Quando as marionetas questionam os limites do humano

Festival Internacional de Marionetas do Porto decorre de 9 a 18 de Outubro. Em tempo de pandemia, o programa quer desafiar a pensar o mundo das coisas de uma perspectiva diferente.

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Kamp, da companhia Hotel Modern, abre o festival Herman Helle
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A primeira visita da companhia holandesa Hotel Modern relembra-nos o Holocausto Herman Helle
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"Cratère 6899", performance de Gwendoline Robin encerra o alinhamento do festival jean-Philippe Buffereau

No cartaz do próximo Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP’20), de autoria de Edgar Silva, um “exército” de frascos de gel lembra-nos o tempo em que estamos a viver, e em que a 31.ª edição do evento vai decorrer (de 9 a 18 de Outubro). Mas ir assistir aos 13 espectáculos e um concerto-performance que farão o festival “é seguro e, mais do que isso, é saudável”, reclama o director do festival, Igor Gandra, na apresentação do programa.

Numa edição que será a Parte 1 de um projecto que se propõe abordar os Limites do Humano — “e desafiar a pensar o mundo das coisas de uma perspectiva diferente”, nota Gandra —, o FIMP’20 vai também confrontar o espectador com os sinais preocupantes do mundo actual, para lá da pandemia, a nível social e político, logo com o espectáculo de abertura, Kamp (2005), do Hotel Modern (Teatro Carlos Alberto, dias 9 e 10). Na sua primeira visita ao festival do Porto, a companhia holandesa faz-nos recordar o Holocausto, um facto histórico que — realçou Igor Gandra na apresentação, esta quarta-feira, no Teatro Rivoli — “tem um grande peso simbólico e, infelizmente, parece voltar a ter uma actualidade muito grande”, daí que considere “urgente e incontornável” ver a criação do Hotel Modern.

Outro acontecimento do FIMP’20, a fechar o alinhamento dos espectáculos, será Cratère 6899 (Rivoli, dia 18), uma performance de Gwendoline Robin a questionar as relações entre o corpo humano e a matéria cósmica. Neste trabalho que resulta também do encontro com o astrónomo Yaêl Naze e o oceanógrafo Bruno Delille, a artista belga abre uma “brecha” na nossa relação com o planeta.

Nas presenças internacionais no festival, o director destaca também Bad Translation, a assinalar o regresso ao Porto do espanhol Cris Blanco (Teatro Campo Alegre, dia 10), numa criação que, invertendo o modelo do trabalho actual, traduz o digital para o analógico, desafiando assim “os limites do humano”. Transfiguration chega agora pela primeira vez ao FIMP; é uma criação do francês Olivier de Sagazan, que, em palco, se transfigura numa escultura a ganhar vida própria (Rivoli, dia 10).

Uma estreia absoluta será a de O Cheiro dos Velhos, do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, em Cabo Verde, com encenação de João Branco a partir de um texto de Caplan Neves.

Outras primeiras apresentações no festival do Porto, este ano, serão as de Lilliput, “uma viagem através do ser humano” da bailarina espanhola residente em Portugal Alinhoa Vidal, a pensar no público mais pequeno (Teatro Campo Alegre, dias 16 a 18). E Troubles, de Agnès Limbos e da companhia belga Gare Centrale, com um Lobo Mau a atribular uma noite de núpcias em Nova Iorque.

Da dança para as marionetas

Nas estreias portuguesas, assinala-se a incursão do coreógrafo Joclécio Azevedo no mundo das marionetas, com a apresentação, depois de anunciada já na anterior edição do festival, de O que já não é e o que nunca foi (Palácio do Bolhão, dias 17 e 18). Trata-se de um trabalho realizado “a partir de rituais de pesquisas em torno do tempo, da sua ocupação, suspensão e condensação”, diz o programa.

Também em estreia estará Fibra (Rivoli, dias 17 e 18), projecto de Lola Sousa e Filipe Moreira, vencedor da 4.ª edição da Bolsa de Criação Isabel Alves Costa, numa parceria do FIMP com as Comédias do Minho, e que Magda Henriques, da direcção artística desta companhia, apresentou no Rivoli como “uma experiência sobre as potencialidades plásticas do figurino em relação com o corpo”.

No calendário dos espectáculos, o FIMP’20 é completado com a criação da Alma d’Arame + Companhia João Garcia Miguel O Fim do Fim (Teatro Helena Sá e Costa, dia 11); Lições de Vôo, do Teatro de Marionetas do Porto (Teatro Carlos Alberto, dia 14); Uma Coisa Longínqua, um filme-performance do Teatro de Ferro, com direcção artística de Igor Gandra (Teatro Campo Alegre, dia 15); e a habitual apresentação de Dom Roberto, aqui na revisitação dos Limite Zero desta tradição popular dos fantoches (Estação da Trindade do Metro do Porto, dia 11; e Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, dia 18).

Já o concerto-performance que completa o programa dos espectáculos tem por título Ealing Feeder e é uma criação de música onírica da compositora inglesa Sarah Angliss (Círculo Católico dos Operários do Porto, dia 14).

Como habitualmente, mas desta vez adaptando-se aos condicionamentos da pandemia de covid-19, o festival contará também com workshops, masterclasses (dirigidas por Gwendoline Robin e por Agnès Limbos). E também com o lançamento do livro Teatro de Marionetas e Formas Animadas: Teorias e Práticas, com coordenação de Miguel Falcão e Catarina Firmo, que Mário Moutinho apresentará no Mira Fórum (dia 13).

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