Cofina volta à carga e quer comprar 100% da Media Capital

O grupo de Paulo Fernandes modificou a OPA que tinha falhado e voltou a lançar a operação sobre a dona da TVI. Desta vez, paga 0,415 euros por acção pela totalidade do capital do grupo.

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Nuno Ferreira Santos

Num comunicado enviado ao mercado esta quarta-feira, a Cofina surpreende e volta a entrar na corrida à dona da TVI, depois de ter desistido na iminência da pandemia de covid-19 provocar fortes danos na economia. E agora, recuperando a oferta pública de aquisição (OPA) anterior — que continuava tecnicamente “viva” pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) — decidiu redobrar os esforços e oferecer 0,415 euros por acção para controlar 100% do capital da Media Capital.

A primeira tentativa da Cofina partiu de um princípio de acordo com a Prisa para comprar uma participação de 95% na Media Capital por um valor definido entre 130 milhões de euros em dinheiro e 85 milhões em dívida. Foi para financiar este negócio que teve de lançar um aumento de capital de 85 milhões que, no início da pandemia, acabaria por falhar e significar o recuo da dona do Correio da Manhã. E também a ruptura com um dos parceiros, o empresário Mário Ferreira, que acabaria mais tarde por entrar na Media Capital por sua iniciativa e ficar com 30% do capital.

Mas, entretanto, para comprar 5% que estavam no mercado, a Cofina lançou uma OPA, que se manteve viva por determinação da CMVM. O regulador recusou os argumentos de Paulo Fernandes para não concretizar a operação, nomeadamente o falhanço do aumento de capital ou a pandemia de covid-19.

E, agora, a Cofina em vez de travar, acelera. E modifica essa oferta por 5%, transformando-a numa operação que prevê a compra dessa participação através do mercado (num preço a definir por auditor independente) em conjunto com a tentativa de convencer os restantes accionistas da Media Capital (Prisa e Mário Ferreira) a aceitar 0,415 euros por acção pelos restantes 95%.

No comunicado pode ler-se que “a contrapartida de referência é alterada para 0,415 euros por acção, o que corresponde a um valor total máximo da oferta de 35.072.969,70 euros”. Refira-se que o interesse da Cofina na Media Capital foi tendo vários valores ao ritmo da evolução do negócio e da economia. Num primeiro momento, em Setembro do ano passado, a operação estava avaliada em 255 milhões de euros (entre capital e dívida), com uma contrapartida de 2,1322 euros por acção. Depois, em Dezembro, desceu para os 205 milhões de euros (1,5406 euros). E finalmente, caiu em Março, poucos dias antes de o país entrar num confinamento total decretado pelos efeitos da covid-19.

A empresa que controla os jornais Correio da Manhã, Negócios e Record, bem como a revista Sábado ​e a televisão CMTV, sublinha ainda que esta oferta goza das autorizações dos reguladores já definidas para a operação anterior.

E acrescenta que a sua iniciativa depende de algumas condições. Por um lado, que para a parcela dos 95% sobre a qual passa agora a incidir “o auditor independente designado pela CMVM para o cálculo da contrapartida da oferta não fixe um valor unitário de contrapartida que exceda o montante de 0,415 euros”. E, por outro lado, que a Media Capital fique “congelada” até à concretização da operação, isto é, que não seja, alienada, diluída, onerada (…) qualquer participação social na, ou activo significativo da, TVI, Plural ou Media Capital Rádios”.

A Cofina define ainda como mínimo de sucesso a aquisição de uma participação de 50%. Para tal, terá de convencer agora dois antigos parceiros, a Prisa e Mário Ferreira, com quem rompeu na última operação e criou alguma tensão jurídica e pública. No caso do grupo espanhol, existe um diferendo em torno de 10 milhões de euros que a Prisa exige que a Cofina pague por ter rompido o acordo inicial.

Já no que diz respeito ao empresário do sector do turismo, Mário Ferreira não escondeu a surpresa pelo abandono do aumento de capital da Cofina onde se disponibilizou a participar com 20 milhões de euros. O agora dono de 30% da Media Capital acabaria, em meados de Maio, por gastar 10,5 milhões para ficar com essa participação, num investimento que avaliava a dona da TVI em 130 milhões de euros.

A este propósito, em comunicado às redacções, a Cofina esclarece que “o valor de referência proposto na OPA de 0,415 euros por acção, correspondendo a um valor total de 35.072.969,70 euros, considera um entreprise value [valor da empresa] de cerca de 130 milhões de euros e foi considerado, em informação ao mercado, no passado dia 14 de Maio, pela Promotora de Informaciones S.A., maior accionista da empresa, “uma avaliação acima das estimativas do mercado efectuadas pelos analistas...tendo implícitos múltiplos [valores de referência] superiores aos das empresas [comparáveis]”.

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