Covid-19: Austrália fecha fronteira entre estados para travar contágio

Victoria é o epicentro da pandemia no país e o número de casos não tem parado de aumentar na capital, Melbourne. Residentes de nove torres de habitação social estão proibidos de sair de casa.

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Uma criança à janela nas torres postas em quarentena em Melbourne Reuters/STRINGER
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Torres de habitação onde vivem cerca de 3000 pessoas em Melbourne LUSA/JAMES ROSS

O surto de coronavírus em Melbourne está a preocupar as autoridades australianas e, como medida extrema, decidiram encerrar, a partir desta terça-feira e indefinidamente, a fronteira entre os dois estados mais populosos do país, Victoria e Nova Gales do Sul. É a primeira vez que a fronteira é encerrada em 100 anos, desde a chamada Gripe Espanhola, em 1919. 

“Esta é uma decisão tomada por mim, pelo primeiro-ministro [Scott Morrison] e pela governadora de Nova Gales do Sul”, disse esta segunda-feira o governador de Victoria, Daniel Andrews. “É a decisão certa neste momento, devido aos importantes desafios que enfrentamos para conter o vírus”, acrescentou. 

Os militares serão destacados para patrulhar a fronteira e impedir travessias ilegais, uma vez que a fronteira é bastante complexa e porosa. Tem 55 estradas, parques naturais e rios, com algumas empresas presentes dos dois lados da fronteira e muitos trabalhadores e estudantes a atravessarem-na diariamente. 

A Austrália tem mais de oito mil casos de covid-19, dos quais mais de sete mil recuperados e 106 vítimas mortais, de acordo com a contagem da americana Universidade Johns Hopkins. No início deste mês, o país registou uma média de 109 casos diários, quando na primeira semana de Junho eram apenas nove por dia. 

A grande preocupação neste momento é o estado de Victoria e a sua capital, Melbourne: os casos não têm parado de aumentar e esta segunda-feira registaram-se 127 novos e mais uma vítima mortal, totalizando 22. Há 31 pessoas hospitalizadas em cuidados de saúde primários e cinco nos cuidados intensivos.

Pelo menos 16 dos novos casos foram detectados em nove torres de habitação social, onde vivem mais de três mil pessoas, elevando o total para 56. Foi decretado um cordão sanitário naqueles edifícios durante pelo menos cinco dias e 500 agentes da polícia estão a impô-lo, tendo já detido uma pessoa que tentou sair de uma das torres. Mais de 400 testes já foram realizados e o objectivo é testar as três mil pessoas que ali habitam. 

Por não puderem sair de casa, as autoridades estão a entregar cestas com comida, mas o processo logístico, diz o Guardian, tem tido problemas e muitos dos residentes recebem os alimentos pela madrugada adentro, com alguns dos pacotes a terem falta de bens alimentares, como leite. As críticas às autoridades de saúde têm aumentado de tom ao ponto de alguns dos residentes não aceitarem a ajuda, deixando as cestas no corredor, intocadas. 

O governador de Victoria acredita que a realização dos testes trará luz sobre a dimensão real do surto, permitindo a quem não esteja infectado sair de casa. “Estamos à espera que o número [de casos de covid-19] continue a aumentar. Se se sabe que [o vírus] lá está e vamos testar todas as pessoas, então vamos encontrar mais casos. É essa a estratégia, é o que queremos alcançar. Podemos depois providenciar cuidados e apoio a quem testar positivo e, certamente, terminar o confinamento para aqueles que não estejam positivos”, explicou o governador Andrews. 

As autoridades estão a registar novos casos em subúrbios de Melbourne onde a doença não existia até esta segunda-feira. “Há um número significativo [de casos] em zonas adjacentes”, disse o responsável pela saúde pública de Victoria, Brett Sutton. “Há contágios significativos e, portanto, para usar a analogia do incêndio florestal, existem literalmente incêndios em zonas adjacentes”. 

Os surtos em diferentes áreas da cidade levaram as autoridades a adoptar estratégias distintas para cada uma delas até ao final de Julho. Os residentes de 12 subúrbios receberam ordens para se manterem em confinamento, saindo apenas para estudar, trabalhar, ir às compras, prestar auxílio a terceiros ou passear animais e fazer exercício, enquanto outros, como os das nove torres, estão proibidos de sair de casa. 

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