Ministro do Interior francês qualifica ataque que fez dois feridos em Paris de “acto terrorista islâmico”

Polícia deteve cinco suspeitos. Unidade de antiterrorismo da polícia francesa está a investigar o ataque, que fez dois feridos.

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O primeiro-ministro Jean Castex e o ministro do Interior Gérald Darmanin visitaram o local do ataque Reuters/GONZALO FUENTES
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IAN LANGSDON/EPA

Dois colaboradores de uma produtora francesa de programas de investigação jornalística com sede em Paris, no mesmo edifício onde funcionou durante anos a redacção do jornal satírico Charlie Hebdo, foram esfaqueados na rua, na tarde desta sexta-feira, quando faziam uma pausa no trabalho.

A polícia deteve cinco suspeitos, entre estes um jovem de 18 anos nascido no Paquistão e um homem argelino, e admite a hipótese de se tratar de um ataque inspirado pelo atentado de 2015. Os restantes suspeitos, com idades compreendidas entre 24 e 37 anos, foram detidos durante uma busca a uma das supostas casas do principal suspeito do ataque.

O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, afirmou, esta noite, que o ataque foi um “acto terrorista islâmico” contra França e contra os jornalistas. “Manifestamente é um ato de terrorismo islâmico. É um novo ataque sangrento contra o nosso país, contra os jornalistas”, disse o ministro em declarações no canal de televisão France 2.

O governante precisou que o atacante chegou a França há três anos, com estatuto de menor não acompanhado, mas não estaria identificado como um jovem radicalizado. “Ele não era ficha S [identificado como possível radical islâmico pelas autoridades francesas], não era conhecido por radicalização. Ele foi identificado por porte de arma, uma chave de fendas aparentemente, mas ainda era menor. Foi sujeito a uma chamada de atenção dessa vez”, detalhou o ministro.

Tendo o ataque acontecido junto ao prédio onde ocorreram os atentados à redacção do jornal satírico Charlie Hebdo em 2015, Darmanin disse que a zona foi “subavaliada” em termos de segurança. “Pedi ao prefeito de polícia para nos dizer porque é que a ameaça foi subavaliada nesta rua”, esclareceu, já que este ataque acontece durante o julgamento do processo dos ataques ao Charlie Hebdo que decorre desde Setembro no Tribunal de Paris.

Gérald Darmanin disse ainda que a segurança será reforçada nas sinagogas devido às comemorações do Yom Kippour, que acontecem domingo e segunda-feira.

As duas vítimas são um homem e uma mulher, ambos trabalhadores na empresa Premières Lignes. Segundo o primeiro-ministro francês, Jean Castex, estão ambos fora de perigo apesar da gravidade dos ferimentos que sofreram. O jornal Le Monde avança que duas pessoas que ficaram feridas já tinham sido testemunhas do atentado ao Charlie Hebdo.

O principal suspeito foi detido na Praça da Bastilha e, segundo o Le Figaro, tinha vestígios de sangue na roupa. O homem mais velho foi detido pouco depois junto à estação de metro Richard-Lenoir. A polícia está ainda a verificar a relação entre os dois homens. 

Motivações desconhecidas

As motivações na origem do ataque não foram avançadas de imediato e a investigação está a ser liderada pela unidade de antiterrorismo, devido ao local onde ocorreu e por acontecer no mês em que começou o julgamento dos cúmplices do atentado terrorista na antiga redacção do Charlie Hebdo

O primeiro-ministro francês deslocou-se ao local do ataque e condenou a violência, reiterando a “solidariedade” do Governo com as famílias das vítimas.

“Este ataque ocorreu num lugar simbólico, ao mesmo tempo que decorre o julgamento dos ataques ultrajantes contra o Charlie Hebdo. Esta é uma oportunidade para o Governo expressar o seu compromisso com a liberdade de imprensa e com o combate ao terrorismo e de reafirmar a mobilização total da nação”, disse Jean Castex.

A presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, também esteve no local, onde agradeceu às autoridades e disse que os franceses devem continuar vigilantes perante o terrorismo.

“Neste lugar simbólico, a liberdade de expressão foi novamente visada. Devemos permanecer vigilantes e mobilizados para defender este pilar da nossa república e proteger os nossos cidadãos”, disse Hidalgo.

A União Europeia, pela voz do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou solidariedade com a França e condenou o ataque. “Todos os meus pensamentos estão com as vítimas deste cobarde acto de violência. O terror não tem lugar na Europa”, disse Charles Michel no Twitter.

No local do ataque foi encontrada uma arma branca, descrita por algumas testemunhas como um cutelo. 

“Dois colegas estavam a fumar um cigarro no exterior do edifício. Ouvi gritos, fui à janela, e vi uma das minhas colegas coberta de sangue, a ser perseguida por um homem com um cutelo”, disse um funcionário da produtora à AFP.

As autoridades montaram um cordão policial na área e pediram à população para evitar as zonas próximas à Avenida Richard-Lenoir, onde ocorreu o ataque. Por precaução, as creches e escolas nas proximidades foram encerradas, assim como as estações de metro. Junto às antigas instalações do jornal satírico foi criado um perímetro de segurança devido à presença de um “pacote suspeito”, mas não foram encontrados quaisquer engenhos explosivos. 

Através da sua conta oficial no Twitter, os jornalistas do Charlie Hebdo partilharam uma mensagem de solidariedade: “Toda a equipa do Charlie Hebdo oferece apoio e solidariedade aos antigos vizinhos e colegas da Premières Lignes e a todos os afectados por este ataque hediondo.”

O julgamento dos atentados terroristas do Charlie Hebdo, que causaram 12 mortos e cinco feridos, começou no início deste mês de Setembro e 14 pessoas, incluindo três fugitivos, estão a ser julgados pelo massacre. Para esta sexta-feira estavam previstos os testemunhos das viúvas dos atacantes. 

Recentemente, a Al-Qaeda fez ameaças contra o Charlie Hebdo, depois de o jornal satírico ter republicado os cartoons do profeta Maomé para marcar o início do julgamento dos cúmplices dos terroristas que atacaram a sua redacção em Paris, em 7 de Janeiro de 2015.

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