Primeira missão árabe a Marte prestes a partir – logo depois seguem a China e os EUA

Sonda Hope vai ser lançada a partir do Centro Espacial Tanegashima (no Japão) e um dos seus objectivos científicos é estudar a atmosfera de Marte. Também a China e os EUA se preparam para viajar até ao planeta vermelho.

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Sonda Hope com os painéis solares abertos MBRSC/CU-LASP

Além das suas 1,3 toneladas, a sonda Hope transportará consigo até Marte o peso de ser a primeira missão interplanetária árabe e a esperança (tal como indica o seu nome) de inspirar as gerações mais novas dos Emirados Árabes Unidos. Por agora, esta missão está planeada para ser lançada no próximo domingo, 19 de Julho, às 22h58 (hora de Lisboa), do Centro Espacial Tanegashima (no Japão), depois de já ter sido adiada duas vezes devido às condições meteorológicas. Espera-se que a sonda chegue ao planeta vermelho em Fevereiro de 2021 e que, com a informação que recolher, produza o primeiro mapa global da atmosfera de Marte. Um robô dos Estados Unidos e uma sonda da China também seguirão viagem até Marte nas próximas semanas, entre o final de Julho e o início de Agosto. 

Em 2014, os Emirados Árabes Unidos anunciaram planos para uma missão a Marte que alcançaria o planeta em 2021, precisamente no ano da celebração do 50.º aniversário da fundação do país. Contudo, o país tinha pouca experiência no desenvolvimento de sondas. Para isso, foram feitas parcerias com universidade norte-americanas que tinham essa experiência.

Engenheiros dos Emirados e dos Estados Unidos construíram os sistemas da sonda e três instrumentos que irão a bordo da Hope. O desenvolvimento da sonda foi feito no Laboratório para Física Espacial e Atmosférica da Universidade do Colorado, em Boulder (Estados Unidos), e no Centro Espacial Mohammed Bin Rashid, no Dubai.

Os Emirados Árabes Unidos não queriam viajar até Marte e fazer as mesmas medições que outros países já tinham feito. Por isso, questionaram ao comité consultivo da NASA, o Grupo de Análise do Programa de Exploração de Marte, sobre o que poderia ser útil e trouxesse novos conhecimentos científicos.

A Hope vai então a Marte para estudar como a atmosfera marciana muda ao longo dos dias e nos ciclos sazonais. Se tudo correr bem, esta será a primeira sonda a dar-nos uma imagem abrangente da atmosfera de Marte, bem como das suas nuvens, gases e tempestades de poeiras. Um dos objectivos é o de que estas informações venham a estar disponíveis para todos. Além de ajudar a responder a questões sobre a atmosfera de Marte, a sonda também vai tentar encontrar respostas sobre a perda de hidrogénio e oxigénio para o espaço ao longo do ano marciano.

“Era muito importante para nós servirmos uma área da ciência que fosse relevante não apenas para os Emirados Árabes Unidos, mas também para toda a comunidade científica internacional”, disse ao site da revista Nature Sarah Al Amiri, responsável científica da missão e ministra de Ciências Avançadas dos Emirados Árabes Unidos.

Sarah Al Amiri começou por ser engenheira de software no Centro Espacial Mohammed Bin Rashid e agora é uma das caras da missão. De acordo com o site da BBC, 34% das pessoas com nacionalidade dos Emirados Árabes Unidos são mulheres. “Estou muito feliz que os meus filhos cresçam num tempo em que há muito mais oportunidades de escolha. Vão ser testemunhas de como os Emirados enviaram uma missão a Marte”, disse Sarah Al Amiri ao jornal El Mundo.

Diversificar a economia

Um dos objectivos dos Emirados Árabes Unidos com iniciativas como esta é a diversificação da sua economia, que é actualmente dominada pelo petróleo. No fundo, procura-se uma economia ligada ao conhecimento. Espera-se ainda que esta missão inspire os estudantes do país a explorar novas disciplinas, nomeadamente as que estejam relacionados com as ciências do espaço.

“O Governo dos Emirados Árabes Unidos quis inspirar os mais jovens do país a seguirem as STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e quis usar esta missão como um catalisador para a mudança de múltiplos sectores, incluindo o sector académico, industrial e económico”, afirmou ao site da CNN Omran Sharaf, gestor de projecto da missão. Por isso mesmo, deu-se o nome de Al Amal à sonda, que se traduziu para Hope, em inglês.

Espera-se que a sonda chegue a Marte em Fevereiro de 2021. Depois, se os planos forem cumpridos, ficará activa durante um ano marciano (o que equivale a um ano, 321 dias e sete horas na Terra). Mas os riscos da chegada a Marte são elevados. Metade de todas as missões enviadas ao planeta vermelho acabou por fracassar, segundo a BBC. Omran Sharaf reconhece os riscos: “Esta é uma missão de investigação e desenvolvimento e, sim, o fracasso pode ser uma opção”, disse à BBC. “Mas o que interessa sobretudo é a capacidade que os Emirados Árabes Unidos ganharam com esta missão e o conhecimento que ela trouxe para o país.”

As viagens para Marte agendadas para este ano não ficam por aqui. A NASA quer lançar o robô Perseverance para recolher amostras de rochas do planeta – a janela de oportunidade é entre 30 de Julho e 15 de Agosto. Também a China quer enviar a Marte a sonda Tianwen-1 entre o final de Julho e o início de Agosto. Em princípio, esta sonda será lançada na próxima semana do Centro de Lançamento Espacial de Wenchang (na ilha da Hainan, na China). Espera-se que chegue a Marte em Fevereiro de 2021 e leva consigo instrumentos científicos para analisar o clima ou o ambiente magnético​. 

E os Emirados Árabes Unidos têm ambições a muito longo prazo para Marte: o país marcou como objectivo de ter uma povoação humana no planeta por volta de 2117.

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