Com uma pandemia e uma crise económica à porta, o que muda na formação executiva?

A crise da covid-19 veio expôr a fragilidade de áreas económicas inteiras e mostrou a falta de preparação das empresas para lidar com o congelamento da economia. O PÚBLICO falou com três escolas de formação executiva para tentar perceber o que o futuro reserva.

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Adriano Miranda

Entre a melhoria das capacidades de gestão e os salários mais altos, os benefícios da formação executiva já são bem conhecidos, e a crise económica que se está a fazer sentir exige uma adaptação rápida, que vem pôr à prova o que os cursos ensinam aos empresários e como o ensinam. “Nós fizemos aquilo que ensinamos, que é a gestão da mudança e reacção rápida àquilo que acontece, temos várias disciplinas que ensinam isso”, começa Rosário Moreira, directora do primeiro MBA (Master of Business Administration) totalmente digital em Portugal, o The Digital MBA da Porto Business School (PBS).

“Nos primeiros dias transformamos toda a oferta da Porto Business School em oferta online. Uma segunda etapa foi perceber caso a caso, qual era a melhor estratégia a adoptar naquele momento, e a terceira etapa foi apoiar a nossa comunidade com a criação de 15 programas de formação para executivos completamente online e a valores quase simbólicos”, explica Rui Coutinho, director executivo do Center for Business Innovation da PBS.

Na Nova School of Business and Economics (Nova SBE), os conteúdos digitais também ganharam importância. “Disponibilizámos ao mercado, desde o início desta crise, soluções focadas nos desafios actuais, desde webinars diários e gratuitos até programas de formação online, desenvolvidos para responder especificamente aos desafios que este contexto colocou, onde destacamos temas tão diversos como burnout e gestão emocional, e-commerce ou resiliência financeira”, revela Pedro Brito, Associate Dean for Executive Education & Business Transformation da Nova SBE.

Já a Coimbra Business School não chegou a fechar, mas todas as aulas estão também a decorrer à distância. Para o presidente da escola, Pedro Costa, “uma coisa é adoptar tecnologias digitais, outra é ter o modelo de ensino concebido para um regime não presencial”. “A nossa vantagem é que a escola já assentava, há vários anos, num modelo misto de ensino de b-learning”, acrescenta.

A covid-19 tomou o mundo de assalto e veio mostrar a falta de preparação da sociedade para um regime de confinamento, e as escolas não são excepção. Com o desconfinamento já a decorrer, levantam-se questões sobre como prevenir situações semelhantes no futuro. “O futuro é blended, ou seja, um misto entre a aprendizagem presencial e a aprendizagem online, porque existem vantagens e valor a capturar nas duas abordagens. Naturalmente, isto irá exigir uma evolução estruturante na forma como a formação de executivos é realizada”, afirma Pedro Brito, da Nova SBE.

A Coimbra Business School garante estar preparada para um novo confinamento, segundo Pedro Costa: “Estamo-nos a preparar, não para regressar ao cenário antigo, mas para, se tudo correr bem, fundarmos na Coimbra Business School um novo modelo de ensino que juntará o melhor do ensino presencial com o melhor do ensino nas plataformas digitais”.

Reforço da gestão de crise e da cibersegurança

Para além das dificuldades mais práticas de adaptação do ensino, os conteúdos também têm de reflectir as mudanças inesperadas que a pandemia trouxe. Aprender a reforçar a cibersegurança devido ao teletrabalho ou o maior foco na gestão de crise são apenas alguns dos ramos que devem ganhar uma relevância especial. Segundo Pedro Brito, as escolas devem apostar em aprendizagens individualizadas, para cada estudante; organizacionais, para cada empresa; e de gestão, direccionadas para os departamentos de finanças, estratégia ou marketing. “As lideranças, por exemplo, terão de passar novamente por um processo de requalificação. A gestão de crises e desenvolvimento de cenários emergem para o topo da tabela das formações mais requisitadas”, acrescenta o representante da Nova SBE, que acredita também que os programas a curto-prazo vão crescer.

Em Coimbra, a oferta foi já reformulada para dar conta das áreas que estão a ser mais procuradas, como desde logo, a gestão de pessoas e equipas, “com ênfase no trabalho colaborativo, na motivação e nas áreas comportamentais”, como afirma Pedro Costa. “A mudança de local e de ambiente de trabalho em consequência do trabalho à distância podem gerar um cansaço e estados depressivos que os quadros das empresas deverão saber antecipar e gerir. Por outro lado, a segurança dos sistemas informáticos e a cibersegurança será igualmente uma área de formação em forte expansão, em resultado da enorme proliferação da utilização de tais sistemas como meio fundamental de funcionamento das organizações”, remata o presidente da Coimbra Business School.

Do lado das empresas, escutamos a Nors. Este grupo português, do ramo da distribuição de camiões e materiais de construção, é um negócio de família, que conta com 87 anos de história. A empresa é agora sócia da Porto Business School e tem executivos a formarem-se na escola. “A PBS é um pilar de formação executiva no Norte e a Nors é grupo muito relevante da zona. Dentro da lógica que seguimos de estar presente e apoiar a comunidade em que estamos inseridos, acabou por ser um desenvolvimento natural”, conta Ana Salomé Martins, directora de pessoas e comunicação do grupo.

Sobre o que é importante para a formação dos executivos nos tempos incertos que se vivem, a empresa realça o “desenvolvimento da liderança”. “Situações como a da pandemia mostram a importância das capacidades de usar lentes novas sobre os mesmos problemas e de identificar problemas novos. Acho muito importante a componente do pensamento crítico e da abordagem da inovação para que a empresa não fique refém daquilo que sabe fazer bem, porque este é um traço muito comum em empresas como a Nors, e conseguir essa descolagem é fundamental em períodos como o actual, que mostram como tudo pode mudar rapidamente”, conclui Ana Salomé Martins.

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