Ilha da Berlenga troca diesel por energia solar e torna-se 100% sustentável

Produção de energia na ilha classificada pela UNESCO era feita por três geradores a diesel e eram necessários 15 mil litros de combustível por ano para os alimentar. “Descarbonização total” é um investimento de 350 mil euros da EDP Distribuição

Foto
Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, a Berlenga é agora 100% sustentável DR

Numa rocha por cima do bairro dos Pescadores, cumprindo “critérios rigorosos de integração paisagística”, a EDP Distribuição instalou painéis fotovoltaicos, um sistema de armazenamento de energia e equipamentos que permitem controlar e monitorizar remotamente o sistema. Esta nova solução de energia renovável, que vem substituir a geração diesel na ilha da Berlenga, é inaugurada esta quarta-feira e representa um investimento da EDP Distribuição de cerca de 350 mil euros.

É uma “substituição total do diesel, por uma mistura de dois sistemas: a geração solar e baterias”, explicou ao PÚBLICO João Marques da Cruz, administrador executivo da EDP com o pelouro da distribuição, acrescentando que a ilha se torna agora 100% sustentável e auto-suficiente: “Dá para fornecer por 24 horas as necessidades das Berlengas. É uma descarbonização total.”

Até agora, o fornecimento de electricidade na ilha ao largo de Peniche era efectuado por três geradores a diesel e tinha um funcionamento condicionado ao consumo. Ou seja, estando dependente do transporte de combustível até à ilha, a EDP fazia uma estimativa das necessidades e, em caso de pico de necessidade, podia haver falta de energia. Um problema que deixa agora de se colocar, aponta Marques da Cruz: “A geração solar pode sempre gerar electricidade, porque a armazena. Por isso, a qualidade do serviço prestado é maior.” O preço para a população mantém-se “inalterado”, já que o serviço é cobrado através da tarifa regulada.

Por ano, eram transportados para a ilha, de barco, cerca de 15 mil litros de combustível, o que implicava um elevado risco ambiental associado ao transporte marítimo, poluição sonora e do ar (as emissões anuais eram de aproximadamente 40 toneladas de CO2). “Felizmente nunca houve um derrame, mas era um risco”, assume Marques da Cruz

Foto
Painéis fotovoltaicos foram instalados numa rocha por cima do bairro dos Pescadores DR

O projecto Berlenga ­Sustentável, em parceria com a Câmara de Peniche e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, era um “desejo” da EDP Distribuição desde 2018 e implicou uma autorização especial da União Europeia. É que há uma norma que proíbe os operadores de explorar activos de produção de electricidade – e foi preciso explicar por que razão a Berlenga devia ser uma excepção. “A EDP está sempre muito empenhada no contributo para a transição energética e este projecto enquadra-se nisto.”

O arquipélago foi classificado em 2011 como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, tem estatuto de reserva natural desde 1981 e foi classificado como Zona de Protecção Especial para as Aves Selvagens em 1999.

A ilha da Berlenga tem, desde Maio de 2019, um limite diário de visitantes fixado nas 550 pessoas. Um estudo da Universidade Nova de Lisboa concluiu que visitam anualmente a ilha mais de 65.650 pessoas (43.250 nos meses de Verão), excluindo residentes sazonais habituais, prestadores de serviços e representantes das entidades oficiais com jurisdição na Reserva Natural das Berlengas. Esse limite de entradas imposto pelo Ministério do Ambiente foi justificado pela existência de espécies e habitats “sensíveis” e também pela pequena dimensão do território – e, na verdade, estava previsto desde 2008 no Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas, embora nunca tenha sido fixado.

Sugerir correcção