Covid-19: com mais de 90 mil casos e mil mortes por dia, Índia pode ultrapassar EUA nas próximas semanas

Índia tornou-se no segundo país com mais casos de coronavírus na semana passada, ultrapassando o Brasil. Novas infecções não dão sinais de abrandar e os especialistas acreditam que o número de mortes no país poderá ser muito superior aos dados oficiais.

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Mulher de 100 anos recuperou depois de ter estado internada com covid-19 em Guwahati EPA

Depois de ter ultrapassado a barreira dos cinco milhões de casos de coronavírus na terça-feira, o número de novas infecções diárias na Índia continua a subir exponencialmente e não dá sinal de abrandar, sendo expectável que nas próximas semanas o país ultrapasse os Estados Unidos. 

Nas últimas 24 horas, segundo o balanço do Governo indiano, foram registados mais 96.424 novos casos e 1174 mortes devido à covid-19, uma tendência que se tem verificado na última semana, com o número de novas infecções sempre acima das 90 mil. Nos Estados Unidos, por outro lado, nas últimas 24 horas registaram-se mais de 44 mil casos e 900 mortes. 

Desde o início da pandemia, a Índia registou mais de 5,2 milhões de infecções e 84 mil mortes, enquanto os Estados Unidos têm mais de 6,6 milhões de casos e 198 mil mortos. 

Esta sexta-feira, o ministro da Saúde indiano, Hash Vardhan, revelou que 78% dos infectados com coronavírus já recuperaram, estando, neste momento, cerca de um milhão de casos activos no país, 60% deles concentrados em cinco dos 28 estados indianos: Maharashtra, Kanataka, Andhra Pradesh, Tamil Nadu e Uttar Pradesh.  

Apesar de ser o segundo país com maior número de infecções e o terceiro com o maior número de mortes (a seguir a Estados Unidos e Brasil), a Índia, segundo os números apresentados pela BBC, regista uma taxa de mortalidade de 1,6%, um valor inferior aos 3% registados nos Estados Unidos ou aos 11% do Reino Unido, o que, segundo os epidemiologistas pode ser explicado, em parte, pela população jovem do país.

Estes números têm sido apresentados pelo Governo indiano como uma prova do seu sucesso na gestão da pandemia, justificando assim a decisão do primeiro-ministro Narendra Modi de levantar algumas medidas de restrição para dar impulso à economia, depois de o país ter entrado num rigoroso confinamento em Março, que acabou por não se revelar eficaz, uma vez que mais de três milhões de trabalhadores migrantes ficaram sem trabalho e sem casa nas grandes metrópoles e regressaram às suas localidades de origem, aumentando o contágio.

Subestimar as mortes

Mas, se por um lado o elevado número de novas infecções, que há mais de uma semana tem estado na média diária de 90 mil novos casos, pode ser explicado por um grande aumento no número de testes – são feitos mais de um milhão por dia –, por outro, os especialistas acreditam que o número de mortes possa ser muito superior aos números oficiais.

“Nós estamos a subestimar as mortes”, disse à Associated Press Jacob John, um virologista reformado, apontando para a falta de coesão entre estados na forma de contabilizar os óbitos causados por covid-19.

Apesar das orientações do Governo irem no sentido de todas as mortes por covid-19 serem registadas, incluindo os casos suspeitos, muitos estados não cumprem as indicações. No estado de Mahrashtra, o mais afectado no país, com mais de um milhão de infecções, as mortes suspeitas não entram na contagem oficial.

Noutros estados, como em Assam, é feita uma separação entre o que são consideradas os óbitos reais causadas pela covid-19 e as que se devem a outras comorbilidades, o que faz com que mortes de pessoas infectadas com coronavírus possam ficar fora das listas oficiais.

Foi o que aconteceu com Narayan Mitra, que morreu no passado dai 16 de Julho, depois de dar em entrada num hospital em Assam devido a febre e dificuldades respiratórias. A sua morte, no entanto, foi atribuída uma doença neurológica, apesar de um teste posterior ao coronavírus ter confirmado que Mitra, tal como o seu filho e outros quatro familiares, estiveram infectados com SARS-CoV-2.

Além disso, muitos indianos morrem em casa, e não nos hospitais – que estão cheios –, e nem sempre os médicos estão presentes para reportar a causa da morte, uma realidade mais comum nas áreas rurais, onde o coronavírus se está a espalhar.

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