Jovens activistas de Hong Kong presos na China sem direito a advogado

O 12 adolescentes e jovens, entre eles um português, foi detido ao tentar alcançar Taiwan por mar. Pequim diz que são “separatistas” e o governo da antiga colónia britânica recusa responsabilidades.

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A mulher de Wong Wai Yin, um dos doze detidos, à chegada a uma conferência de imprensa que juntou vários familiares, na quarta-feira Reuters/TYRONE SIU

Detidos há um mês quando tentavam alcançar Taiwan e ali pedir asilo, os “12 de Hong Kong”, como são descritos nos media locais os jovens residentes na antiga colónia britânica que Pequim já descreveu como “separatistas”, estão numa prisão chinesa sem acesso a visitas ou advogados. No grupo de activistas – com idades entre 16 e os 33 anos – envolvidos nos protestos massivos de 2019 encontra-se Tsz Lun Kok, estudante da Universidade de Hong Kong de 19 anos e com dupla nacionalidade, portuguesa e chinesa.

Mais uma vez detido e libertado sob fiança, Joshua Wong, líder do movimento pró-democracia de Hong Kong, aproveitou a presença de jornalistas estrangeiros à saída da esquadra esta quinta-feira para pedir à comunidade internacional que se concentre em activistas menos proeminentes, apelando à libertação dos 12 jovens.

Os familiares dos detidos têm-se desdobrado em apelos, com alguns a falarem com a imprensa sob anonimato e outros a organizarem conferências de imprensa. Pedem ajuda, querem enviar-lhes medicamentos e suplicam para que regressem a Hong Kong. Da polícia querem acesso “ao processo da detenção” e saber se algum está ferido.

“Queremos o nosso filho de volta… Mesmo se não o pudermos visitar, dêem-nos pelo menos uma fotografia ou uma carta dele, para confirmar que está preso”, disse na última destas conferências o pai de um dos detidos, Li Tsz Yin.

No caso de Tsz Lun Kok, tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros português como o Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong dizem estar a acompanhar o caso. Mas esclarecem que, como “a China não reconhece a dupla nacionalidade a cidadãos chineses”, a intervenção portuguesa está limitada ao “domínio humanitário, procurando assegurar que o detido se encontra bem, que lhe seja dispensado um tratamento digno e que possa ser defendido por um advogado”.

Não há forma de saber como é que a China está a tratar o jovem de passaporte português ou qualquer outro. As autoridades chinesas demoraram três dias a anunciar que tinham detido 12 cidadãos de Hong Kong por “passarem ilegalmente a fronteira” e 20 dias a confirmar que estão na prisão em Shenzhen, a metrópole que une Hong Kong à China continental.

Já esta semana, a chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, confirmou que cabe à China continental “lidar com eles” e mostrou-se desagradada com o facto de “alguns” falarem dos detidos como “activistas pela democracia sob opressão”, dizendo que estavam a fugir à justiça. Sustenta que o seu governo (subordinado a Pequim) não tem obrigação de se envolver para além do que chama assistência “exequível”.

Pelo que se sabe, o grupo de activistas decidiu comprar uma lancha rápida e fugir para Taiwan, uma viagem de 600 km. Horas depois da partida foram interceptados pela guarda-costeira da província de Guangdong.

Lei de segurança nacional

Desde que a repressão chinesa se começou a fazer sentir em Hong Kong, Taiwan, território que disputa com Pequim a sua soberania, impôs-se como destino de asilo possível – segundo a AFP, a ilha fecha os olhos quando cidadãos de Hong Kong chegam sem documentos ou o visto necessário. Com a pandemia  as viagens de avião complicaram-se, mesmo para os que não têm os passaportes confiscados, e surgiu a opção da viagem marítima. Oficialmente, este é o primeiro grupo a ser preso na tentativa de chegar à ilha.

Todos são suspeitos de cometerem crimes relacionados com a sua participação nos protestos anti-governamentais do ano passado. Dez já tinham sido acusados de crimes violentos, incluindo ataques à polícia, distúrbios ou posse de explosivos, e estavam em liberdade sob fiança e impedidos de abandonar Hong Kong quando tentaram a fuga.

Sabe-se que pelo menos um dos membros do grupo, identificado pelo site Hong Kong Free Press como o activista Andy Li, é suspeito de “conspiração com forças estrangeiras”, um dos crimes da polémica lei de segurança nacional, imposta por Pequim e aplicada desde Junho. Para crimes como este estão previstas condenações que podem ir até à prisão perpétua.

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