A indústria petrolífera e o lucro sobreposto à vida

Toda a indústria petrolífera tem de ser desmantelada para que o planeta possa continuar a sustentar a civilização como a conhecemos e para travarmos a crise climática. Em causa está a sobrevivência da humanidade.

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Paulo Pimenta

A ciência diz-nos que, até 2030, temos de cortar 50% das emissões de gases com efeito de estufa globais. Não o fazer é destruir as condições materiais que permitiram a civilização humana e é fechar os olhos ao agravamento da injustiça social climática, que atinge sobretudo quem já enfrenta mais obstáculos.

Em 2011, a Agência Internacional de Energia avisou que as infra-estruturas de combustíveis fósseis em funcionamento em 2017 já seriam suficientes para um aquecimento global de 2ºC até 2100. Também um relatório — de 2019 —, desenvolvido por vários organismos internacionais, incluindo o Programa Ambiental das Nações Unidas, mostrou que os governos estão a planear produzir 50% mais combustíveis fósseis em 2030 do que aquilo que seria consistente com um aumento de temperatura de até 2ºC e 120% mais do que seria consistente com um aumento de temperatura de até 1,5ºC.

Toda a indústria petrolífera tem de ser desmantelada para que o planeta possa continuar a sustentar a civilização como a conhecemos e para travarmos a crise climática. Em causa está a sobrevivência da humanidade.

Os países que historicamente mais contribuíram para as emissões de gases com efeito de estufa — países do Norte Global — têm responsabilidade histórica e moral para com os países mais directamente afectados pela crise climática, que vem agravar, muitas vezes, dificuldades já enfrentadas. Quem menos contribui para as alterações climáticas é quem mais sofre com as suas consequências. A crise climática é um resquício de séculos de colonialismo, escravidão e exploração. 

Ora, a indústria petrolífera é a continuação do colonialismo no Sul Global, tendo uma responsabilização directa na militarização das zonas indígenas e na expulsão das comunidades locais — por exemplo, em Cabo Delgado, antigas comunidades indígenas foram obrigadas a deslocar-se quilómetros para o interior para dar espaço a novas infra-estruturas de gás, aumentando a instabilidade e provocando violência na região. As empresas petrolíferas dão continuidade ao modelo económico extractivista — cuja única prioridade é o lucro — e ao fluxo dos recursos do Sul Global para o Norte Global. Estas empresas são símbolos de extractivismo, tanto em termos ambientais como em termos sociais. No seu modelo de negócio, não há espaço para os direitos dos trabalhadores, para as comunidades locais, para a preservação dos ecossistemas. Não há espaço para a vida.

É urgente destruir este sistema fóssil e extractivista em que vivemos. É preciso garantir reparações para com as comunidades e ecossistemas afectados. É preciso garantir uma transição justa, que reconfigure os meios de produção baseados em fósseis e crie empregos dignos, possibilitando emprego a centenas de milhares de pessoas em serviços públicos — tendo as pessoas trabalhadoras afectadas prioridade na colocação. É preciso garantir uma transição justa que se paute por princípios de equidade, de justiça social e laboral. É preciso garantir o acesso universal à energia e aumentar a energia renovável. É preciso garantir uma economia que tenha a vida no centro.

É mais importante do que nunca continuar a aumentar a onda de mobilização por Justiça Climática. Por isso, esta sexta-feira, 25 de Setembro, o Salvar o Clima volta às ruas. Juntas, gritaremos em uníssono: justiça climática, já!

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