Portugal e Países Baixos assinam acordo que prevê exportação de hidrogénio

Memorando de entendimento inclui criação de uma rota comercial de hidrogénio verde entre os portos de Sines e Roterdão.

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O secretário de Estado da Energia, João Galamba, e o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes Nuno Ferreira Santos

Os governos de Portugal e dos Países Baixos assinaram esta quarta-feira um memorando de entendimento com o qual afirmam a “intenção de ligar os planos de hidrogénio” dos dois países, desenvolvendo “uma cadeia de valor estratégica de exportação-importação” de hidrogénio verde.

Em comunicado, o Ministério do Ambiente da Acção Climática (MAAC) anunciou que o acordo que o ministro João Pedro Matos Fernandes assinou com o ministro dos Assuntos Económicos e da Política Climática dos Países Baixos, Eric Wiebes, vai garantir “a produção e o transporte de hidrogénio verde de Portugal para os Países Baixos”, através dos portos de Sines e de Roterdão.

“Portugal e os Países Baixos reforçam, assim, a cooperação bilateral no domínio da energia” e “comprometem-se em dar mais um passo na sua ambição de contribuir para o desenvolvimento do hidrogénio verde na Europa”, lê-se no comunicado.

Trata-se da formalização de um acordo que já havia sido anunciado no final do ano passado.

Os dois Estados “reconhecem a importância crescente que os gases renováveis, em particular o hidrogénio verde, irão desempenhar na descarbonização da Europa” e nessa medida irão promover e incentivar a “cooperação institucional, para ajudar a desenvolver cadeias de abastecimento para a exportação de hidrogénio verde”.

O comunicado refere que “um primeiro passo será dado unindo esforços” para a candidatura a “um Important Project of Common European Interest (IPCEI) para o hidrogénio”, no qual os projectos de exportação têm grande potencial, o que inclui o “projecto âncora” que o Governo quer desenvolver em Sines e as actividades no Porto de Roterdão, o maior porto marítimo da Europa.

A “cooperação reforçada” entre os dois Estados irá “contribuir para os objectivos climáticos da UE, combinando competitividade e sustentabilidade com um forte compromisso político na criação de um verdadeiro mercado internacional do hidrogénio, com regras de mercado que tornem a exportação de hidrogénio uma realidade”, acrescenta o comunicado.

Transporte por gasoduto é a “opção mais barata”

Num documento que divulgou em Abril, sobre a sua estratégia para o hidrogénio, o Governo holandês admite a possibilidade de desenvolver “potenciais relações de importação com países que possam aparecer como potenciais exportadores líquidos de hidrogénio limpo, como Portugal”. Mas também firma a ambição do país em tornar-se ele próprio um grande produtor de hidrogénio limpo.

Nessa medida destaca algumas parcerias com os Estados vizinhos. Por exemplo, os Países Baixos estão a estudar com a Alemanha de que forma é que a estratégia de ambos para a energia eólica offshore (cujos custos de produção se espera que se aproximem nos próximos anos do custo do solar) poderá ajudar a massificar a produção de hidrogénio.

Esta produção poderá depois ser utilizada pela indústria holandesa e alemã através da rede de gasodutos existente, refere o documento.

Adiantando que as condições para o crescimento do futuro mercado do hidrogénio vão ser criadas no período até 2025, o Governo holandês assinala que a produção interna poderá realizar-se com recurso a grandes electrolizadores (produção com electricidade renovável) e com instalações que façam captura de carbono de hidrogénio de origens fósseis (gás natural).

“Os países com produção barata de energia solar vão focar-se nas exportações de hidrogénio e os Países Baixos podem continuar a actuar como um hub energético devido à sua localização favorável, aos seus portos e à sua extensa rede de gasodutos e infra-estrutura de armazenagens”, lê-se no documento.

Acrescenta-se que “o transporte de hidrogénio pelo país e pela Europa através da rede de gasodutos será a opção mais barata” e que a procura deste gás estará concentrada nas zonas industriais, no aquecimento de edifícios em algumas zonas do país e em estações de abastecimento para transporte.

Governo quer “revitalizar” indústria naval

As futuras exportações portuguesas deverão fazer-se por mar. De acordo com a estratégia nacional para o hidrogénio, aprovada pelo Governo este Verão, o projecto de Sines, onde vão participar empresas como a EDP e a Galp, será central para a produção e exportação deste gás renovável produzido a partir de electricidade renovável.

O executivo acredita que a possibilidade de exportação de hidrogénio a partir de Sines para o Norte da Europa permitirá também “revitalizar a indústria naval” e aumentar “a dinâmica económica da rede portuária” nacional.

A indústria naval “será fundamental para o desenvolvimento, fabrico, instalação, manutenção e reparação de equipamentos (navios) e infraestruturas de transporte e exportação de hidrogénio”, refere a estratégia nacional para o hidrogénio, publicada em Agosto.

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