Esports: no Virtuaplay, toda a gente sabe jogar — nem que seja noutra realidade

O centro de jogos e entretenimento portuense reabriu num espaço com 300 metros quadrados e 20 postos de jogo, depois de se ter estreado na baixa. A realidade virtual é a aposta, bem como a criação de uma equipa de esports.

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Paulo Pimenta

Os zombies apareceram e, não nos engane a memória, sabemos que isso não augura nada de bom. Num cenário pós-apocalíptico, só nos resta escapar das garras destes seres mórbidos que se espalham e multiplicam por toda a parte: estão no telhado, no armazém, no descampado que se estende no nosso campo de visão. Boa! Há um elevador para escapar deste pesadelo — pelo menos por agora. O resto da aventura é para ser vivida numa das salas dedicadas à realidade virtual existentes no Virtuaplay, um espaço de jogos e entretenimento (e não só) situado no Porto.

Naquela área de jogo, com quatro postos, apenas o próprio tamanho da mesma pode restringir movimentos — e há espaço de sobra (49 metros quadrados de um total de 300) para esta e outras aventuras. A “total liberdade de movimentos” que a tecnologia free-roam permite é a premissa, bem como a completa imersão numa outra realidade. “Com esse pormenor de entrar no elevador, já assisti a situações hilariantes. Há pessoas que caem ou se desequilibram”, conta João Marques, 46 anos, um dos sócios-gerentes do Virtuaplay, que abriu em Março de 2019.

Depois de, inicialmente, se fixar na baixa portuense, mudou-se no final de 2019 para “um espaço maior”, na mesma cidade, com o intuito de receber todo o tipo de (e ainda mais) clientela. Para além de todos os “eventos de grupo para empresas” e festas de aniversário, João Marques conta que o objectivo é mesmo criar “hábitos e rotinas” novos e, pelo caminho, ajudar a mudar o conceito de “ir tomar café”. Para isso, há que contornar a maior dificuldade que o sócio-gerente do Virtuaplay diz sentir na captação de novos clientes: “O projecto custou a arrancar. O maior entrave foi a falta de conhecimento do que é a realidade virtual. Desconhece-se o que é e o potencial incrível que tem, quer na ciência quer no entretenimento.”

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E, em boa verdade, não é preciso ser-se gamer para ter sucesso a jogar qualquer um dos títulos disponibilizados nas áreas de realidade virtual do Virtuaplay. “Não é preciso saber jogar com teclado, comando ou rato”, explica um dos gerentes. E isso, diz, “torna possível reunir várias gerações”: “Temos pais a jogar e miúdos seguros a divertirem-se com outros miúdos em cenários de jogo. Convivem a jogar, mas não atrás de um monitor. E isso é espectacular.” No fundo, “é sentar e desfrutar” — “sem limite de idade”.

A experiência é “de tal forma imersiva” que há quem se esqueça do sítio onde realmente está, fixando-se numa realidade virtual onde os zombies são os vilões: “Depois do elevador, temos de passar para uma viga de ferro. Já tivemos pessoas que tiveram de ser ajudadas por estarem em cima da viga e não conseguirem sair.” Num “open space sem paredes”, é possível jogar em equipas “até quatro elementos”. Um dos títulos mais procurados é o shooter Arizona Sunshine, o jogo que representa “a melhor experiência shooter em realidade virtual” para o sócio-gerente do Virtuaplay.

Uma pandemia e uma aposta

Se a preferência recair sobre jogos em que há puzzles, mistérios e enigmas por resolver para encontrar uma saída, então há os escape rooms para jogar — e o Virtuaplay “foi o primeiro espaço ibérico do género a ter disponível” o título Prince of Persia, da Ubisoft. Para além da área maior de realidade virtual, há uma outra em “room scale, três por três”, com seis postos. Sendo o espaço menor, a locomoção dentro do jogo, “se necessária, é feita por intermédio de um comando”, como se lê no site do Virtuaplay. Para recarregar baterias, há bebidas e “menus temáticos” na cafetaria, um espaço que não existia nas antigas instalações. 

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Contudo, a pandemia trouxe limitações às diferentes áreas do Virtuaplay, que se adaptou: “Houve uma limitação do que tínhamos previsto no início, quer no espaço de jogo quer na cafetaria.” Todas as áreas de jogo e equipamentos como “óculos, rato, teclados, monitores” são desinfectados. “E ninguém joga sem medição da temperatura corporal”, garante João. “Não fazemos registos, mas, se houver limite, temos de impedir”, acrescenta. E se dantes era permitido assistir aos que se aventuram pelas realidades virtuais, agora “não é permitido ficar a ver”, sendo que todos os corredores são apenas “de passagem”.

Por entre os corredores podemos passar para a “área de gaming”, que conta com mais dez postos de jogo. É a “grande aposta para o ano corrente”. O Virtuaplay quer realizar “torneios internos” e criar a sua própria equipa, fazendo o nome chegar aos eventos de esports. Ainda não há um título definido, mas João aponta que “os shooters têm um papel de destaque”, seja através de Rainbown Six, Call Of Duty ou Counter-Strike. Para além de shooters, o Virtuaplay também quer apostas “em jogos mais individuais como FIFA” — mas, neste caso, o intuito é fazer um torneio e competição internos.

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Mas como se materializam estas ideias num contexto de pandemia, sabendo-se que os gamers podem participar em torneios sem sair de casa? “Nesta altura, é muito complicado. Estamos a ser bombardeados com alguns títulos pelos quais os gamers têm uma apetência muito grande, porque podem jogar em casa gratuitamente”, reconhece. Ainda assim, João acredita que nada substitui a interacção física e pessoal. Porque “não há nada como ver a reacção do nosso adversário quando lhe marcamos um golo no FIFA”. E é mesmo isso que o Virtuaplay procura: aproximar através dos jogos, numa “reinvenção daquelas salas de árcade, sem insert coin ou limitação”.

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