Comer, beber, dormir: o turismo junto aos carris

O Governo anunciou a reconversão de antigas estações ferroviárias para turismo. Recordamos aqui alguns dos projectos dos últimos anos que se ergueram em antigas estações, armazéns, linhas desactivadas. Sempre com os olhos nos comboios, nem que seja nas suas memórias.

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A Pensão Destino em Castelo de Vide DR
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A Pensão Destino em Castelo de Vide DR
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Cork Train Station Guesthouse, Esmoriz Adriano Miranda
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No hostel da estação do Rossio Joao Silva
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No hostel da estação do Rossio Joao Silva
Piscina
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No topo do hostel da estação do Cais do Sodré, Sunset Joao Silva
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No topo do hostel da estação do Cais do Sodré, Sunset Pedro Cunha
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No The Passenger, hostel da estação de São Bento Nelson Garrido
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No The Passenger, hostel da estação de São Bento Nelson Garrido
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Restaurante Castas e Pratos, Peso da Régua MARIA JOAO GALA
Serviços de design de interiores
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Hotel Basic Braga Nelson Garrido / PUBLICO
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Hotel Basic Braga Nelson Garrido / PUBLICO
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Trainspot Marvão DR
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Trainspot Marvão DR
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Cais da Estação, Sines DR
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Restaurante Cais da Villa, Vila Real MARIA JOAO GALA
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Restaurante Cais da Villa, Vila Real MARIA JOAO GALA
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As Casas do Côro vão recuperar sete casas da linha férrea DR

Em Castelo de Vide, o destino da estação é uma pensão

Em Castelo de Vide, o destino marca a história ferroviária: na antiga estação, caiada de branco e com azulejos do mesmo autor dos da Estação de São Bento, Jorge Colaço, responsável por muitas mais obras-primas da azulejaria, nasceu a Pensão Destino. Ana Patrício, a responsável pela pensão, contava à Fugas que a ideia lhe surgiu quando leu notícias sobre estações que seriam desactivadas e viu que Castelo de Vide estava sem estação nem linha em funcionamento. Acordou na altura com a Refer, concorreu a apoio comunitário Proder e, dizia-nos, demorou três anos da ideia a abrir as portas, há cinco anos. No espaço da antiga estação, aproveita-se o mote ferroviário conjugado com o alentejano, junta-se mobiliário antigo e há quatro suítes e dois quartos duplos com casa de banho no exterior, além de sala de jantar, cozinha, terraço e jardim. Site

Em Esmoriz, há guesthouse “de cortiça”

Os alojamentos foram-se sucedendo em várias estações pelo país ao longo de uma década e um dos mais recentes projecto fica em Esmoriz. Aqui, a estação, com mais de século e meio, ganhou uma nova vida graças a um casal de viajantes, sendo que os comboios continuam a passar e a parar. A Cork Train Station Guesthouse abriu já após a declaração de pandemia, em Julho, adaptando-se a estes tempos, e após uma longa recuperação. “Estava tudo em avançado estado de degradação”, contava André Gomes, um dos responsáveis, à Fugas. Como estão localizados em zona de cortiça, foi às artes à volta desta que recorreram. Há quatro quartos duplos, com direito a sala de estar, dois com vista para os carris, dois para o largo da estação. Site

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Os comboios continuam a parar na estação ferroviária de Esmoriz, mas agora também se dorme aqui ADRIANO MIRANDA

As futuras Casas do Côro são da Linha Férrea

As Casas do Côro em Marialva estão prestes a prolongar-se para a ferrovia: são sete casas, de apeadeiros e manutenção da linha comboio, a serem recuperadas para estarem prontas para a próxima época, entre o Pocinho e Barca de Alva. A primeira recuperação serve como sala de refeições das outras seis, estas com “componente de alojamento”, informam. “Suítes à beira de água”, sublinha-se. Site

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Pátio do hostel na estação do Rossio João Silva

Em Lisboa, nos hostels das estações do Rossio e Cais do Sodré

Primeiro, e há quase uma década, abriu o hostel na estação do Rossio – uma abertura icónica, particularmente para o turismo em espaços ferroviário e marcando a convivência entre o alojamento de turistas e a continuidade da vida da estação e das suas linhas. Um ano depois, a hostelaria avançou para o Cais do Sodré. Ambos sob a chancela do destino (Destination Hostels). No Rossio, o hostel instalou-se no piso superior da estação erigida no séc. XIX, repartindo-se por dois níveis com epicentro num grande pátio social, um must para este tipo de alojamentos. Actualmente, sob o nome Lisbon Destination, tem trinta quartos (entre diferentes tipologias, incluindo dormitórios, são 108 camas), nove casas de banho privadas e nove partilhadas. “Para a hotelaria tradicional, o espaço não teria condições”, salientava o responsável na altura, João Teixeira, mas “para um hostel, que tem outros critérios, é perfeito”

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No topo do hostel da estação do Cais do Sodré Pedro Cunha

A mesma empresa, que já vinha da experiência de um hostel em Alfama, abriria, em 2012, alojamentos na estação do Cais do Sodré, com vistas para o rio, a dois passos, particularmente a destacar-se com um grande terraço no topo do edifício tornado um jardim urbano e com piscina – é um hostel que nasceu como Beach e foi rebaptizado como Sunset. São 20 quartos para um total de 90 camas.  

Ainda em Lisboa, a estação de Santa Apolónia também se prepara para a hotelaria (são 130 apartamentos), enquanto avançam projectos para estações entre a cidade e Sintra receberem alojamentos para estudantes.

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Detalhe do hostel na estação de São Bento Nelson Garrido

Porto: São Bento de camas abertas

Depois de hostels nas estações do Rossio e Cais do Sodré em Lisboa, também outra das estações icónicas do país recebeu camas: The Passenger abriu em 2017 e transformou os antigos escritório da CP em sete camaratas, nove quartos privados e uma suíte. O espaço integrou ainda lounge, mezzanine e bar com vista para a estação, optando por integrar mobiliário vintage com arte contemporânea portuguesa. Como mais-valias, junta-lhes uma pequena biblioteca, um jardim interior e ainda a realização de eventos culturais e outros na Torre do Relógio. Site

Peso da Régua, comer e dormir

Num velho armazém da estação ferroviária de Peso da Régua, abria o Castas & Pratos (CP, por sinal), onde o primeiro comboio chegava nos finais do séc. XIX. O armazém, com belas madeiras, deixou de ser utilizado e em 2008 parte dele abriria como restaurante. A autarquia avançaria com a requalificação e hoje em dia, crescido e readaptado, o CP – o restaurante é um projecto consolidado, criado de raiz por Manuel Osório e Edgar Gouveia: é lounge, espaço gourmet, bar e loja de vinhos, particularmente especializado na sua região do Douro. Aliás, “comer Douro, beber Douro”, como nos diziam, é o mote desta viagem. Site

Castas e Pratos Maria João Gala
InDouro DR
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Castas e Pratos Maria João Gala

Mas o Castas & Pratos não ficou sozinho. Uma dos vizinhos mais recentes é o inDouro Hostel & Wine Bar, que abriu num “antigo edifício da CP, completamente restaurado e modernizado”. De frente para o rio, oferece dois diferentes tipologias de quartos, todos com WC privativo. E a mais-valia é o restaurante e bar de vinhos, com aposta no melhor da gastronomia da região. Site 

Castas e Pratos

Braga, um Basic entre comboios

Em Braga, um projecto diferente: aqui é mesmo um hotel, chancela Axis, mas não nasceu dentro de uma estação ou armazém. Trata-se de um edifício construído entre a antiga estação (que passou a albergar várias entidades, incluindo os Encontros da Imagem) e a nova estação em terreno ferroviário a partir de uma antiga residência universitária propriedade da Rede Ferroviária Nacional. Ainda assim, foi um dos primeiros hotéis low cost do país e, ainda hoje, promete alojamento cujo preço ronda os 25 euros mínimo por um quarto. Quando o visitámos, definia-se como de linhas simples e modernas, numa decoração quase estilo Ikea. Site

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Basic Braga Neslon Garrido

Mora, um museu megalítico sobre carris

Aproveitando a antiga e reabilitada Estação de Mora, era inaugurado em 2016 o Museu Interactivo do Megalitismo, dedicado à valorização e divulgação do património megalítico do concelho. À antiga estação, o museu juntou dois novos edifícios para formar o complexo. E assim, junto aos carris, começou a contar-se uma história com mais de 6500 anos. Site

A Rota da Bairrada começa na estação

No belíssimo edifício da estação de caminhos-de-ferro da Curia abriu a sede da associação Rota da Bairrada. O edifício (1944, Cottinelli Telmo) foi cedido à associação para “reaproveitar este monumento histórico” e criar “um espaço de promoção da região Bairradina”. Os visitantes tanto podem visitar o espaço como apreciar os produtos promocionais da rota. Encontram-se “intactos todos os azulejos e compartimentos, assim com as diferentes salas de espera e os bancos de madeira que as compunham”. Site

Marvão a sonhar com comboios

No Alentejo, outro exemplo de como uma antiga estação pode dar uma boa casa de hóspedes. A Train Spot Guesthouse abriu no edifício da antiga estação fronteiriça de Marvão-Beirã. É uma casa com memórias vividas: Lina da Paz – que abriu o espaço com o marido – recordava à Fugas que quando vinha visitar os avós, que moravam do outro lado da linha, “vinha de comboio e descia aqui na estação”. Trocaram Lisboa pela estação quando souberam que o Ramal de Cáceres ia ser inactivado. Mantiveram o espírito e o físico dos antigos espaços (desenhados por Raul Lino), criaram sete quartos e adaptaram dois antigos apartamentos de funcionários da estação, a poucos metros.”Não é uma estação fantasma. Tem vida e outros apelativos”, garante-se. Site

Trainspot em Marvão DR
Trainspot em Marvão DR
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Trainspot em Marvão DR

O Cais da Estação de Sines tornado restaurante

Desde os anos de 1990 que os comboios não chegam à malha urbana de Sines. A zona ferroviária foi requalificada, os espaços ganharam novas funções, nasceu um parque urbano. Por aqui fica o restaurante Cais da Estação, no antigo armazém de mercadorias que tinha o mesmo nome. Mantêm-se as memórias e estrutura, mas inova-se tudo. O restaurante foi fundado pelo dono de uma marisqueira (Marquês) em Porto Covo, Isménio Oliveira, que aqui, já desde 2009, impôs a receita de sucesso: gastronomia alentejana baseada no melhor que a terra e o mar dá e bons vinhos da região e do país. Site 

O Cais da Villa Real

Instalou-se num centenário armazém da estação ferroviária de Vila Real e começou a juntar vinhos, boas comidas do Douro e Trás-os-montes e inovações. Já há uma década que o restaurante encontrou aqui o seu destino, mesmo com a surpresa das linhas desactivadas. Descende directamente do Castas e Pratos de Peso da Régua (um dos fundadores, Edgar Correia, foi o mesmo). Manteve-se a traça do edifício com uma “reabilitação cuidada”. E há bar de vinhos com centenas de referências.​ Site

Cais da Vila

A pedalar nas linhas

Não só edifícios ou terrenos ferroviários foram reaproveitados para novas funções. As linhas também: o plano nacional de ecopistas, em 2001, lançou os planos para requalificar e reutilizar “caminhos, canais, e vias ferroviárias desactivadas” pelo país. A Infraestruturas de Portugal tornou-se membro da Associação Europeia das Vias Verdes e foi abrindo Ecopistas, que até é uma marca oficial. No mapa das ecopistas concluídas ou em crescimento: Minho, Famalicão, Guimarães, Tâmega, Sabor, Dão, Vouga, Montado (Gadanha-Montemor-o-Novo), Mora, Corgo e Montijo. Mas é um processo em desenvolvimento, mais virão e com mais ligações.

A pedalar onde antes passava o comboio

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