Não usar máscaras nas escolas: o exemplo do Reino Unido

Neste palco global onde todos os países são actores da mesma peça, não é compreensível a falta de adereços da parte do actor britânico quando se colocam em jogo as vidas de milhões de crianças mais os adultos em redor.

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LUSA/KATIA CHRISTODOULOU

No Reino Unido, as aulas começaram há pouco mais de uma semana. O vírus? Está em Newport, País de Gales, e todos os alunos do 7.° ano de uma escola de quarentena depois de um dos seus colegas ter testado positivo.

Está em Dorset, mais precisamente em quatro escolas com casos confirmados entre professores e alunos. E em Kent, ou não estivessem todos os alunos de uma escola primária em casa depois do padecimento de vários dos seus colegas.

E em oito escolas de Surrey, Sul de Inglaterra. E numa escola primária de Edimburgo depois de um membro da escola testar positivo. E em Liverpool depois do fecho de mais uma escola primária. E em duas escolas de Londres. E, e, e... e a procissão ainda nem sequer está no adro. 

No Reino Unido não é obrigatório o uso de máscaras nas escolas. Porquê? A resposta é tão surreal como o cenário onde dedicamos os nossos dias, para não dizer a saúde e a vida, cenário esse onde o uso de máscaras não é somente não obrigatório, é também desincentivado:
1) para não causar pânico entre crianças, pais e demais comunidade, escolar e não só;
2) porque as crianças são menos susceptíveis de contrair a forma mais grave do vírus, até contraírem, e entretanto dissemina-se a doença;
3) porque as crianças não têm a capacidade, mas têm, para usar a máscara de forma segura, assim passando um atestado de incompetência às gerações mais jovens bem como aos professores, aparentemente incapazes de ensinar ao outro o uso deste meio de protecção;
4) por ser preciso fazer de conta estar tudo bem em nome de um regresso à normalidade, mesmo não estando tudo bem, mesmo se os números e os casos diários não param de subir sem se saber muito bem de onde, nem por quem, num processo em tudo semelhante a tantos países congéneres.

Neste palco global onde todos os países são actores da mesma peça, não é compreensível a falta de adereços da parte do actor britânico quando se colocam em jogo as vidas de milhões de crianças mais os adultos em redor, começando nos pais, passando pelos avós e a acabar nos professores. 

Ao mesmo tempo faltam kits de teste nas zonas mais afectadas, obrigando o cidadão comum e possivelmente infectado a viajar centenas de quilómetros para centros com testes ainda disponíveis. No Parlamento, o Ministro da Saúde anuncia milhões de testes diários depois do Natal e o Parlamento responde dos dois lados da bancada em gargalhadas.

Se os britânicos já não têm a app de despiste prometida, se a vacina também prometida não é certa, não há como acreditar em mais uma solução milagrosa. Por estas razões, e por uma questão de bom senso, o uso de máscara nas escolas, nos locais de trabalho, nos espaços comerciais e de lazer não deve ser apenas essencial, mas obrigatório.

Infelizmente, não é. É apenas recomendado em espaços comuns entre corredores e átrios, durante o intervalo ou nas horas de almoço. Obrigatório só mesmo nos transportes públicos e fora das escolas em espaços fechados como lojas, museus e espaços públicos, num mundo a correr em paralelo, onde as escolas não contam como espaço de risco até prova em contrário.

É uma questão de tempo. É um desastre à nossa espera na próxima curva. Os carros diante de nós estão enfaixados uns nos outros e os sobreviventes acenam em desespero ao mesmo tempo que todo um país põe o pé no acelerador.

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