I Am Greta: sem “teorias da conspiração”, documentário mostra a activista como “realmente é”

Nathan Grossman começou a seguir uma adolescente preocupada pelo clima que, meses depois, inspirou um movimento global. Filme que “conta uma história que não é individual através de um indivíduo”, nas palavras de Thunberg, foi apresentado no Festival de Veneza. Deverá estrear-se em Portugal no Outono.

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I Am Greta aproxima-se, nas palavras da própria, da pessoa que a activista pelo clima realmente é, em oposição à forma como é representada nos meios de comunicação. O documentário original da Hulu foi apresentado esta sexta-feira, 4 de Setembro, no Festival de Veneza.

Em Agosto de 2018, o documentarista Nathan Grossman começou a seguir Greta Thunberg a pensar que estava a presenciar uma pequena história inspiradora para as eleições suecas. “Como estava enganado”, diz, dois anos depois de a activista que lhe chamou a atenção em Riksgatan se ter tornado numa das adolescentes mais famosas do mundo. 

“Foste bem sucedido a representar-me como sou e não como os meios de comunicação me representam: a criança irritada e inocente que se senta na Assembleia Geral das Nações Unidas a gritar com líderes mundiais. Essa não sou eu. Fizeste-me parecer uma pessoa mais tímida e nerdy, que é quem eu sou”, disse a jovem sueca na apresentação do filme, dirigindo-se ao realizador. Thunberg também mencionou as “teorias da conspiração” que alegam que a jovem não fala por si mesma e não escreve os próprios discursos. Acho que no filme se consegue ver que isso não é verdade e que decido tudo por mim mesma.” 

Apesar de protagonizar a maior parte das cenas, Greta ressalvou que o filme a que dá nome não era sobre ela. “Gostava de ser uma espécie de ponte para que as pessoas possam compreender melhor as alterações climáticas. Não é sobre mim: o filme simplesmente conta uma história que não é individual através de um indivíduo”, salientou a activista, a participar na conferência de imprensa através de uma chamada de vídeo. 

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A conferência de imprensa de I Am Greta, na 77.ª edição do Festival de Veneza. DR

Depois de um ano sabático dedicado a protestar, com algumas aulas à distância, a estudante de 17 anos voltou à escola na Suécia no final de Agosto. Esta é a 107.ª sexta-feira de greve à escola. “Isto é demasiada responsabilidade para crianças. Não deveríamos ter de ser nós a fazer isto. A responsabilidade deveria ser dos adultos, das pessoas em posições de poder e de quem causou este problema”, disse.

Durante a apresentação do documentário, repetiu o balanço que já tinha feito dos dois anos de activismo durante os quais se tornou Personalidade do Ano para a Time, em 2019, depois de ser candidata ao Prémio Nobel da Paz. “Ainda não tratámos a crise climática como uma crise”, reiterou, acrescentando que a pandemia de covid-19 mostrou que os líderes mundiais são incapazes de lidar com duas crises em simultâneo. Também por isso, Greta espera que o filme volte a criar momentum para a onda de protestos globais que desapareceu com as restrições impostas pela covid-19. 

O documentário da Hulu estreia-se a 13 de Novembro na plataforma de streaming norte-americana, que ainda não chegou a Portugal. A Midas Filme anunciou que irá estrear o filme nas salas de cinema portuguesas no Outono. Em Fevereiro de 2020, também a BBC anunciou que estava a filmar uma série documental sobre Greta Thunberg, desde “a cruzada internacional” pela emergência climática à “viagem até à vida adulta”. 

O 77.º Festival Internacional de Cinema de Veneza decorre de 2 a 12 de Setembro. “É muito simbólico apresentar o filme numa cidade como Veneza”, comentou, lembrando as cheias que alagaram 70% da cidade italiana em 2019, as piores desde há 150 anos, e que o presidente da câmara disse terem sido potenciadas pelas alterações climáticas. 

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