Neil Young pondera processar Trump por usar as suas canções

“Imaginem o que sinto ao ouvir Rockin’ in the free world depois de este presidente falar, como se fosse a sua canção-tema”, diz o músico.

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A gota de água para Neil Young foi a recente utilização da sua canção no discurso de Trump no Monte Rushmore Reuters/TOM BRENNER

Há muito que o cantor canadiano-americano Neil Young protesta contra a utilização das suas canções em comícios de Donald Trump, mas até agora não se decidira a processar o presidente, quer por recear não ter argumentos legais suficientemente fortes, quer, nestes últimos meses, por achar que a prioridade era o combate à pandemia. Uma posição que agora se diz disposto a rever, indignado por Trump ter enviado agentes federais para reprimir os protestos e tumultos gerados pela morte, em Maio, de um cidadão negro, George Floyd, às mãos de um polícia que o tinha detido.

“Estou a mudar de ideias no que respeita a processar o presidente Trump”, escreveu o músico no seu site oficial. “Há uma longa história a considerar, e originalmente decidi não ir para tribunal, mas agora o presidente enviou para as nossas ruas bandidos em uniforme. Foi uma ideia dele. Foi ele que deu a ordem. Isto é tudo DJT [Donald Jay Trump]”.

Acusando Trump de “não ter respeito pelos militares”, Young diz que estes “não devem ser usados nas ruas da América contra cidadãos cumpridores da lei para favorecer uma encenação política orquestrada por um presidente ameaçado”.

Assumido fã da música de Neil Young, Trump utiliza a canção Rockin’ in the free world nos seus comícios desde 2015, quando oficializou a sua candidatura à Presidência. E se Young, apoiante activo do candidato democrata Bernie Sanders, e agora de Joe Biden, exprimiu em público a sua irritação por ouvir o tema – que gravou em 1989 no álbum Freedom – nos comícios de Donald Trump, também chegou à conclusão de que este tinha o direito de o usar desde que pagasse os direitos previstos. Foi isso mesmo que explicou à revista Rolling Stone em Maio de 2016, observando que, a partir do momento em que uma música é lançada, qualquer pessoa pode usá-la para o que quer que seja”.

As declarações de Young à Rolling Stone sugeriam mesmo que o conflito estava convenientemente sanado, com este a saudar o facto de a campanha de Trump ter deixado de usar a canção depois do seu protesto público, no qual o músico assumiu o seu apoio a Bernie Sanders e esclareceu que Trump nunca lhe pedira autorização para usar a canção. “O que eu disse significou alguma coisa para o Donald e ele parou”, afirmou então Neil Young.

Mas no passado dia 3 de Julho, no seu discurso no Monte Rushmore, no estado do Dacota do Sul (no qual Trump condenou as “multidões furiosas” que estavam a atacar monumentos e a “desencadear uma onda de crimes violentos”, anunciando que daria ordem para se criar uma “guarda nacional de heróis americanos”), os apoiantes do presidente voltaram a ser brindados com Rockin’ in the free world. Young publicou de imediato um tweet a manifestar o seu desagrado e a afirmar a sua solidariedade com os índios Lakota, numa referência aos protestos destes por Trump ter escolhido iniciar as comemorações do Dia da Independência (4 de Julho) no Monte Rushmore – onde estão esculpidas as cabeças de quatro presidentes americanos (George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln) –, monumento visto pelos índios como um símbolo da supremacia branca e uma homenagem aos líderes políticos responsáveis pelo roubo das suas terras ancestrais.

Young afirma agora ter reconsiderado a sua decisão inicial de não processar Trump e afirma-se inclinado a fazê-lo. “Imaginem o que sinto ao ouvir Rockin’ in the free world depois de este presidente falar, como se fosse a sua canção-tema”, diz o músico. “Não a escrevi para isto!”

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