Covid-19. OMS alerta que não existe “risco zero” de contágio em viagens

A Organização Mundial de Saúde pediu cautela no regresso das viagens, dando prioridade às de emergência, humanitárias e de repatriamento e desaconselhando a saída de idosos ou doentes crónicos para áreas com transmissão comunitária de covid-19.

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Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

Num documento hoje divulgado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que é preciso capacidade da saúde pública e dos serviços de saúde para gerir os casos suspeitos e confirmados entre os viajantes, inclusive nos pontos de entrada (portos, aeroportos, passagens de terra) “para mitigar e gerir o risco de importação ou exportação da doença”.

“O processo de decisão deve incluir uma análise da situação, levando em consideração o contexto local nos países de partida e destino”, avisa a OMS, sublinhando que devem ser tidos em conta a epidemiologia local e os padrões de transmissão, a saúde pública nacional e as medidas sociais para controlar os surtos tanto nos países de partida como de destino.

A recomendação da OMS é que seja dada prioridade a viagens essenciais para emergências, acções humanitárias (incluindo voos de emergência e evacuação médica), viagens de pessoal essencial (incluindo equipas de emergência e de suporte técnico de saúde pública, pessoal crítico no sector de transportes, como os marítimos e os oficiais diplomáticos) e repatriamento.

A Organização frisa ainda que os “viajantes doentes e pessoas em risco, incluindo idosos e pessoas com doenças crónicas ou condições de saúde subjacentes, devem atrasar ou evitar viajar internacionalmente para e de áreas com transmissão comunitária”, realçando que não há “risco zero” relativo à importação ou exportação potencial de casos no contexto de viagens internacionais.

A OMS chama igualmente a atenção para a necessidade de os países estarem sempre actualizados sobre o conhecimento, em constante evolução, sobre a transmissão da covid-19 e as suas características clínicas.

O documento hoje divulgado pretende fornecer aos governos e autoridades de saúde dos Estados Membros da OMS “relevantes elementos” para serem tidos em conta “no ajuste das medidas restritivas das viagens internacionais à mudança da situação epidemiológica da pandemia de covid-19” e à capacidade pública nacional dos serviços de saúde.

A gestão das viagens deverá ser feita de forma “multissectorial e garantir a coordenação das medidas implementadas pelas autoridades nacionais e internacionais de transporte, e outros sectores relevantes, e estar alinhado com as estratégias nacionais gerais para ajustar medidas sociais e de saúde pública”.

Esta coordenação é essencial para que todos os sectores envolvidos na retoma de viagens internacionais possam retomar a sua actividade em segurança: “O sector do transporte é central para as operações de viagens, mas o envolvimento de outros sectores, como comércio, agricultura, turismo e segurança, é essencial para capturar todos os aspectos operacionais associados à retomada gradual das viagens internacionais”, explica a OMS.

Na prática, de acordo com a Organização, para a tomada de decisões em relação a viagens internacionais deverá ter-se em conta o risco de importação de casos no país de chegada. Este depende de vários factores, incluindo a situação epidemiológica em ambos os países, que poderá variar significativamente: “Quando o país de partida e o país de chegada compartilham uma intensidade semelhante da transmissão do vírus SARS-CoV-2, não há risco substancial de impacto potencial na situação epidemiológica actual”.

A OMS recomenda que os países mantenham a vigilância epidemiológica activa, para detecção de casos, isolamento, identificação e acompanhamento de contactos, sublinhando que ela é central para gerir de forma eficaz a pandemia de Covid-19.

“Os países devem planear e avaliar continuamente as suas capacidades de pico para testar, rastrear, isolar e gerir casos importados e quarentena de contactos”, sublinha a organização.

No documento, a OMS defende igualmente que os sistemas nacionais de vigilância da Covid-19 só têm a ganhar com informações partilhadas através dos sistemas de vigilância de doenças respiratórias existentes, como os da influenza ou da doença respiratória aguda grave.

“Uma força de trabalho suficiente de profissionais de saúde pública ou de saúde na comunidade treinados para detecção de casos e rastreamento de contactos, além da comunicação de risco integrada e do envolvimento da comunidade, inclusive pelos media, para garantir a aceitação da população, são elementos essenciais para uma vigilância eficaz”, lê-se no documento.

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