Estudo serológico da Universidade Nova mostra que 2,9% tiveram contacto com novo coronavírus

A presença de anticorpos indica se houve contacto com o coronavírus. Dos 1645 testados, apenas em 48 pessoas foram detectados anticorpos para o novo coronavírus.

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Testes serológicos são feitos para detectar se a pessoa já esteve infectada e se desenvolveu anticorpos LUSA/AMPE ROGERIO

Apenas 48 das 1645 pessoas que fizeram testes serológicos na Universidade Nova de Lisboa tinham anticorpos contra o SARS-CoV-2, o vírus que provoca a covid-19. O estudo, que abrangeu trabalhadores e alunos da instituição, foi feito na segunda quinzena de Junho e os resultados foram revelado esta sexta-feira, em comunicado.

As 48 pessoas com anticorpos correspondem a 2,9% da amostra, composta por professores, investigadores, colaboradores e estudantes. A presença de anticorpos mostra que essas pessoas estiveram em contacto com o vírus e não se sabe se estão realmente protegidas de reinfecções e, se estiverem, quanto tempo dura essa imunidade.

Os anticorpos IgG, cuja presença indica se houve contacto com o vírus nas semanas anteriores, foram descobertos principalmente no pessoal da Faculdade de Ciências Médicas (Nova Medical School), que corre um maior risco de contacto com o vírus devido aos espaços utilizados e ao tipo de trabalho. Nos 243 membros daquela faculdade, foram detectados anticorpos em 6% dos testados.

Os testes serológicos foram desenvolvidos pelo Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC) da Nova Medical School, que realizou os testes no âmbito do consórcio Serology4Covid, um consórcio que junta cinco centros de investigação em Lisboa e Oeiras.

O estudo excluiu pessoas com sintomas activos, ressalva a investigadora principal, Helena Soares, e concentrou-se em pessoas “assintomáticas ou que tinham tido sintomas ligeiros, embora seja complicado perceber porque, quando as pessoas pensam retrospectivamente, pensam sempre numa gripe como ligeira. Portanto, algumas eram assintomáticas, outras lembravam-se de pequenos episódios virais”.

O objectivo destes estudos é, diz a Universidade Nova de Lisboa, é “avaliar a exposição ao coronavírus na comunidade da instituição para traçar um panorama mais realista e completo, de modo a poderem ser implementadas novas estratégias para controlar a propagação da doença e minimizar as suas consequências para a saúde, sociedade e economia”.

Para Helena Soares, é difícil prever quando é que será possível dizer que há imunidade de grupo, porque a covid-19 não existe há tempo suficiente nas nossas vidas nem é o único factor a ter em conta “Não sabemos quanto tempo é que a imunidade dura, não passou tempo suficiente nem sabemos sequer muito bem como a vamos medir nem a correlação com a imunidade. É muito provável que haja um período de protecção, mas ainda não sabemos quanto.”

Helena Soares explica ainda que é difícil falar de imunidade de grupo nesta fase: “A protecção vem de uma imunização activa e o número que se estipula é pensado desde que a população esteja vacinada, tendo em conta os membros que não podem receber vacinas, por várias razões. É importante frisar que o conceito de imunidade de grupo vem da vacinação, não vem da infecção, depende de controlar a prevenção.”

Resultados de estudo nacional não deverão divergir muito deste, acredita investigadora

Em Portugal, o primeiro estudo serológico foi feito em Loulé, em Abril, abrangendo grupos de risco como forças de segurança, funcionários de lares e profissionais de saúde, entre outros. O estudo concluiu que, nessa população com elevado risco de infecção, apenas 2,8% tinham anticorpos para o novo coronavírus, mas esses 2,8% correspondiam a um valor 14 vezes superior à taxa de infecção calculada através de testes de diagnóstico.

Foram também desenvolvidos estudos nos hospitais de Santa Maria, em Lisboa, e de Santo António, no Porto. Como a amostra foi composta sobretudo por médicos e enfermeiros, os valores registados foram mais elevados. No hospital de Santa Maria, foram detectados anticorpos em 6,5% dos profissionais testados e no Santo António esse valor atingiu os 8,4% — o Norte foi a região mais afectada nas primeiras semanas da pandemia em Portugal.

Falta saber ainda os resultados do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), que desenvolveu um estudo serológico a nível nacional. Os resultados deverão estar disponíveis no final de Julho.

Para Helena Soares, os resultados do INSA não deverão divergir muito dos resultados do CEDOC, apesar de incluírem resultados de zonas rurais.

“Isto [estudo do CEDOC] foi uma amostragem dos funcionários e alunos de uma universidade. Em termos de amostragem, embora seja bastante grande, não podemos dizer que é representativa do país. Não há crianças, não há idosos e há um certo constrangimento em termos de amostragem. Se será muito diferente, tendo em conta que estudos internacionais anteriores, é possível que não, mas temos de estar à espera de outros resultados. Provavelmente haverá diferenças a nível local, mas vão ser diluídas a nível nacional, já que os estudos internacionais foram feitos em contextos citadinos.”

Em Maio, foram feitos estudos serológicos retrospectivos em França que detectaram anticorpos de pessoas com pneumonias em 2019, colocando-se a hipótese de que a covid-19 já teria chegado à Europa antes do final do ano.

Desde então, a Organização Mundial da Saúde aconselhou os Governos a realizar estudos serológicos para ser possível perceber melhor como é que a doença se propagou pelo mundo e para arranjar novas formas de a combater.

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