Árvores crescem no Pinhal de Leiria, mas no terreno lamenta-se a falta de meios e demoras

As plantas infestantes, sobretudo as acácias, que competem com novos pinheiros, e a falta de mão-de-obra na Marinha Grande são duas das principais ameaças à recuperação da Mata Nacional de Leiria.

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Em Outubro de 2017, o fogo consumiu 9400 dos 11 mil hectares da Mata Nacional de Leiria LUSA/PAULO CUNHA

Há milhares de pinheiros a crescer na Mata Nacional de Leiria, três anos após o incêndio que destruiu 86% da floresta da Marinha Grande. O Estado fala numa elevada taxa de regeneração, mas no terreno há críticas, pedindo-se mais meios.

Muitas estão escondidas entre outra vegetação, alguma autóctone e também invasora, mas há já novas árvores que dão pelo joelho. É, finalmente, um sinal de esperança para a recuperação da floresta conhecida como Pinhal de Leiria ou Pinhal do Rei, propriedade do Estado.

Em Outubro de 2017, o fogo consumiu 9400 dos seus 11 mil hectares, cerca de 86% da área arborizada. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) diz que a execução do Plano de Investimentos Matas Públicas do Centro e Litoral, que inclui a Mata Nacional de Leiria, vai permitir até 2022 a arborização de 2400 hectares desta área e o acompanhamento da regeneração natural de 6400 hectares. 

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Paulo Cunha/Lusa

Segundo o vogal do Conselho Directivo do ICNF, Nuno Sequeira, as taxas de sucesso “na generalidade das áreas arborizadas [em regeneração] são superiores a 80%”, o que “é animador e permite ver algumas zonas com lançamentos de crescimento muito relevantes”.

“Se formos ver algumas áreas onde foram plantadas folhosas, naturalmente a taxa de sucesso é inferior; se calhar teremos taxas de sucesso de 30%. Na generalidade da área, em termos globais, seguramente que a taxa de sucesso que estamos a ter nestas rearborizações andará, e muitas vezes ultrapassa, os 80%”, indica. Mas, em pelo menos 1000 hectares – 15% dos 6400 hectares em que se espera a recuperação natural –, será necessário um esforço suplementar “com reforço de arborização”.

A Quercus, que com diversos parceiros plantou cerca de 60 mil árvores em 60 hectares do Pinhal de Leiria, também identifica sinais positivos: “Vejo as forças políticas e a sociedade mais focadas nisto. Vejo com bons olhos a recuperação do Pinhal de Leiria, mas temos de estar atentos”, diz a presidente da associação ambientalista, Paula Nunes Silva.

Câmara da Marinha Grande reclama mais meios

“O que pedimos – e que, acredito, também o PS peça é que haja meios, haja pessoas, haja um maior investimento, haja um maior financiamento e haja também alocado, do Orçamento do Estado, uma verba que seja considerada necessária para que essa reflorestação e esse trabalho seja feito”, afirma a presidente da Câmara da Marinha Grande, Cidália Ferreira.

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No final de Junho, a autarca eleita pelo PS viu o seu partido chumbar no Parlamento a proposta de outras forças partidárias para reforço de meios do ICNF no pinhal. 

Mais crítico é o Observatório do Pinhal do Rei, que junta especialistas de diversas áreas. O geógrafo José Nunes André é um deles e considera mesmo que o ICNF deveria ser substituído. “As entidades competentes, neste caso o Governo, têm de pensar em arranjar outra entidade que superintenda o Pinhal de Leiria e as matas litorais, porque o ICNF ou não tem pessoal ou não tem verbas ou não tem competência”, considera. O ponto da situação do trabalho no Pinhal de Leiria, lamenta, “não será nulo, mas é muito pouco”.

Plantas infestantes e falta de mão-de-obra dificultam recuperação

As plantas infestantes, sobretudo as acácias, que competem com novos pinheiros, e a falta de mão-de-obra na Marinha Grande são duas das principais ameaças à recuperação da Mata Nacional de Leiria.

José Nunes André considera que a proliferação dessas plantas “está atrasar imenso” a recuperação da floresta. O geógrafo indica zonas onde as infestantes “estrangularam totalmente o pinheiro que nasceu espontaneamente”.

Nuno Sequeira, do ICNF, admite que “as invasoras lenhosas são uma preocupação agora – e já o foram no passado” , mas lembra que está previsto um plano de controlo de invasoras até 2024, porque o combate “tem de ser uma intervenção continuada, de forma a reduzir e conter”. O importante, diz, é reduzir ao mínimo a sua área e evitar que estas plantas cresçam e voltem a produzir semente. 

Na recuperação do Pinhal de Leiria interfere também a falta de mão-de-obra. O ICNF abriu concurso para as matas do litoral, mas a procura não supriu as 50 vagas necessárias. Nuno Sequeira reconhece que são precisos mais trabalhadores para “assegurar a gestão corrente e a manutenção desta área, que necessita de uma atenção permanente”. 

A presidente da autarquia diz que tem pedido meios, “também para o próprio ICNF, de modo a que possa vir gente para a Marinha Grande trabalhar”. Contudo, explica Cidália Ferreira, no concelho “não tem havido desemprego até agora” e, por isso, “houve dificuldade na colocação de pessoal para aqui”.

Outra inquietação da autarca é a área não ardida, onde, defende, deveria haver do ICNF “mais cuidado na manutenção”. “É importante que os nichos que ficaram no nosso Pinhal do Rei possam ter uma atenção especial. Se as árvores vão levar tantos anos a crescer, há que criar também outras zonas que possam ser aprazíveis”, afirma.

A nível climático, José Nunes André identifica, como impacto do grande incêndio de 2017 e o abate das árvores, "ventos fortes nas zonas limítrofes do pinhal”. Também teme o efeito na erosão das dunas. “O cordão dunar frontal está a desaparecer. Já estava com a erosão marinha e, agora, com a erosão eólica, pela falta do pinhal, mais ainda”, alerta.

Do lado do ICNF, Nuno Sequeira avança que, no “trabalho gigantesco” feito para remoção das árvores queimadas, que “representou mais de 20 mil camiões TIR”, existiu o cuidado de, “ao retirar o material lenhoso, o de menor dimensão ser triturado e deixado à superfície do solo espalhado”, porque “protege o solo, incorpora a matéria orgânica e diminui a erosão eólica, com arrastamento das areias”.

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