Metade dos portugueses confia em vacinas, menos que outros países

Dados de Dezembro de 2019 indicam que 50,2% dos portugueses confiam na segurança das vacinas e 54,94% acreditam na sua eficácia, números baixos mas em linha com o resto da Europa. Quase 70% consideram que a imunização é importante, diz estudo publicado pela revista The Lancet.

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Em comparação com 2015, em Dezembro de 2019 os portugueses confiavam mais nas vacinas Marco Duarte

Cerca de metade dos portugueses confia na segurança e eficácia das vacinas, um número relativamente baixo, à semelhança do resto da Europa, em comparação com outras regiões, segundo um estudo divulgado esta quinta-feira.

A revista científica The Lancet publicou os resultados da última edição do projecto “Vaccine Confidence", da London School of Hygiene & Tropical Medicine, que analisou e comparou dados de 2015 e 2019 de vários inquéritos nacionais em 149 países sobre o nível de confiança das pessoas nas vacinas, em relação à sua segurança, eficácia e importância.

Para Portugal, os investigadores estimam que 50,20% das pessoas confia na segurança das vacinas, um número que sobe para 54,94% quando se avalia a eficácia.

Em comparação com 2015, em Dezembro de 2019 os portugueses confiavam mais nas vacinas, registando-se uma diferença de 12 pontos percentuais em relação à segurança e 14 pontos percentuais em termos de eficácia.

Nos dois campos, o país está ligeiramente acima da média da União Europeia onde, segundo os resultados, a confiança na vacinação continua baixa em comparação com as outras regiões: países como o Uganda, Bangladesh, Índia ou Burundi estão entre aqueles que mais confiam.

À semelhança de Portugal, também na Europa a tendência parece ser para confiar cada vez mais, mas os investigadores destacam alguns países onde, por outro lado, são a desconfiança e a oposição que tendem a crescer, como o Azerbaijão, Afeganistão, Paquistão ou Sérvia, reflectindo os climas de instabilidade política e extremismo religioso.

Os investigadores também associam os baixos níveis de confiança à desinformação, considerando que essa é uma das principais ameaças à resiliência dos programas de vacinação.

“Por vezes, há um risco genuinamente pequeno que é rapidamente difundido e amplificado para parecer muito maior”, afirmou Heidi Larson, a investigadora que liderou o estudo, referindo também a polarização do debate público e a desconfiança em relação ao governo e às elites científicas.

Além da segurança e da eficácia das vacinas, o estudo olha também para a opinião das pessoas em relação à importância da vacinação e aqui a maioria dos países parece considerar que as vacinas, mais que eficazes e seguras, são importantes.

“Os nossos resultados sugerem que as pessoas não descartam necessariamente a importância da vacinação nas crianças, mesmo que tenham dúvidas sobre quão seguras são”, explicou outra investigadora, Clarissa Simas, acrescentando que, por isso, a comunidade científica tem de “fazer melhor” para melhorar os níveis de confiança.

Portugal não é excepção e se cerca de metade dos portugueses confia na segurança e eficácia das vacinas, a percentagem estimada de portugueses que em 2019 consideravam que a imunização é importante era de 69%, à semelhança de 2015.

Considerando o contexto actual da pandemia da covid-19, os investigadores sublinham que a necessidade de acompanhar a opinião da população em relação à vacinação é ainda maior, para que seja possível responder de forma rápida a eventuais quebras na confiança pública.

“É vital, com a ameaça de novas doenças como a covid-19, que monitorizemos regularmente atitudes públicas para identificar rapidamente países e grupos com um declínio na confiança, para que possamos ajudar a orientar onde é preciso criar confiança e optimizar o recurso a novas vacinas”, defendeu Heidi Larson.

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