Alba Baptista é Warrior Nun: “Ser actor é evocar emoção, é partilhar verdades”

A actriz portuguesa é a mais recente artista a vingar no mundo da representação lá fora, algo com que sonhava e, mais do que isso, algo para o qual trabalhava desde que descobriu a sua vocação, confessa.

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Alba Baptista é a protagonista da série internacional da Netflix Warrior Nun Gonçalo Claro

Desde criança que as artes estão com ela. Se sempre soube que queria ser actriz? Não necessariamente. Quis ser pianista e pintora. Ainda hoje pratica estas actividades, mas foi em 2014, com 16 anos, quando participou na curta-metragem Miami, que soube que era aquilo que lhe estava destinado. Em 2019 surgiu a oportunidade de uma vida: foi convidada a fazer um casting para uma série da Netflix — Warrior Nun. Foi a escolhida e agora é a primeira actriz portuguesa a protagonizar uma produção da maior plataforma de streaming do mundo.

Alba Baptista tem 23 anos, nasceu em Lisboa e desde cedo ficou a conhecer o mundo e as diferentes culturas que este tem para oferecer. A mãe, que foi tradutora muitos anos, tentou incutir-lhe a importância das línguas, sem nunca a obrigar a nada. Ainda que não tenha entendido imediatamente a mensagem, sentiu-a e, mais tarde, compreendeu. “A educação é tão importante e essencial para tudo na vida. A minha mãe não descartou nem pôs isso de lado. Estou muito grata por ela”, diz Alba ao PÚBLICO. Hoje fala cinco idiomas — português, espanhol, inglês, francês e alemão.

Desde pequena que gostava de sair da sua zona de conforto. Foi por isso que, quando surgiu o casting para o filme Miami, em 2014, mergulhou de cabeça. “Queria experienciar coisas novas, principalmente na adolescência, naquele ‘pseudo-melancolismo’ da vida”, refere a actriz, acrescentando que, ainda assim, na altura “levava aquilo um pouco na brincadeira”. Só mais tarde começou a olhar para a representação como “uma vocação profissional e não só uma experiência engraçada”.

Apesar da nacionalidade portuguesa, o seio familiar da jovem actriz é um misto de realidades. A mãe cresceu na Alemanha e o pai é brasileiro. Engenheiro mecânico de profissão, o pai de Alba, durante a sua infância, mudava de residência de dois em dois anos e a família ia visitá-lo. “Acho que o facto de ter lidado com muitas culturas no meu desenvolvimento pessoal me ajuda a ser mais adaptável e mais camaleónica para projectos e mentalidades diferentes.”

Em 2012 passou pela ACT – Escola de Actores. Não terminou o curso, porque teve de escolher entre trabalhar ou estudar, mas aqueles noves meses deram-lhe um ensinamento: conseguir aceitar os seus erros. Ali teve a oportunidade de fazer parte de um “colectivo onde é aceitável falhar”, onde se sentia segura para errar sem julgamentos.

Quando fez parte da curta-metragem de Simão Cayatte, Miami, em 2014, Alba sentiu pela primeira vez a capacidade que a representação tem de evocar emoção nas pessoas. “Após cortarem o take, sentia vibração na sala, porque toda a gente tinha sentido o mesmo que eu, compaixão, empatia... Essa sensação de validação de certa maneira pelas nossas emoções é tão especial. Ser actor é evocar emoção, é partilhar verdades e acho isso bastante único.”

Da novela para a série

A par desta participação, veio a primeira novela — Jardins Proibidos, da TVI —, também em 2014. “Estou grata por ter feito novelas”, afirma. “São uma escola”, que neste caso lhe deu conhecimento suficiente para aguentar a pressão e o ritmo de trabalho de Warrior Nun. Foram cinco meses de gravações intensas, superados devido à experiência que retirou daquele género de ficção televisiva – carga horária intensa e pouco tempo para tudo, desde preparar o guião a gravar as cenas.

Um projecto internacional era algo com que Alba sonhava. “Os anos que estive a trabalhar sem parar e que tive de sacrificar talvez menos tempo para a minha vida pessoal e mais para a profissional, hoje em dia compensou tudo”, afirma a actriz, que foi chamada para o casting de Warrior Nun depois de ser convidada para o Subtitle European Film Festival, para “onde um grupo muito selectivo de actores europeus são convidados anualmente”.

Este festival de cinema proporciona encontros entre realizadores, actores e directores de casting, de modo a que novas oportunidades de trabalho surjam, assim como a descoberta de novos talentos. Foi o que sucedeu a Alba, mas cuja sorte também já bateu à porta de outros nomes nacionais conhecidos como Nuno Lopes, Joana Ribeiro, Albano Jerónimo, entre outros.

“A sorte é um misto perfeito entre preparo e oportunidade”, afirma a protagonista do novo sucesso da Netflix, que recebeu a proposta para a série da própria directora de casting. “Se não tivesse tido o currículo que tinha, não teria sido convidada para o festival de cinema onde não me teriam visto para me chamarem. É uma cadeia de oportunidades.”

O dito casting foi feito através de self-tape, ou seja, é o próprio artista que realiza a cena de teste e que a filma. Foi a primeira de Alba e, confessa, se não tivesse sido a ajuda de Nuno Lopes e Joana Ribeiro, que também estavam presentes no festival, crê que não teria conseguido ficar com o papel. “São muito estratégicos na forma como convidam os actores. Não são só os que já lá estão em cima, são os que têm potencial para estar. O Nuno e a Joana foram convidados numa altura em que ainda não estavam bem e hoje estão. É uma inspiração.”

Um passaporte para a internacionalização

Há projectos a fermentar sobre os quais não pode falar, mas revela que um deles é um filme francês de Paulo Branco (produtor de A Herdade) e um projecto português. Quer fazer cinema de autor e explorar o mercado cinematográfico europeu, ainda que a profissão a esteja a levar para os EUA, o que não era o que “tinha planeado, nem sonhado, nem ambicionado, mas [vai] com a maré”.

No horizonte vê também um curso superior, que não tem de passar pela representação. Se tiver tempo, gostava de estudar filosofia, psicologia ou sociologia. Até lá vai continuar a preencher o seu currículo para que um dia alcance o expoente máximo da sua carreira: ganhar uma Palma de Ouro, no Festival de Cinema de Cannes.

Este ano traz ainda a Alba Baptista a presença na 5.ª edição do programa Passaporte. Criado em 2016 pela directora de casting Patrícia Vasconcelos, no âmbito da Academia Portuguesa de Cinema, o Passaporte pretende “mostrar ao mundo que é um erro parar em Espanha” quando se procuram actores. Através de entrevistas rápidas e workshops, os portugueses têm oportunidade de conhecer directores de casting de grandes produções internacionais de cinema, televisão e publicidade. 

Foi assim que Albano Jerónimo e Ivo Alexandre chegaram à série Vikings, Benedita Pereira a Versalhes ou Lídia Franco ao filme de Michael Bay 6 Underground. A edição deste ano, que decorre de 23 a 27 de Setembro, vai contar com a presença de 12 actores portugueses, entre eles Alba Baptista: Beatriz Batarda, Daniela Ruah, Gonçalo Waddington, Jaqueline Corado, Joana Seixas, Luca Dutra, Welket Bungué, Pedro Hossi, Pêpê Rapazote, Rita Blanco e Rui Melo. Face aos casos de sucesso do programa, a edição deste ano recebeu o dobro das candidaturas de anos anteriores.

Alguns dos directores de casting presentes nesta edição são: Leo Davis e Lissy Holm, a dupla britânica responsável pelo casting da série White Lines, na qual participou Nuno Lopes, Paulo Pires e Rafael Morais; Eva Leira e Yolanda Serrano, a dupla espanhola por detrás do elenco da série La Casa de Papel, e Lisa Stutzy, responsável pelo casting do drama alemão System Crasher.

Texto editado por Bárbara Wong

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