contacto com os doentes, seja em consultas ou monitorização”, aponta o responsável da área da saúde da Deloitte. Nos sete países foram os médicos de medicina geral e familiar os que mais relataram uma maior adopção de tecnologias digitais para responder à pandemia (74,7%).

Olhando para o futuro, terá Portugal mais dificuldade que os outros países em adoptar soluções tecnológicas? “Aparentemente não, na medida em que os inquiridos são optimistas e entendem que estamos capacitados para seremos bem-sucedidos nessa transformação digital”, diz Carlos Cruz, salientando que a evolução tecnológica trará ganhos.

“A população está mais envelhecida, sofre de multimorbilidades, tudo isto tem criado pressão do lado da procura. Por outro lado, estima-se que na Europa o número de profissionais de saúde vai diminuir até 2030, além da escassez de meios financeiros. A digitalização da saúde será certamente parte da solução. Permitirá ganhar eficiência nos tratamentos, aproximar os prestadores de cuidados dos pacientes”, diz, lembrando ainda que o perfil dos utentes também está a mudar: “Quer mais celeridade na resposta e maior facilidade no contacto.”

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