Museu Nacional de Arte Africana Smithsonian acusado de promover cultura de racismo

Um grupo de ex-funcionários da instituição americana escreveu uma carta onde alega que relatórios formais sobre preconceitos e ataques raciais foram ignorados.

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Um grupo de ex-funcionários e membros do conselho do Museu Nacional de Arte Africana Smithsonian, em Washinghton, escreveu uma carta não assinada, acusando o museu de promover uma cultura de racismo, alegando que relatórios formais sobre preconceitos e ataques raciais foram ignorados.  

Numa carta enviada a semana passada ao secretário do Smithsonian, Lonnie G. Bunch III, é aludido que ex-funcionários e actuais funcionários negros foram alvo de “incidentes de preconceito racial, ataques verbais hostis, retaliações, rescisões, agressões e comentários degradantes”, num cenário que remontará aos últimos cinco anos. Segundo a carta, revelada em primeira mão pelo HuffPost, as queixas nunca foram atendidas.

Na última quarta-feira o Smithsonian divulgou um comunicado em resposta à carta, onde era enfatizado o compromisso do museu com a diversidade. Os responsáveis pelo museu estão “cientes da necessidade de recrutar, empregar e capacitar mais curadores e artistas que representam diversos campos e formações”, diz o comunicado. “Embora as nossas colecções e exposições representem uma rica diversidade de perspectivas, de pensamentos, artistas e bolsas de estudo, reconhecemos que devemos continuar a aumentar a diversidade dentro do museu, promovendo um comportamento inclusivo entre todos os funcionários do Smithsonian.”

O museu tem uma equipa de 29 pessoas, com seis funcionários negros e um latino. Nenhum dos três curadores da instituição é negro, confirmou um porta-voz do Smithsonian. Três directores lideraram o museu desde 2008, sendo todos negros. O actual director, Lonnie G. Bunch III, não proferiu quaisquer comentários. Uma ex-directora, Deborah L. Mack, afirmou, no entanto, não gostar de, na actualidade, não existirem curadores negros, embora seja da opinião que as queixas se devem a uma equipa sobrecarregada e não a racismo, observando que o museu tinha 60 funcionários em 2000, em contraste com os 29 que possui hoje em dia.

Um ex-educador do museu de arte africana, Milton Jackson, afirmou, entretanto, ao New York Times, ser ele um dos protagonistas da carta. Em 2016 já havia apresentado uma queixa formal de discriminação contra o museu. Na carta encontram-se algumas recomendações, incluindo sobre a diversidade e representatividade dos funcionários e o afastamento da vice-directora e curadora Christine Mullen Kreamer, que os subscritores descrevem como favorecendo os funcionários brancos e intimidando os negros.

No final de Junho, outra instituição museológica, o Guggenheim de Nova Iorque, viveu uma situação com contornos semelhantes. Na altura, os curadores da instituição enviaram uma carta ao director-geral, à directora de operações, à representante do Conselho Geral e à directora artística, assinalando que a fundação precisava de levar a cabo “reformas urgentes” para fazer frente a um “ambiente de trabalho desigual que permite o racismo, a supremacia branca e outras práticas discriminatórias”.

O comunicado, que também não era assinado, por medo de represálias, manifestava uma “preocupação colectiva” relativamente ao estado do museu, salientando que este deve “pôr um fim à cultura de favoritismo e silenciamento” sob a qual, diziam os autores, o Guggenheim conduz as suas operações. Os curadores apontavam para a necessidade de os representantes do museu reverem a “história predominantemente branca e masculina das [suas] exposições”, sublinhando que a direcção deveria encomendar uma investigação acerca da discriminação que terá sofrido a artista negra Chaédria LaBouvier, que o Guggenheim convidou para fazer a curadoria da exposição Basquiat’s ‘Defacement’: The Untold Story.

Uma semana mais tarde a fundação abriu uma investigação independente para apurar as circunstâncias da exposição à volta de Basquiat, já depois de LaBouvier ter afirmado que trabalhar com Nancy Spector, a directora artística e curadora-chefe da fundação, foi “a experiência profissional mais racista da [sua] vida”. 

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