Turistas do Reino Unido sujeitos a quarentena no regresso. Portugal insiste que decisão não está fundamentada

Reino Unido não levanta quarentena aos viajantes oriundos de Portugal. Londres informou Lisboa ao fim da tarde de quinta-feira da decisão sem a justificar.

O apelo de um britânico para o seu governo: Portugal "é um lugar seguro" Reuters e Vera Moutinho

“O Governo lamenta decisão não fundamentada nos factos e dados que são públicos”. Foi desta maneira que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, reagiu ao fim da manhã desta sexta-feira à decisão do Reino Unido de impor um período de quarentena aos viajantes oriundos de Portugal, o que põe em causa as correntes turísticas britânicas para Portugal.

O chefe da diplomacia portuguesa falava nos Passos Perdidos, no Parlamento, no final do debate do estado da nação. “Aguardamos que as autoridades britânicas evoluam”, disse, laconicamente, Santos Silva.

Foi no final da tarde desta quinta-feira que Londres informou Lisboa sobre a sua decisão de manter a quarentena. “Mas não explicaram os fundamentos científicos e técnicos dessa decisão”, lamentou.

Augusto Santos Silva confirmou que nas últimas duas semanas manteve várias reuniões com o seu homólogo britânico, que o levaram a ter esperança numa outra decisão. Os britânicos apontaram cinco critérios: nível de testagem, taxa de letalidade, índice de reprodução da infecção, resposta dos serviços de saúde e casos por 100 mil habitantes.

Sem o especificar, o ministro português deu a entender que foi este quinto critério que não permitiu a retirada de Portugal da lista de países não recomendáveis para turismo e que obrigavam, assim, a uma quarentena no regresso.

“Espero que, mais dia, menos dia, mais semana menos semana, a decisão seja revista”, comentou Augusto Santos Silva.

“Continuamos a trabalhar para que os portugueses residentes no Reino Unido possam vir a Portugal e regressar sem quarentena”, destacou. “Digo aos cerca de 40 mil britânicos residentes em Portugal que faremos todo o possível [para demover Londres]”, anunciou

Critérios “científicos e técnicos”, diz Embaixada Britânica

A embaixada do Reino Unido admitiu nesta sexta-feira como “decepcionante para Portugal” a decisão de Londres de manter as restrições às viagens, mas assegurou que ela se baseia “exclusivamente em considerações de saúde pública” e “pareceres científicos e técnicos”.

“Sabemos que este é um resultado decepcionante para Portugal”, afirma a embaixada dirigida por Chris Sainty num comunicado divulgado após o anúncio da decisão do Governo britânico de manter Portugal fora dos corredores de viagens que isentam os passageiros de quarentena na chegada ao Reino Unido. O comunicado frisa que “o primeiro dever de qualquer Governo é proteger sua população” e que “estas decisões são baseadas exclusivamente em considerações de saúde pública com o objectivo de minimizar o risco para os viajantes britânicos e o risco de importar novos casos de covid-19 para o Reino Unido”.

E aponta que “as decisões do Governo britânico são baseadas nos pareceres científicos e técnicos elaborados pela autoridade de saúde de Inglaterra (Public Health England -PHE) e pelo do Centro Conjunto de Bio-segurança (Jont Biosecurity Center - JBC)”. “As autoridades de saúde tomam em consideração uma série de factores que afectam as viagens ao estrangeiro, tais como as taxas semanais de incidência ajustadas à população, a taxa de mortalidade, o nível de testes no país (taxa, capacidade, taxa de positividade), os dados reportados pelos países da OMS, e a evidência epidemiológica”, explica-se no texto.

A embaixada afirma que os cientistas que aconselham o Governo britânico “tiveram acesso a todos os dados relevantes de fontes públicas” e “ao extenso leque de informações e evidência disponibilizadas pelas autoridades portuguesas” e tiveram em consideração não apenas o número de casos mais recentes como “dados regionais, dados sobre testes, estratégia de testagem e a natureza dos recentes surtos” em Portugal.

A embaixada assegura reconhecer “os esforços abrangentes por parte do Governo português e das autoridades de saúde”, mas considera que, “devido aos surtos nas últimas semanas, a prevalência do vírus em Portugal continental durante o período recente permaneceu persistentemente alta”.

“Embora os indicadores estejam a melhorar em Portugal, não estão ainda a um nível que permita ao Governo britânico aliviar estas restrições”, afirma.

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