O “pacto de regime”

Confundir a crítica dos pares com censura diz sobretudo de quem a concebe assim.

Assinei há dias um documento com mais 66 docentes e investigadores de várias Ciências Sociais a criticar um livro de Riccardo Marchi que achamos ser uma tentativa “normalização, legitimação e branqueamento de um partido racista e com desígnios antidemocráticos”. O autor, que diz ter sido convidado por uma editora respeitável para publicar um “ensaio” que não “[resvalasse] para a demonização ou, ainda pior, para a apologia” (p. 16), fala do Chega como de uma Nova direita anti-sistema (título do livro). Que “sistema” é esse? É um “regime” marcado pelas “contingências históricas do 25 de Abril de 1974” e o “enviesamento à esquerda”, que “permite” apenas uma “direita tíbia, receosa de reivindicar a sua identidade, impossibilitada em assumir a crítica anti-sistema, sujeita à constante demonização através dos chavões do extremismo, do fascismo, do racismo” (p. 193). Tese central: o Chega, sem receio de assumir o seu caráter “antissistémico”, não é nenhuma destas três coisas; é, sim, um partido “populista de nova direita radical”, com um líder “jovem, ambicioso, pragmático, empático, telegénico”, empenhado na sua “transformação de partido de protesto em partido com vocação de governo”, apostado na “refundação da República” (pp. 198-99).

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