Alojamento universitário e covid-19

Não podemos esquecer aquela que é uma das maiores vacinas contra a pobreza e a exclusão social: o ensino superior, ou melhor, o acesso ao mesmo.

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Nelson Garrido

Não temos ainda vacina para esta doença que nos surpreendeu nos últimos meses, mas temos uma vacina contra a pobreza, contra a exclusão social e económica. Essa vacina dá pelo nome de acção social universitária e tem como principal rosto as residências, alojamento de muitos estudantes deslocados.

A diminuição do número de camas anunciada nos média, devido às regras de distanciamento social, surge, é verdade, juntamente com um plano de compensação, através de recurso a hostelspor exemplo. Porém, o mais importante é perceber que mais do que garantir que serão compensados os cortes nas camas disponíveis, que em algumas universidades aparentemente chegam a ser na ordem dos 30 % da lotação, tem de existir um generalizado aumento de camas, pois esta crise que aí vem necessita de uma resposta adequada.

No mundo que conhecíamos, antes da covid-19, existia já na agenda política a vontade de aumentar o número de camas disponíveis, para os alunos mais carenciados de meios económicos, de forma a garantir que não seria a dificuldade de pagar um alojamento a razão pela qual o aluno não acederia ao ensino superior. Note-se a este respeito o seguinte aspecto: é muito importante relembrar que no mundo anterior à covid-19, em que teríamos um excedente orçamental, que nos encontrávamos numa fase de crescimento económico, resumidamente, em que o futuro parecia “risonho”, existia a percepção de que era necessário aumentar o número de vagas nos alojamentos universitários, aos muitos alunos que a ele conseguiam aceder por mérito estudantil, mas que não teriam dinheiro para o pagar.

Aqui chegados, no mundo “novo” em que vivemos, em que todos os dias somos alertados para a crise de enormes proporções que aí vem, do défice orçamental, do lay off generalizado, da perda de rendimentos, tudo isto é mais do que suficiente para nos fazer ver que entrámos numa fase de aumento das dificuldades e de pobreza. É exactamente nestes momentos em que mais devemos apostar enquanto sociedade no ensino superior, em especial no acesso daqueles que, sem apoios estatais, dificilmente conseguirão permanecer na universidade.

Faço assim o apelo ao Governo que aumente o número de camas e que não se fique apenas pela compensação do número de camas existentes (já de si tão diminuto) que ficarão indisponíveis devido à covid-19.

Todos temos o desejo que surja em algum laboratório uma vacina capaz de responder de forma adequada à covid-19, no entanto, enquanto esperamos pelo que ainda não existe, não podemos esquecer aquela que é uma das maiores vacinas contra a pobreza e a exclusão social: o ensino superior, ou melhor, o acesso ao mesmo.

O autor destas linhas viveu todo o seu percurso académico numa residência universitária, recebendo também uma bolsa de acção social.

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