Um festival para discutir saúde mental através de cinema, música, dança e conversas

A quarta edição do Festival Mental traz a Lisboa, entre 30 de Setembro e 9 de Outubro, uma programação dedicada a quebrar estigmas através da arte e cultura.

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O Som (The Sound), filme cipriota e realizado por Antony Petrou, foi o vencedor no M-Cinema: Mostra Internacional de Curtas Metragens, que integra o festival Antony Petrou

É a quarta edição e o objectivo continua ser quebrar estigmas, dar visibilidade e manter aberta a conversa entre “absolutamente toda a gente” sobre a saúde mental. O Festival Mental regressa a Lisboa entre 30 de Setembro e 9 de Outubro com uma programação, assim, como o próprio ano, “inevitavelmente” marcada pela pandemia, como descreve ao PÚBLICO a directora e curadora Ana Pinto Coelho.

O evento traz cinema, música, dança, teatro, literatura, debates e conversas temáticas, sempre com a saúde mental como mote.

O arranque é feito com o debate “Pandemia: do real ao digital” no Cinema São Jorge, esta quinta-feira (30 Setembro). O tema da saúde digital é “muito querido” à organização, aponta Ana Pinto Coelho, e o chamado M-Debate vai ao encontro dos temas das fake news e da avalanche do digital durante o confinamento”, num evento gratuito e aberto às questões do público presente.

A directora do festival sublinha que “nunca se quis distanciamento social, mas sim distanciamento físico” e considera que “a internet foi uma pedra basilar” para que “as pessoas mantivessem alguma sanidade mental”.

O epicentro do evento produzido pela Safe Space Portugal com co-produção do Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção Geral de Saúde são as M-talks, uma série de três painéis temáticos sobre assuntos relacionados com a saúde mental e que são sempre acompanhados com a projecção de uma longa-metragem.

A ansiedade, a toxicodependência e o stress pós-traumático são os temas de discussão nos dias 2, 3 e 4 de Outubro no Cinema São Jorge. E a sua escolha também não foge à pandemia. “Da ansiedade, vamos falar um bocadinho por causa do confinamento, da pandemia e de tudo o que se passou de completamente atípico a todos os níveis durante este ano”, começa por explicar a directora e curadora, que também é terapeuta na área das dependências químicas e do comportamento.

Ana Pinto Coelho salienta a importância de se abordar o tema do stress pós-traumático, que “ainda está erradamente ligado a uma ideia de guerra e de afectar sobretudo os homens”, já que considera que “muita gente em Portugal começará a ter sintomas de stress pós-traumático” nos “próximos meses” devido “ao confinamento e aquilo que passou durante a pandemia e a realidade que deixou”. “Houve pessoas que até tiveram uma reacção minimamente tranquila, mas só daqui a uns meses é que vão realmente perceber o que exigiram de si próprios para conseguir estar bem durante aquela fase”, remata.

Uma vez que “a comunicação social é absolutamente imprescindível”, já que “não se combate estigma nem se comunica saúde mental sem a imprensa”, os debates vão ser moderados por jornalistas.

Em destaque está também o M-Cinema: Mostra Internacional de Curtas-Metragens, entre 2 e 4 de Outubro no Cinema São Jorge, com 19 filmes de países entre Portugal, Estados Unidos, Argélia, Japão e Austrália, sendo a saúde mental o tema transversal entre os títulos de ficção, animação e documentário. A selecção dos filmes passa por um júri com especialistas em saúde mental, para que “haja credibilidade de uma ponta à outra da programação do festival”, elabora Ana Pinto Coelho.

Para captar os mais novos, há filmes e teatro dedicados a “mostrar às crianças que é OK terem emoções, é OK estarem tristes e é OK não estarem OK”. A programação para esse público foi desenhada com “trabalho de terreno, de pesquisa, de investigação” junto de “crianças, adultos, professores e profissionais ligados à educação”. “Não se constrói uma boa saúde mental sem se começar de pequeno”, vinca a directora.

A programação é completada por uma performance de dança “Acontece”, interpretada por pessoas com histórico de doença mental, pelo lançamento do livro Cartas do Confinamento de 16 de Março a 1 de Maio, de Tiago Salazar e Frederico Duarte Carvalho, no Espaço Atmosfera M Lisboa, e é encerrada em concerto por Surma e Katia Guerreiro, na Fábrica Braço de Prata, que “vão falar de um episódio menos bom da sua vida e cantar temas que ajudaram a passar essa fase”.

Os bilhetes já estão à venda no Cinema São Jorge e têm 10% de desconto as pessoas a partir dos 65 anos ou com menos de 25, assim como desempregados.

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