Ajudar os jovens a prepararem-se para a incerteza
Os professores que são eles próprios aprendizes relativamente ao modo como influenciam as aprendizagens dos seus alunos, são também os que conseguem ser mais influentes.
Há umas semanas recebi o convite para uma entrevista em que me foi colocada a questão: Quais são os principais desafios da educação? Lembro-me de ter respondido que essa era a pergunta para um milhão de dólares. E é! Muito há a dizer sobre o assunto, que não caberá apenas num artigo de opinião.
Considero que o principal desafio é lidar e ajudar os jovens a prepararem-se para a incerteza. Com o novo ano letivo, em plena crise pandémica, a incerteza é mesmo o que temos de mais certo. Contudo, esta preparação para lidar com a incerteza nos mais jovens, já é algo que deverá fazer parte do ADN das comunidades educativas e que vai muitíssimo além do momento atual em que vivemos.
De acordo com o Fórum Económico Mundial, em 2030, 75% das profissões mais procuradas ainda são hoje inexistentes. Só quem anda distraído é que ainda não vislumbrou que a incerteza já por cá criou raízes há muito tempo. As escolas preparam jovens para a vida, nas suas múltiplas vertentes. Se a preparação para lidar com a incerteza deve ser um dos focos, como poderá isso ser feito? A resposta a esta pergunta remete para uma outra, de não somenos importância, e que é saber o que funcionará melhor em termos de sucesso educativo. Quais são os fatores que mais contribuem para as aprendizagens de forma generalizada?
Hattie (2009) sintetizou num livro o que a investigação nos diz a este respeito. Não é um estudo único, nem sequer uma metaanálise agregando alguns estudos. Este livro sintetiza, nada mais, nada menos, que cerca de 800 estudos de metaanálises que procuraram responder a esta questão. O resultado a que chegou foi a de que o fator que isoladamente mais contribui para as aprendizagens são os professores (35%). A conclusão óbvia é: os professores são importantes e fazem a diferença! Naturalmente há muitos outros fatores, responsáveis pelos restantes 65%, mas hoje debruço-me sobre este em particular.
A aprendizagem é um caminho muito pessoal feito pelo professor/a e pelo aluno/a, com pontos em comum nesta jornada. A aprendizagem nem sempre é fácil, nem prazerosa e implica investimento! Também requer um compromisso com a procura de desafios futuros, de novas aprendizagens, num ambiente de incerteza. Quanto maior for o desafio para o/a aluno/a, maior é também a sua necessidade de feedback por parte do/a professor/a, sendo estes dois dos principais ingredientes para uma aprendizagem eficaz.
Qual é então a melhor via para partilhar esse feedback com os alunos? Beneficiando de treino sobre a melhor forma de o fazer e ainda usufruindo de feedback sobre a sua própria prática enquanto professor/a. Os professores que são eles próprios aprendizes relativamente ao modo como influenciam as aprendizagens dos seus alunos, são também os que conseguem ser mais influentes.
A Fundação Bill e Melinda Gates financiou um programa nos EUA destinado a ajudar os professores a melhorar as suas competências, através da observação de gravações das suas próprias aulas, entre outras componentes. Depois de analisadas pelos mesmos, algumas dessas gravações foram selecionadas por cada professor/a e submetidas à apreciação de pares, beneficiando de feedback relativamente a pontos específicos.
Quando se tem uma das profissões mais importantes do mundo é importante receber-se este feedback específico, porque há muita variabilidade na forma como cada professor/a ensina e, consequentemente, na forma como os alunos aprendem. Ao não o fazermos, estamos a falhar em dar aos professores a ajuda que precisam para melhorar as suas competências. E a consequência disso reflete-se na aprendizagem dos seus alunos. Na aprendizagem que precisam de fazer, para serem bem-sucedidos num mundo recheado de incertezas.
Pode um professor/a fazer a diferença perante a incerteza e volatilidade reinante? A investigação mostra-nos que sim. Já dizia um provérbio africano: “Se pensas que és demasiado pequeno para fazeres a diferença tenta dormir com um mosquito.” Mas, também precisamos de ajudar os professores a desenvolverem as competências necessárias para que possam melhorar o apoio que prestam aos seus alunos.