OMS confia em que haja vacina para o novo coronavirus dentro de um ano

O director-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus, pediu ao Parlamento Europeu apoio para o aumento de verbas para os sistemas nacionais de saúde e investigação.

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Tedros Ghebreyesus falou por videoconferência na comissão de Saúde Pública do Parlamento Europeu LUSA/OLIVIER HOSLET

O director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, está confiante que a primeira vacina de sempre contra um tipo de coronavírus vai ser produzida num dos mais de cem ensaios clínicos actualmente em curso, em contra-relógio, para travar a pandemia de covid-19. “É difícil prever, mas a estimativa optimista é de que podemos ter uma vacina dentro de um ano”, disse o responsável, que numa audição na Comissão de Ambiente e Saúde Pública do Parlamento Europeu foi desafiado a confirmar se são realistas as expectativas de uma vacina a curto prazo e ainda a responder se a Europa está a fazer “o suficiente”, ou deve reforçar os esforços para combater a doença.

A investigação e desenvolvimento de vacinas, terapêuticas e diagnósticos para a covid-19 “exige muito investimento”, sublinhou o director-geral da OMS. Lembrou que neste sábado a União Europeia será co-organizadora de um evento global para a recolher de fundos. A cimeira virtual “Unidos pelo nosso Futuro”, dirigida pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, será seguida de um concerto com nomes como Shakira, Coldplay ou Justin Bieber e transmissão em directo em cadeias televisivas de todo o mundo.

A descoberta da primeira vacina para um coronavírus é um desafio para a comunidade científica, mas como assinalou Ghebreyesus, confronta os decisores políticos com uma decisão não menos difícil: como garantir a transparência, justiça e equidade na sua distribuição. “Estamos a assistir a uma corrida global para o acesso preferencial à vacina fora do quadro da OMS, e a própria UE enveredou por um caminho de a Europa primeiro”, criticou a eurodeputada dos Verdes, Petra De Sutter.

“Muitos líderes têm dito que a vacina deve ser um bem público mundial, mas claro que tem de haver um consenso e um compromisso político global para uma distribuição justa”, defendeu o director geral da OMS. “A melhor solução seria que chegasse a toda a gente, mas como isso não vai ser possível, a segunda melhor opção é que a prioridade vá para os grupos vulneráveis”, especificou.

Apesar dos elogios à solidariedade e liderança global da União Europeia na resposta à pandemia, Tedros Ghebreyesus reforçou o apelo a um reforço do investimento dos Estados-membros nos respectivos sistemas nacionais de saúde. “Estamos a pedir a todos os países para aumentar o seu orçamento para a saúde primária pelo menos para 1% do Produto Nacional Bruto”, disse. “A UE tem o melhor sistema de saúde do mundo e ainda assim foi surpreendida pelo vírus”, observou. Mais recursos vão permitir fortalecer a capacidade de prevenção e resposta. “A saúde não pode ser vista como um custo mas um investimento”, acrescentou.

Tedros Ghebreyesus não se mostrou muito preocupado com o recrudescimento das infecções com o novo coronavírus em território europeu desde a última semana, dizendo que “as cadeias de transmissão foram travadas em vários países europeus” e que “a situação tem estado a melhorar, quando globalmente está a piorar”.

Ainda assim, insistiu que devem ser intensificados os esforços para “encontrar, testar, isolar e tratar” cada caso e para rastrear e pôr de quarentena todos os contactos. “A transmissão foi suprimida mas o vírus ainda está a circular e a maior parte das pessoas ainda é susceptível de apanhar uma doença que pode ser fatal”, avisou.

O director-geral reconheceu as críticas dos eurodeputados que lamentaram a comunicação confusa e contraditórias da organização, admitindo que “houve erros cometidos” e prometendo que “vão ser retiradas lições” para corrigir o que correu mal. “Estamos sempre abertos ao escrutínio”, frisou. Mas Ghebreyesus reagiu contra as suspeitas de protecção à China lançadas pela eurodeputada italiana da Liga, Silvia Sardone, que não vê razão para “os países europeus continuarem a mandar milhões de euros para a OMS”.

“A China identificou o vírus muito rapidamente e partilhou imediatamente a sua sequência. Concordou com o acesso de especialistas internacionais e cooperou com tudo o que lhe pediram. A OMS reconhece todos os países quando eles tomam medidas positivas, que foi o que a China fez em Wuhan”, declarou.

Mas os ataques da representante da extrema-direita à OMS foram a excepção. Em nome da bancada do PPE, o alemão Peter Liese manifestou o apoio do Parlamento Europeu à OMS, sublinhando que a Europa não vai cortar o financiamento da organização quando ele é mais necessário. “Não temos nada em comum com Donald Trump”, vincou. A mesma posição foi defendida pelos eurodeputados socialistas, liberais, verdes e da esquerda unitária.

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