Novo Banco não analisou conflito de interesses na venda do BESI e do BES Vénétie

Alienações realizadas em 2014 e 2018 são exemplo dados pela Deloitte no relatório hoje divulgado pelo Parlamento, com muitos cortes

Foto
Miguel Manso

“A alienação do BESI em 2014 e dos BES V em 2018” são dois exemplos dados pela auditora Deloitte, no relatório que fez aos actos de gestão do BES/Novo Banco entre 2000 e 2018, como “processos de desinvestimento” da instituição financeira em que não foi feita a análise dos compradores pelo banco numa lógica de conflito de interesses.

O relatório disponibilizado pelo Parlamento no final da manhã desta terça-feira – que omite parte substancial da informação sobre grupos económicos que provocaram perdas ao banco – a Deloitte assinala essa omissão no capítulo dedicado às “subsidiárias e associadas”.  

“Verificou-se a inexistência de normativos internos para todo o período que regulassem a realização sistemática de uma análise das entidades compradoras que participaram em processos de desinvestimento, de forma a concluir acerca de eventuais riscos de branqueamento de capitais e de conflitos de interesse”.

E concretiza: “foram identificados processos de desinvestimento onde esta análise não foi efectuada, como são exemplo a alienação do BESI em 2014 e do BES V [ Banque Espírito Santo et de la Vénétie] em 2018”.

Contudo, a Deloitte sublinha que “as operações em questão foram sujeitas a aprovação pelas respectivas entidades supervisoras, nos termos da legislação aplicável para esse efeito, com base em informação disponibilizada pelo potencial comprador”.

A venda do BESI foi anunciada em Dezembro de 2014, já após a resolução de Agosto do mesmo ano, tendo sido concluída em Setembro de 2015, por 379 milhões de euros, à Haitong International Holdings.

O negócio do BES Vénétie (em França) foi comunicado em Setembro de 2018 e concluída a venda dos 87,5% que o Novo Banco detinha em Dezembro do mesmo ano, por um valor não identificado oficialmente na altura, “à Promontoria MMB SAS, sociedade constituída em França e subsidiária da Cerberus Capital Management”, segundo o comunicado ao mercado então.

No relatório, a Deloitte adianta sobre o BES Vénétie que o processo de venda fora relançado em 2017, “tendo o Novo Banco recebido três propostas não vinculativas e tendo o Novo Banco chegado a acordo com a Promontoria MMB (integrante do Grupo Cerberus), para alienar a participação no BES V por 48 milhões de euros em Maio de 2018”. E que a “participação do Novo Banco no BES V gerou uma perda global de 100 milhões de euros”.

Sugerir correcção