Covid-19: Sul da Europa devia ser mais activo face ao turismo, nota OMT

Pandemia vai afectar “seriamente” a forma de desfrutar as férias e implicar uma mudança mental, social e cultural, diz Alessandra Priante.

Foto
OMT calcula uma queda do turismo internacional de pelo menos 70% face a 2019 Daniel Rocha

A Organização Mundial do Turismo (OMT) considera que Espanha e alguns outros países do Sul da Europa têm tido uma “certa tendência para a passividade” com os fluxos de turistas, em tempos de pandemia.

Estes fluxos “chegam sozinhos, quase não é preciso publicidade” e, por isso, países como Espanha, onde a OMT tem a sua sede, mas também Itália ou Grécia, deviam planear melhor e ser mais proactivos, avalia a directora da Comissão Regional da Europa da OMT, em entrevista à agência espanhola Efe.

Alessandra Priante, que participará dentro de dias no fórum virtual EURAGORA – organizado conjuntamente pela Efe e pela Lusa – sobre o impacto da covid-19 no turismo, não duvida de que a pandemia vai afectar “seriamente” a forma de desfrutar as férias e implicar uma mudança mental, social e cultural.

“As máscaras e a distância de segurança são o contrário do que significa o turismo, que é o gosto por coisas novas, a confiança nos outros... Acontece que agora as regras dizem que devemos fazer justamente o contrário, manter a distância, não confiar nas pessoas que não conhecemos”, distingue.

A directora da OMT afasta a possibilidade de se recuperar esta temporada de Verão, porque a esta altura do ano já devia estar tudo vendido e isso não aconteceu.

A OMT calcula uma queda do turismo internacional de pelo menos 70% face a 2019 – quando, antes da pandemia, tinha previsto um aumento global de 4%.

O sector aspira a “sobreviver” para “iniciar a recuperação” em 2021, que será mais fácil para os mercados europeus nos países que já estão a abrir fronteiras, enquanto mercados de origem de turistas importantes, como os Estados Unidos, ainda não estão abertos. Mas Alessandra Priante confia que as fronteiras não vão voltar a fechar.

Não quando, mas como vai recuperar

Na opinião da directora, a pergunta não é quando é que o sector vai recuperar, mas, sim, como o vai fazer. “Aguardamos uma vacina, mas a recuperação não depende apenas de uma solução médica, mas, sim, de uma resposta mais holística”, observa.

No futuro, o mercado terá de estar mais interligado e precisará de um investimento substancial a longo prazo, que terá de incluir “as palavras sustentabilidade e inovação”, estima.

Depois da crise, muitos destinos e empresas terão de redefinir a sua oferta, ainda que o chamado turismo low cost não tenha necessariamente acabado, prevê.

Priante admite que os preços de aviões, comboios e hotéis terão de subir, porque as empresas terão de tomar medidas para compensar a queda na ocupação e procurar o equilíbrio entre receitas e gastos. A dúvida é se os consumidores estarão disponíveis para assumir esses custos, destaca.

A directora da Comissão Regional da Europa da OMT antecipa que o que por certo mudará são as preferências dos clientes e o seu poder de compra, que já está a dar lugar ao crescimento de segmentos como o aluguer turístico.

A OMT, recorda, está a trabalhar com governos e agentes privados, monitorizando a situação para determinar a direcção da recuperação do sector, trabalho que resultou já em recomendações globais sobre o reinício da actividade turística.

A organização está a trabalhar no incentivo de investimentos verdes e a preparar estudos sobre destinos, turismo urbano e gastronómico, entre outros, acrescenta.

A este respeito, Alessandra Priante diz que em Espanha o sector está muito bem organizado e existe uma estreita colaboração entre agentes públicos e privados.

As agências de notícias de Portugal e Espanha, Lusa e Efe, vão debater o impacto da pandemia de covid-19 no Turismo, num fórum virtual conjunto, o EURAGORA, financiado pelo projecto-piloto europeu Stars4Media, que pretende apoiar a inovação no sector dos media, através da formação e da cooperação transfronteiriça dentro da União Europeia.

Os debates – que serão transmitidos nos dias 15 e 16 de Julho, através de uma plataforma online conjunta e das redes sociais de ambas as agências – resultam de uma parceria inédita entre a Lusa e a Efe e juntarão organizações internacionais, comissários europeus, ministros e responsáveis regionais e locais dos dois países, e associações do sector do turismo e dos consumidores.

A abordagem ao tema assenta em dois grandes tópicos: “Segurança, o que esperam os consumidores, como respondem indústria, governos, União Europeia?” (dia 15 de Julho, às 10h de Lisboa ) e “Reinvenção e oportunidades: sol e praia/urbano e cultural/turismo rural” (dia 16 de Julho, às 10h de Lisboa).

Sugerir correcção