Menos de 1% dos trabalhadores do ensino superior público do Porto contactaram com o vírus

A prevalência de anticorpos foi superior nos homens e aumentou com a idade dos participantes no rastreio serológico.

Foto
Rui Gaudêncio

É mais complexo do que pode parecer à primeira vista. Os resultados de um rastreio serológico a trabalhadores do ensino superior público do Porto indicam que menos de um por cento (0,9%) estiveram em contacto com o novo coronavírus e desenvolveram anticorpos da classe IgG, (os que se surgem numa fase mais tardia da infecção e que serão, assim, mais duradouros), mas o valor sobe para 3,8% quando se considera em simultâneo a presença destes anticorpos e dos anticorpos da classe IgM, que correspondem à resposta imunitária numa fase inicial da infecção.

“No estado actual do conhecimento, o valor de 0,9%, embora mais conservador, será o que melhor reflectirá a presença de uma eventual resposta imunitária ao contacto com o vírus que se poderá considerar presente e será prolongada no tempo”, explicam, por escrito, os investigadores.

Para este trabalho foram rastreados 4429 trabalhadores da Universidade, do Politécnico do Porto e da Escola Superior de Enfermagem do Porto, entre 21 de Maio e 20 de Julho, e que se voluntariaram para o efeito. A medição destes anticorpos serve para aferir o nível de eventual imunidade populacional, apesar de se ignorar ainda “se a infecção confere essa imunidade de forma eficaz e/ou duradoira”, enfatizam os autores do estudo.

“A infecção pode ser recente e não ser detectada pelos testes. É importante perceber que os testes não são perfeitos, podendo conduzir a falsos positivos ou a falsos negativos”, frisa Paula Meireles, uma das investigadoras do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

O que os resultados demonstram também é que o contacto com o vírus entre os trabalhadores do ensino superior público do Porto é “menor do que o já encontrado em outras amostras, essas da população universitária ou geral, em Portugal e no estrangeiro”, o que “poderá ser explicado pelo facto de no ensino superior uma proporção muito elevada dos trabalhadores ter estado, e permanecer, em regime de teletrabalho”, justificam os investigadores.

A prevalência de anticorpos IgG  encontrada neste estudo foi superior nos homens (1,3% contra 0,7% nas mulheres) e aumentou com a idade, sendo mais elevada entre os participantes entre os 60-69 anos (1,4%) e com idade igual ou superior a 70 (2,7%) do que nos restantes grupos etários. Foi igualmente maior nos trabalhadores com o ensino básico (1,5%) e o doutoramento (1,3%) e nos participantes que não tinham nacionalidade portuguesa (2,1% versus 0,9%).

Relativamente à presença de sintomas entre os 0,9% que testaram IgG positivo, seis nunca tinham tido sintomas sugestivos de covid-19, nove tinham tido sintomas e 22 tinham tido pelo menos três sintomas.

Sugerir correcção