Covid-19: Europa suspeita que a segunda vaga já começou

Desconfinamento no continente europeu foi acompanhado pelo aumento já esperado de infecções e surtos localizados. Muitos países estão a fazer marcha-atrás na reabertura de cidades ou regiões e a reimpor ou recomendar restrições de viagem.

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É obrigatório usar máscaras em algumas ruas de Paris EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON
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Rua movimentada de Nápoles, no Sul de Itália, fotografada em Abril EPA/CIRO FUSCO
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Enchente numa praia de Brighton (Inglaterra) Reuters/PETER CZIBORRA

Travar a propagação de um vírus que ainda é essencialmente desconhecido implica planear à semana – quando não ao dia. É esta a realidade inultrapassável para a maioria dos países europeus, que tendo saído psicologicamente abatidos da fase do maior pico da pandemia, em Março e Abril, têm agora a difícil tarefa de planificar o futuro e o relançamento das suas economias, sem permitir que se voltem a atingir os níveis de infecção e de mortes daqueles meses.

Mesmo numa Europa a desconfinar a diferentes velocidades, a tendência seria sempre para o aumento exponencial dos novos casos. Nas últimas três semanas, porém, o surgimento de surtos localizados em cidades, ruas, fábricas, bairros ou regiões, obrigaram os governos a adiarem reaberturas, a imporem quarentenas, a apertarem as restrições à mobilidade dos seus cidadãos e, acima de tudo, a trabalharem exaustivamente nas “listas negras” de países para os quais não é recomendado viajar.

Com quase três milhões de casos confirmados, mais de 200 mil mortos e um aceleramento do contágio, o continente europeu começa a questionar-se seriamente se a segunda vaga, prevista para o Outono, não terá já começado este Verão.

Eis alguns dos países europeus com mais casos novos confirmados de covid-19:

Espanha

Foi durante semanas a fio um dos epicentros da doença na Europa e por alturas do pico da pandemia – no início de Abril – a mortalidade em Espanha cresceu 2,5 vezes em relação à média. Por isso mesmo, o aumento acelerado do número de novos casos de infecção pelo SARS-CoV-2, registado no último mês, não é surpreendente.

Mas o país superou recentemente o Reino Unido como o Estado europeu com mais infectados – mais de 350 mil casos, contra os cerca de 308 mil dos britânicos – e tem identificado surtos consideráveis nas comunidades autónomas de Aragão, Catalunha, País Basco e Madrid.

Os 28,500 mortos por covid-19 assustam. E, por isso, Espanha consta na lista de praticamente todos os países europeus como destino turístico a evitar. Para quem insistir em visitar, existe a obrigatoriedade de quarentena de 14 dias no regresso a países como Reino Unido, Alemanha ou Áustria.

França

O desconfinamento francês começou a 11 de Maio e, nas últimas semanas, o número de novos casos atingiu níveis elevados, só vistos no final de Março. Com 187 surtos locais activos e 14 departamentos de França em situação “vulnerável”, o Governo planeia impor quarentenas a nível regional, em vez de trancar novamente o país a sete chaves.

O contágio acelerado no Noroeste e Leste do país preocupa as autoridades e há cidades, como Paris, Marselha ou Toulouse, que impuseram a obrigatoriedade do uso de máscara protectora em algumas das suas ruas mais movimentadas.

França regista, até ao momento, mais de 195 mil infectados – dos quais quase 85 mil correspondem a casos activos –​e perto de 30 mil mortos. Algumas das suas regiões são consideradas “território de risco” para países do Norte e Centro da Europa, como a Finlândia, a Bélgica, a Roménia ou a Noruega – cujo Governo recomendou esta sexta-feira aos seus cidadãos que “evitem viajar” para “qualquer destino”.

Alemanha

A passada quinta-feira trouxe o número mais alto de novos casos diários de infectados dos últimos três meses na Alemanha, um dos primeiros países da Europa a reabrir lojas, restaurantes e estabelecimentos comerciais. Para registar um dia com mais de mil novos casos, é necessário recuar até Maio.

Face a este aumento – e ao surgimento de surtos preocupantes, como o de uma fábrica de processamento de carne nos arredores de Bielefeld, que obrigou à imposição de quarentenas a nível local –, as autoridades federais e regionais alemãs coordenaram-se e decretaram testes obrigatórios para quem aterra nos aeroportos da Alemanha, vindos de “zonas de risco”, como Espanha ou Bélgica.

A reabertura das escolas em Agosto será um teste importante à capacidade de contenção do vírus na Alemanha – o quinto país europeu com mais casos confirmados (215,882) e o sétimo em termos de mortes por covid-19 (9,253).

Itália

Recuando até ao pico da pandemia em Itália, em Abril, é difícil não olhar para as últimas semanas e argumentar que o pior já passou. O país que chegou a ter 900 mortes diárias por covid-19 – é o segundo da Europa com mais mortos, com cerca de 35 mil, atrás do Reino Unido – tem estabilizado entre 200 a 300 novas infecções por dia.

A reabertura dos principais pontos turísticos do país tem promovido a existência de alguns focos da doença – tal como na Grécia – e as autoridades tiveram de encerrar algumas das principais praças e ruas de Roma durante os fins-de-semana, para evitar ajuntamentos excessivos.

Pessoas oriundas da Bulgária e da Roménia – os romenos têm escalado a tabela europeia de contágio nas últimas semanas – têm de cumprir isolamento durante duas semanas.

Bélgica

“Estamos na segunda vaga de infecções e ninguém sabe quanto tempo vai durar, nem quão intensa será”, assumiu no início desta semana, sem rodeios, Steven Van Gucht, responsável pela secção de doenças virais do departamento de Saúde Pública da Bélgica.

As últimas duas semanas de Julho registaram um aumento de 198% do número de novos casos confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2 no país, em comparação com as duas primeiras semanas.

Os planos iniciais do Governo belga passavam pela entrada em vigor da próxima fase de desconfinamento no dia 1 de Agosto, mas a evolução da situação epidemiológica levou à suspensão dessa estratégia.

Antuérpia é, por esta altura, um epicentro do vírus na Bélgica e viu ser-lhe imposto recolher obrigatório no final do mês passado. Muitas regiões do país constam da “lista negra” das limitações de viagens dos países europeus.

Reino Unido

O rótulo de país europeu com mais mortes por covid-19 – mais de 46 mil – atesta a seriedade da propagação do coronavírus pelo Reino Unido. Os britânicos demoraram a confinar e, também por isso, demoraram a desconfinar.

Os surtos em cidades como Leicester, Blackburn, Bradford, Oldham (Inglaterra), Wrexham ou Merthyr Tydfil (País de Gales), forçaram a imposição de quarentenas temporárias e levaram várias localidades dos condados de Leicestershire, Lancashire e West Yorkshire e da área metropolitana de Greater Manchester a fazerem marcha atrás na reabertura.

Devido às restrições de viagens para países como Espanha ou outros habituais destinos europeus de férias dos britânicos – como Portugal ou Grécia, entretanto excluídos da lista de “países de risco” – têm-se registado enormes enchentes nas praias inglesas, que preocupam cada vez mais as autoridades, por serem focos “desnecessários” de contágio.

A reabertura das escolas, em Setembro, e a possibilidade de uma saída efectiva da União Europeia sem acordo em Dezembro – já estão a ser armazenadas enormes quantidades de medicamentos – são testes de fogo à capacidade de resposta britânica à pandemia.

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