Suspeitas de fraude e China pressionam o maior banco britânico, o HSBC

Revelações dos FinCEN Files levantam suspeitas de lavagem de dinheiro. Em Pequim, o maior banco britânico é visto como uma ameaça à segurança nacional.

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Pequim poderá classificar o HSBC como instituição financeira não confiável LUSA/JEROME FAVRE

O maior grupo bancário britânico está sob pressão internacional. Depois do escândalo SwissleaksHSBC vê a sua reputação em cheque por novas suspeitas por falta de controlo da lavagem de dinheiro.

A instituição financeira viu nesta segunda-feira os seus títulos recuarem na Bolsa de Hong Kong para um valor mínimo em 11 anos, à boleia de dois acontecimentos do fim-de-semana: a ameaça de Pequim de travar a expansão do banco na China e as suspeitas de fraude que pairam sobre o banco, reveladas no domingo numa nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa).

Em bolsa, os títulos do HSBC recuaram 3,4%, ficando no valor mais baixo desde Abril de 2009 e chegando a cotar-se nos 29,6 dólares durante a sessão. De acordo com a Bloomberg, os títulos já recuaram 51% este ano, para o valor mais baixo em 25 anos (1995).

Por um lado, o banco britânico vê ameaçado o seu plano de expansão na China depois de o jornal Global Times, ligado ao Partido Comunista Chinês, ter escrito que o HSBC está na lista de bancos que Pequim admite classificar como instituição financeira não confiável, por representar uma ameaça à segurança nacional chinesa.

À notícia de sábado juntou-se uma outra no domingo: a constatação de que o banco facilitou a concretização de uma fraude de investimento estimada em 80 milhões de dólares (67,6 milhões de euros ao câmbio actual) através de transferências do seu negócio nos Estados Unidos para a unidade de Hong Kong em 2013 e 2014. As actividades suspeitas ocorreram já depois de o HSBC ter sido alvo de uma multa de 1900 milhões de dólares (1600 milhões de euros) nos Estados Unidos por operações de lavagem de dinheiro.

Se há mais de dez anos foi uma fuga de informação no HSBC que deu origem às revelações dos famosos Swissleaks em 2015 e expôs o papel do banco na gestão de grandes fortunas na Suíça ocultadas às autoridades tributárias de muitos outros países, desta vez, as revelações financeiras do consórcio internacional de jornalistas voltam a visar o mesmo banco, e muitos outros, levantando o véu sobre como organizações criminosas usam o sistema financeiro internacional para realizar operações suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.

Os FinCEN Files, nome pelo qual é conhecida a nova vaga de documentos, condensam uma fuga de informação obtida pelo BuzzFeed News que depois foi partilhada com o ICIJ, fórum do qual o Expresso faz parte. Ao todo, são mais de mais de 2600 documentos e a esmagadora maioria refere-se a relatórios entregues pelos bancos às autoridades norte-americanas com a descrição de actividades suspeitas no que toca ao branqueamento de capitais. Nos Estados Unidos, a organização norte-americana que analisa essa informação e que está incumbida de promover a segurança nacional através da coordenação estratégica de autoridades financeiras é o Financial Crimes Enforcement Network (FinCEN), nome que dá origem à nova vaga de revelações.

Os FinCEN Files mostram que o HSBC Holdings Plc facilitou transacções suspeitas com bancos em pelo menos nove territórios — a China, Taiwan, Índia, Alemanha, Bélgica, Chipre, Mónaco, Costa Rica e Baamas. Abalado primeiro com os Swissleaks e, agora, com as novas suspeitas, o banco reagiu dizendo que desde 2012 lançou uma estratégia para “combater o crime financeiro em mais de 60 jurisdições”.

Os FinCEN files contêm ficheiros sobre outros grandes bancos e grandes entidades da área financeira europeias e norte-americanas, como o Wells Fargo & Co., o Citigroup, o Apollo Bank, o Deutsche Bank, o Commerzbank, o Barclays, o ING Belgium, o Bank of America.

Nos documentos foram identificadas 120 transacções suspeitas relacionadas com Portugal envolvendo o envio de 86,6 milhões de dólares (73,2 milhões de euros). O ICIJ cita alguns exemplos de entidades portuguesas sobre os quais a agência norte-americana de controlo da lavagem de dinheiro tinha informação: o BES e a sua antiga Sucursal Financeira Exterior (SFE) na Zona Franca da Madeira, o Bic Portugal (actual Eurobic) e a Caixa Central de Crédito Agrícola.

O Expresso revela que a empresária angolana Isabel dos Santos e o marido, o empresário Sindica Dokolo, estão entre os clientes bancários que foram alvo de relatórios sobre actividades suspeitas (em 2013).

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