Lacci, de Daniele Luchetti, abre a primeira edição de um festival físico em tempo de pandemia: Veneza 2020

Pela primeira vez em 11 anos, um filme italiano abre a festa. O que vai acontecer entre 2 e 12 de Setembro saber-se-á na próxima terça-feira quando a programação for anunciada.

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Nanni Moretti em Il Portaborse, filme de Lucheti produzido pelo próprio Moretti

Há 11 anos que o Festival de Veneza não tinha um filme italiano a fazer as honras de abertura. Vai acontecer a 2 de Setembro, no início da 77.ª edição do festival: Lacci, de Danielle Luchetti. Cineasta que, segundo o comunicado da direcção do festival, se diz “honrado” por abrir o baile deste “primeiro grande festival em tempos incertos”.

“Recentemente tivemos medo de que o cinema se extinguisse”, diz Luchetti no mesmo comunicado. “E no entanto durante a quarentena ele confortou-nos, como uma luz a brilhar numa caverna. E hoje percebemos outra coisa: que os filmes, as séries de televisão, os romances são indispensáveis na nossa vida. Que vivam os festivais, então, por nos permitirem juntarmo-nos para celebrar o verdadeiro sentido do nosso trabalho. Se alguém alguma vez pensou que não servia propósito algum, sabe agora que é importante para toda a gente”, diz o realizador de La nostra vita (prémio para melhor actor a Elio Germano em Cannes e um filme muito bonito, na verdade, bonito e triste porque consciente da impossibilidade de hoje o cinema italiano ser povoado por Dino Risi, Mario Monicelli, Luigi Comencini e tutti quanti), Mio fratello è figlio unico ou Il portaborse, que tinha Nanni Moretti (para além de produtor) como intérprete da figura de um ministro corrupto, um protagonismo fora do seu próprio cinema que lhe valeu, estávamos em 1991, o prémio de interpretação David di Donatello.

Lacci, filme com Alba Rohrwacher, Luigi Lo Cascio, Laura Morante, Silvio Orlando, Giovanna Mezzogiorno, Adriano Giannini, Linda Caridi que abre fora de concurso a 77.ª edição (de 2 a 12 de Setembro) do Festival de Veneza, procede à anatomia de um casamento. O de Aldo e Vanda, que se casam nos anos 80 em Nápoles, e que se começa a desintegrar quando ele se apaixona por Lidia. Trinta anos depois, continuam casados: o mistério dos sentimentos, a lealdade e a infidelidade, o ressentimento e a vergonha, numa adaptação do romance de Domenico Starnone.

Alberto Barbera, o director do festival, que na terça-feira apresentará o programa completo desta 77.ª edição (aí se perceberá melhor que festival internacional poderá ser este que se realiza ainda durante a pandemia, experiência excepcional que quer arriscar marcar definitivamente a abertura da indústria mas que talvez não consiga evitar ser um festival “local"), quer talvez puxar a brasa à sua sardinha. Ou impedir que se comece a dizer que pela primeira vez em 11 anos um filme italiano abre o festival porque a covid-19 tornou o cinema americano (por exemplo) mais inacessível ao Lido. Diz no comunicado distribuído à imprensa que Lacci é “um sinal da fase promissora que atravessa o cinema italiano, continuando a tendência positiva observada em anos recentes, que a qualidade dos filmes seleccionados este ano para Veneza vai certamente confirmar”.

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