Carta Aberta aos responsáveis da Festa do Avante!

Os comerciantes do concelho, sobretudo na zona da Amora, apesar das muitas dificuldades e das pressões que têm sido feitas, decidiram quase maioritariamente fechar os seus estabelecimentos nos dias da Festa

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Pedro Fazeres

Exmos. Senhores Responsáveis pela Festa do Avante! (quer seja o próprio partido, quer seja quem autorizou a festa),

Como advogado, defensor de causas, ex-autarca durante mais de vinte anos e profundo conhecedor deste concelho, sendo que oito deles como vereador e quatro como vereador da Protecção Civil, portanto com um contacto próximo com a realidade da Festa do Avante!, para onde a Protecção Civil executava e aplicava o Plano de Segurança dessa festa, mas sobretudo como cidadão, trabalhador (tenho um escritório) e morador no Seixal, venho dirigir a presente Carta Aberta aos Responsáveis apelando a que desistam enquanto é tempo e simultaneamente avisá-los que se nada fizerem e os resultados forem os infelizmente esperados (agravamento dos casos) tomarei a iniciativa de apresentar no Ministério Público do Seixal (e sim, aí não há sede do PCP que os valha, porque nesse caso o crime seria cometido no Seixal) uma queixa-crime contra os responsáveis por esta festa pelo crime de Propagação de Doença, pois não é possível que as autoridades sanitárias e os responsáveis directos pela festa não consigam antecipar os perigos, prever o resultado e mesmo assim arriscarem. Se querem brincar com a saúde, aluguem uma ilha privada e vão todos para lá, mas não nos metam a nós em perigo.

Nada me move contra a Festa nas suas diferentes dimensões. Nem a politica, nem a cultural e associativa, nem qualquer um dos restantes propósitos que a festa alcança, mas compreendam, também nada me move contra os festivais de Verão, contra os Jogos Olímpicos, contra o Campeonato da Europa ou contra as cerimónias dos Óscares, bem pelo contrário e a verdade é que todos esses eventos foram cancelados ou alteraram os seus modelos, sendo este o único que não o fez. Essa é a questão. Não se façam de vítimas, não politizem uma questão que não é política.

Têm direito de fazer uma reunião política? Têm. Mas como os responsáveis pela Festa sempre apregoaram e sempre defenderam, esta não é unicamente uma Festa política – é muito mais do que isso. E todos o sabemos. O vosso Slogan – Não há Festa como esta – feliz, aliás, quer dizer mesmo isso. Mas o argumento que tem levado milhares de pessoas à Atalaia - Seixal (mais de 100 mil nos anos anteriores) é o melhor argumento para que este ano não haja festa – precisamente o ajuntamento previsto de pessoas e o tipo e estilo desta festa.

Nada me move contra o partido, nem contra o Governo, mas já não posso ficar indiferente e calado perante o perigo a que todos vamos estar sujeitos. O Seixal tem uma população de cerca de 160.000 habitantes, o que já a torna, de per si, uma zona permeável ao vírus, face à elevada densidade populacional. O Seixal integra a AML e é, em termos populacionais, o segundo concelho do distrito o que nos leva a pensar se não estarão criadas as condições para a tempestade perfeita, até porque os casos estão a subir de forma assustadora. Não posso por isso deixar de perguntar:

Aos 160.000 habitantes do Seixal querem juntar, em três dias, mais 30 a 40 mil pessoas? É que estas pessoas circulam pelo concelho. Colocando-se a si próprios e a todos a nós em risco. No caso dos “festivaleiros”, o risco é consciente, assumido e por isso é da sua responsabilidade, mas e a população do concelho? Quais as defesas que a população tem para fazer face a esta ameaça?

A população do Seixal vive há anos a reivindicar um hospital, servindo-se de um Hospital Garcia de Orta, já de si sobrelotado, pelo que é mais um argumento para que não se arrisque.

O Governo, antevendo o que aí vem de perigo, até já decretou o Estado de Contingência a partir de 15 de Setembro. Se o Governo prevê este aumento de casos, pactua com uma iniciativa que é potencialmente geradora de mais casos? E permite-o precisamente 10 dias antes do início da época escolar? Quanta irresponsabilidade…

Os comerciantes do concelho, sobretudo na zona da Amora, apesar das muitas dificuldades e das pressões que têm sido feitas, decidiram quase maioritariamente fechar os seus estabelecimentos nos dias da Festa. Porque será? Por medo, mais uma vez não se trata de ser contra a Festa, trata-se de ter medo das consequências de uma iniciativa que decorre indiferente à pandemia.

Nós, cidadãos do Seixal, temos medo de ver o nosso concelho invadido por milhares de pessoas, que atendendo ao histórico de frequentadores do Avante!, muitas delas jovens, com poucos cuidados, pouca consciência social (analisem-se os números da urgência do HGO dos anos anteriores e perceberão o que queremos dizer) e que vão em apenas três dias acrescentar pelo menos mais um terço à nossa já elevada densidade populacional, com a agravante de se fixar praticamente numa ou duas únicas freguesias (Amora e Seixal) pelo que exortamos aos responsáveis que repensem esta autorização: ainda vão a tempo de evitar males maiores e ganhar o nosso respeito e aplauso. O risco de realizar uma iniciativa complexa como a “Festa” neste contexto não compensa. O preço social e político a pagar por possíveis focos de contágio que venham a ser identificados é demasiado alto.

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