Vencedor do Estação Imagem Coimbra 2020 diz que prémio representa dedicação à fotografia

José Sarmento Matos foi distinguido pelo seu trabalho sobre o regresso a Portugal de uma família luso-venezuelana. Patrick Chauvel, presidente do júri, defende que a qualidade da fotografia pode atrair a atenção do leitor.

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Abandonando o sonho venezuelano José Sarmento Matos

O fotojornalista José Sarmento Matos, vencedor da Estação Imagem Coimbra 2020, argumenta que o prémio representa a sua dedicação à fotografia documental e fotojornalismo e ao premiado trabalho sobre o regresso a Portugal de uma família luso-venezuelana.

“[O prémio] é um culminar de dedicação específica a este projecto, a este tema, a estas pessoas, que me dão tanto e eu não sei o que dou em troca. Dou a minha presença, dou a partilha de experiências incríveis”, disse à agência Lusa José Sarmento Matos.

Em declarações à margem da cerimónia de consagração, realizada este sábado em Coimbra, o autor considerou que a disponibilidade da família retratada na reportagem Abandonando o sonho venezuelano permitiu-lhe mostrar “o que é a situação na Venezuela” e o regresso de muitos luso-venezuelanos “e venezuelanos também” a Portugal.

“Não é um regresso, necessariamente. É voltar e recomeçar uma vida num sítio que é casa, mas ao mesmo tempo não é, que é a [ilha da] Madeira. E é o culminar de três anos de trabalho que ainda não percebi bem se está terminado”, afirmou.

José Sarmento de Matos adiantou, por outro lado, que pretende continuar a retratar a temática da diáspora portuguesa no mundo. O fotojornalista, que vive entre Lisboa e Londres, diz que “praticamente” não trabalha em Portugal, fazendo-o, isso sim, a partir de Lisboa, para publicações ou projectos no estrangeiro e considera que isso “é uma diferença muito grande” no exercício da profissão. “A indústria, de uma forma geral, está um pouco abalada com muitas coisas e há muitos problemas na possibilidade de ter trabalho e contar histórias, é muito difícil. Em Portugal é mais difícil ainda, há muitos fotojornalistas neste momento em Portugal com situações muito difíceis”, lembrou.

Para José Sarmento Matos, embora no nosso país não exista “um futuro brilhante ou um presente brilhante a acontecer” no fotojornalismo, eventos como o Estação Imagem permitem “expor algumas histórias que não podem ficar esquecidas”.

Contar uma história

Já Patrick Chauvel, o mais antigo repórter de guerra em exercício e presidente do júri da edição deste ano do festival de fotojornalismo, considerou que a parte mais importante dos eventos como o Estação Imagem “é toda a gente tentar mostrar o seu trabalho e tentar contar a sua história”. “E é sempre muito difícil escolher: há histórias melhores que outras, e dentro das melhores histórias há melhores fotografias”, exemplificou.

O júri, continuou Patrick Chauvel, se por vezes deixa de lado “algumas pessoas que precisam da nossa ajuda para continuar” e que apresentam a concurso “fotografias que não são perfeitas”, por outro consegue “sentir a intenção, o romantismo ou o interesse que [esses fotojornalistas] têm nas pessoas [que retratam]”. “E, por vezes, escolhemos essas histórias, também, porque conseguimos sentir a unidade [do trabalho]”, sublinhou.

Para o decano francês dos repórteres de guerra em actividade, estes eventos “ajudam os jovens ou não tão jovens fotógrafos a seguir uma história”. “E porque as notícias regulares actualmente estão a decrescer economicamente, precisamos do apoio de exposições e festivais como este para manter as histórias [contadas pelos fotojornalistas]”, defendeu.

Questionado pela Lusa sobre se é mais importante a qualidade das imagens ou a história que as fotografias contam, Chauvel respondeu que “muitas vezes um bom fotógrafo consegue ser um mau editor” e é possível “ver que o tipo provavelmente tem melhores fotografias, mas não as escolheu”.

“Para mim, é claro que a história é muito importante. Mas, como repórteres com uma câmara, ou de rádio ou a escrever, temos uma responsabilidade, temos de ser bons. Se não o formos, estamos a trair as pessoas que nos estão a contar a história delas”, enfatizou.

Por outro lado, Patrick Chauvel apontou a importância da qualidade das fotografias, porque é esta que atrai a atenção do público. “Se for uma imagem forte, vão ver e depois vão ler. Se a imagem não for boa, então não estás a fazer bem o teu trabalho, portanto, tens de ser bom”, reafirmou.

Nos prémios, ainda assim, também conta a necessidade de “dar à luz uma história de pessoas que nunca foi contada”, que mostra que o fotógrafo a “procurou e descobriu”.

Sobre a situação actual da pandemia de covid-19, Patrick Chauvel disse que ela afectou o trabalho de fotojornalistas pelo mundo fora “que não podiam apanhar aviões” para se deslocar – o próprio presidente do júri chegou a equacionar a hipótese de se deslocar de carro de França até Portugal para estar presente na cerimónia de Coimbra –, mas não a qualidade das fotografias.

“O que acho é que os grandes media fizeram coisas a mais acerca da pandemia de covid-19 e deviam contar outras histórias também. Falam muito disto, é um acontecimento importante e dramático, mas não é mais dramático do que a guerra na Síria ou coisas assim”, argumentou.

Luís Vasconcelos, promotor do Estação Imagem, frisou que o evento se vai manter em Coimbra, continuar a escolher “boas exposições para mostrar às pessoas e continuar a apostar no fotojornalismo português”.

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