Director do Teatro D. Maria II considera “ridículo” o apoio à cultura em Portugal

Em vésperas da estreia de Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, Tiago Rodrigues diz que está em causa “um serviço público consagrado na Constituição e no qual não há investimento público”. “Não precisávamos da pandemia para ser óbvio que em Portugal é preciso apoiar mais a cultura”, sublinha.

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LUSA/JOSE COELHO

O director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, diz que o financiamento à cultura em Portugal é “da ordem do ridículo” e defende que é altura de o Governo “finalmente apoiar qualquer coisa” no sector.

Em Guimarães, à margem de um ensaio da peça Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, Tiago Rodrigues sublinhou que, mais do que um apoio, em causa está “um serviço público consagrado na Constituição e no qual não há investimento público”.

“Não precisávamos da pandemia para ser óbvio que em Portugal é preciso apoiar mais a cultura. Ou melhor, que é preciso finalmente apoiar qualquer coisa na cultura. A pandemia veio apenas levantar o véu, revelar alguns problemas”, referiu.

Para o encenador, os números dos apoios à cultura em Portugal, quando comparados com qualquer outro país europeu, “são da ordem do ridículo”. “Não se trata de um apoio, trata-se de garantir um serviço público que está consagrado na Constituição e no qual não há investimento público. Seria como praticamente não haver hospitais ou como praticamente não haver escolas. É da ordem do escândalo e é ridículo”, reforçou.

Tiago Rodrigues disse também que a forma como o público está a regressar ao teatro e como “mostrou avidez” por estar nas salas em contacto com os artistas “é um alerta para os senhores decisores políticos de que o eleitorado considera a cultura fundamental para a sua qualidade de vida e para a saúde democrática”.

“Mas nós estamos na pré-história disso. Podia ser um alerta eventualmente na Alemanha e na França, para que as coisas melhorem um bocadinho e se dê um bocadinho mais de atenção. Em Portugal, é um alerta para que se dê finalmente alguma atenção a um sector que tem sido muito, muito negligenciado”, acrescentou.

O director artístico acredita que a “visibilidade” que o sector da cultura tem na comunicação social “acaba por mascarar” a sua precariedade. “Temos muita visibilidade pública, mas isso não se traduziu ainda numa alteração fundamental da forma como o Estado defende o direito constitucional de acesso à cultura e produção artística.”

A peça Catarina e a Beleza de Matar Fascistas estreia-se este sábado no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. No domingo, a peça volta a subir ao palco no mesmo espaço. Ambas as sessões têm já lotação esgotada. Segue depois para palcos de Suíça, França e Itália, em digressão, regressando a Portugal, designadamente ao Porto, em Fevereiro de 2021. Só em Abril de 2021 é que será apresentada em Lisboa.

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