Combate ao incêndio de Oleiros pode arrastar-se até quarta-feira, diz ministro da Administração Interna

O incêndio que já alastrou aos concelhos de Proença-a-Nova e à Sertã é a única ocorrência grave registada no site da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. Bandeiras das associações de bombeiros estão a meia-haste em homenagem ao operacional de 21 anos que morreu ontem num despiste enquanto combatia este incêndio

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O incêndio que começou em Oleiros não deu tréguas durante toda a noite e continua a preocupar LUSA/ANTÓNIO JOSÉ

O incêndio de Oleiros poderá continuar a mobilizar meios pelo menos “até terça ou quarta-feira”, disse este domingo o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, em conferência de imprensa, afirmando que a prioridade é “salvaguardar vidas humanas, com a realização das evacuações que se vierem a considerar necessárias”.​

No dia em que o país tem 54 concelhos com risco máximo de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o fogo que mais meios mobiliza e mais preocupação causa continua a ser o de Oleiros, no distrito de Castelo Branco, que nesta manhã de domingo tinha ainda três frentes activas, mobilizando, pelas 15h, 756 operacionais e 12 meios aéreos. Durante a manhã havia vários núcleos habitacionais na zona de fogo, o que fazia aumentar a preocupação, mas o início da tarde trouxe uma melhoria ao combate. Este sábado, um bombeiro que combatia este incêndio morreu na sequência de um despiste, que provocou ainda ferimentos em mais seis pessoas. Foi o terceiro bombeiro a morrer este ano.

Numa conferência de imprensa que começou pelas 12h deste domingo, o ministro da Administração Interna garantiu que estão “mobilizados todos os recursos necessários” no combate a este fogo, mas admitiu que “a grande complexidade” do incêndio e as condições muito desfavoráveis que se fazem sentir na região, com baixos níveis de humidade, temperaturas a chegar aos 43 graus e ventos superiores a 65 quilómetros por hora, podem arrastar o combate “até terça ou quarta-feira”. “Estamos a fazer todos os esforços na contenção do incêndio e protecção de vidas humanas, num combate de trás para a frente, nos flancos, onde é tecnicamente viável”, disse.

Situação melhorou ao início da tarde

Também esta manhã, numa outra conferência de imprensa, o comandante distrital de Operações de Socorro de Castelo Branco, Luís Belo Costa, afirmara que o incêndio que começou no sábado em Oleiros, e alastrou entretanto aos concelhos de Proença-a-Nova e Sertã, avançou com grande violência e chegou a uma zona de pequenas aldeias. “O incêndio teve uma propagação violentíssima desde o início e, apesar de termos registado que os trabalhos de combate estavam a correr muito favoravelmente, fruto de muitas projecções que aconteceram pela intensificação do vento, não foi possível na fase inicial dominar este incêndio”, referiu.

Luís Belo Costa afirmou ainda que houve já habitações atingidas pelas chamas e pessoas que foram retiradas, temporariamente, de casa, acrescentando que o facto de o fogo continuar a avançar para zonas com vários pequenos núcleos habitacionais no caminho “tem trazido preocupação acrescida na sua defesa”. “Há habitações atingidas pelas chamas. Mas é cedo para fazer um levantamento. Durante a progressão do incêndio houve pessoas que foram deslocadas das suas habitações, mas a maioria já regressou”, referiu.

O levantamento total dos danos será feito pelos serviços municipais, referiu o comandante, pelas 10h, altura em que admitia não haver qualquer previsão para o tempo que ainda seria necessário para dominar o incêndio, uma vez que “o trabalho é extraordinariamente difícil nesta zona do território”.

Pelas 14h30, as informações do comando distrital eram, contudo, mais optimistas. Não havia já qualquer povoação em perigo, embora subsistisse algum risco para um pequeno núcleo habitacional no concelho de Oleiros. A presença de meios de combate no local fazia com que não fosse necessário retirar os moradores. 

O amainar do vento fazia com que, a esta hora, o combate às chamas estivesse a ser mais bem-sucedido, o que levava uma fonte do comando distrital a indicar que o incêndio, ainda em curso, estava “a ceder muito favoravelmente”.

Já o presidente da Câmara de Oleiros, Fernando Jorge, mostrava-se um pouco mais optimista com a evolução do fogo no seu concelho. Em declarações à SIC Notícias o autarca disse ter a expectativa que as chamas possam ser totalmente apagadas em Oleiros ainda hoje. “É muito provável que s consiga controlar o incêndio ainda hoje, mas continuamos preocupados com os reacendimentos e com os concelhos vizinhos de Proença-a-Nova e Sertã. Nós não temos já povoações em risco o que é muito significativo”, disse, contabilizando a área ardida no seu concelho nos “cerca de 500 hectares”.​

Mais de 13 mil hectares ardidos

Castelo Branco é um dos oito distritos que este domingo enfrentam risco máximo de incêndios, segundo o IPMA. Os restantes são Bragança, Guarda, Viseu, Leiria, Santarém, Portalegre e Faro, no total de 54 concelhos.

Um ponto da situação feito pelas 10h, na página da Autoridade Nacional e Emergência e Protecção Civil, identificava o incêndio de Oleiros como a única ocorrência importante no país. Havia, àquela hora, 18 incêndios rurais no país. Fogos como os que começaram no sábado nos distritos de Bragança e Viana do Castelo estavam já em fase de resolução.

Num dia que volta a apresentar-se como difícil no combate aos fogos, a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) anunciou que as associações de bombeiros do país vão colocar as suas bandeiras a meia haste, em homenagem ao operacional dos Bombeiros Voluntários de Proença-a-Nova, de 21 anos, que morreu no sábado, na sequência de um despiste, enquanto combatia o fogo de Oleiros. 

Em comunicado, a LBP juntou-se a todas as entidades que já manifestaram tristeza por mais esta morte, a terceira de um bombeiro envolvido em combate a incêndios este mês. Um chefe dos Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo, de 55 anos, morreu a 11 de Julho, num incêndio na Lousã, e um outro, dos Bombeiros Voluntários de Leiria, com 34 anos, morreria após doença súbita no dia 18 deste mês, enquanto participava nas operações de rescaldo de um fogo naquele distrito.

Segundo os dados provisórios do Instituto Nacional da Conservação da Natureza e das Florestas, desde o início do ano até este domingo a área ardida em Portugal chegava aos 13.190 hectares, num total de 4720 ocorrências. Daquela área, 42% correspondia a povoamentos florestais, 34% a matos e 24% a áreas agrícolas. O ministro da Administração Interna deu conta que mais 2000 do total de fogos deste ano aconteceram já neste mês de Julho. Já o autarca de Oleiros afirmava que o incêndio que começou no seu concelho e que ainda está a ser combatido pode ter consumido já, nos três concelhos que afecta, “cinco mil hectares de pinhal”.

Pelas 9h30 deste domingo foi activado o serviço de gestão de emergência do Copernicus, um mecanismo da União Europeia a que os estados-membros recorrem habitualmente sempre que há incêndios em terrenos mais difíceis, uma vez que disponibiliza mapas satélites em tempo real e grande precisão geoespacial. 

O Copernicus só é activado mediante um pedido expresso do estado-membro que recorre a este apoio. Numa publicação no Twitter, o comissário europeu para a Gestão de Crises e Protecção Civil, Janez Lenarcic, confirmou que a Comissão Europeia está “a acompanhar de perto os incêndios florestais em Oleiros” e que o Copernicus foi activado “para apoiar as autoridades de protecção civil” portuguesas.

O comissário escrevia ainda que a União Europeia está “pronta para providenciar qualquer outra assistência” que possa vir a ser necessária, garantindo: “Os nossos pensamentos estão com todos os afectados”.

com Lusa

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