Mistério desvendado no Botswana: morte de centenas de elefantes deveu-se a toxinas na água (e aquecimento global)

Aquele que foi considerado um “desastre de conservação” no Botswana está finalmente explicado — pelo menos em parte. Não se sabe ainda por que razão é que o fenómeno está a atingir apenas elefantes.

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Reuters/STRINGER

Desde o início de Maio, 330 de elefantes morreram na região do delta do Okavango, no Botswana, por razões desconhecidas. As fotografias das carcaças, encontradas perto de fontes de água, impressionaram o mundo. As autoridades descartaram a caça furtiva e o antraz, desconfiavam de um novo vírus ou envenenamento, mas a causa deste extermínio em massa, descrito como um “desastre de conservação”, continuava a ser um mistério. Até agora: esta segunda-feira, 21 de Setembro, as autoridades de conservação da natureza do Botswana revelaram que as mortes terão sido causadas por uma neurotoxina produzida por microrganismos chamados cianobactérias.

Estes microrganismos podem ser encontrados na água, mas também podem surgir no solo. Algumas destas cianobactérias podem produzir toxinas que prejudicam o fígado ou o sistema nervoso de animais e seres humanos. Também conhecidas como algas azuis, estas cianobactérias obtêm energia por fotossíntese, ou seja, usam a luz do sol para se manterem.

Cyril Taolo, director-adjunto do departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais do Botswana, afirmou em conferência de imprensa que a única informação possível de confirmar neste momento é que as mortes foram causadas por uma toxina produzida por uma cianobactéria. O “tipo específico de neurotoxina”, contudo, ainda não foi identificado.

As autoridades do Botswana estarão atentas aos fenómenos de eflorescência (ou bloom) algal — quando as cianobactérias proliferam — na próxima estação de chuvas, não havendo indícios de ameaças para a vida dos animais neste momento. As mortes que lançaram o alarme entre os ambientalistas ocorreram, maioritariamente, entre Maio e Julho.

Outros animais da região de Okavango Panhandle não terão sido afectados pelas toxinas nocivas das cianobactérias. O chefe do departamento de veterinária da entidade oficial, Mmadi Reuben, afirmou que “ainda há muitas questões por responder, tais como por que é que acontece apenas aos elefantes e porquê apenas naquela área”. “Estamos a investigar várias hipóteses”, disse, citado pelo jornal Guardian.

À agência Reuters, cientistas afirmam que a produção deste tipo de toxinas tem ocorrido de forma mais frequente à medida que as alterações climáticas têm feito aumentar as temperaturas globais, incluindo da água, criando ambientes onde estas cianobactérias florescem. “Reunem-se as condições certas, no tempo certo, na hora certa, para estas espécies proliferarem”, afirmou à agência Patricia Glibert, professora do Centro para as Ciências Ambientais da Universidade de Maryland, que estuda cianobactérias. 

De acordo com o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, que tem fornecido dados para monitorizar o Acordo de Paris, as temperaturas da África Austral estão a a subir duas vezes mais do que a média do planeta.

No início de Julho, as autoridades do Botswana e organizações não-governamentais do país africano anunciaram a morte de centenas de elefantes na região turística do delta do Okavango, suspeitando de uma doença misteriosa. Também no país vizinho Zimbabué foram encontradas cerca de 25 carcaças de elefantes, com as autoridades a acreditarem que as mortes tinham sido causadas por uma infecção bacteriana.

A população de elefantes em África tem diminuído devido à caça furtiva, mas no Botswana os números estavam a aumentar: ali habitam cerca de 130 mil elefantes, cerca de um terço do total do continente.

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