No Porto, um São João inédito uniu os fregueses

Os festejos de São João foram cancelados e os estabelecimentos fecharam às 23h. Mesmo assim, os portuenses, cumprindo sempre as normas de segurança, resistiram numa celebração atípica.

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É uma situação inédita no Porto. Nunca se viu uma noite de São João assim. Às 22h, Paulo Gonçalves, em frente ao café Piolho, desabafa: “Costumo assar sardinhas todos os anos, este ano foi zero”, “é degradante, é triste, é monótono”. Mesmo assim, ainda foram alguns os que se sentaram na esplanada de um dos mais emblemáticos cafés da cidade.

É o caso de Fernando e Aline, que vieram tomar caldo verde, ou de um grupo de franceses que se reuniu para celebrar a famosa festa portuguesa. Kevin, que viveu o São João de há dois anos, chega mesmo a afirmar: “Foi das melhores noites da minha estadia em Portugal”.

Na Adega Leonor, foram alguns os grupos de jovens que se juntaram para celebrar. Pedro, funcionário do estabelecimento há quase dez anos, confessa que “este ano é um ano zero”. Olívia, Júlia e Eugénia estão sentadas nos bancos de pedra da Cordoaria - são brasileiras e já muito ouviram falar sobre o São João. “Os nossos amigos portugueses dizem que é a melhor festa do ano”, comentam, mas o panorama que observam é bem diferente do que lhes foi descrito. 

Às 23h em ponto, anuncia-se a hora de fecho. A polícia passa de motorizada pela Adega, e no café Piolho os clientes nem puderam ver o final do jogo FC Porto - Boavista FC. Enquanto se fechavam os guarda-sóis e se amontoavam as cadeiras da esplanada, um jovem altercava pela rua: “Ganda Porto, 4-0!”.

Às 23h04, a esplanada do Piolho já estava praticamente desmontada. Alguns jovens ainda permaneceram nas ruas, na expectativa de ficarem a beber, mas o policiamento foi reforçado. Assistiu-se ao dispersar das pessoas, a maioria recolheu para as suas casas. Pouco passava das 23h e a Praça dos Leões já estava absolutamente deserta, algo nunca visto numa noite de 23 de Junho. O mesmo se pode dizer dos Clérigos e, ainda mais surpreendente, das ruas das Galerias de Paris. Uma longa rua desabitada, apenas decorada pelas grinaldas de festa. No vazio do Porto, ainda se viu um balão azul e branco a flutuar pelo ar, em sinal de celebração do resultado do jogo. 

Joaquim Luís, taxista estacionado nos Clérigos, suspira: “Não há nada. Nós, os taxistas, somos os guardas-nocturnos da cidade”. Cansado, conta ainda que “até salta” quando um passageiro entra no seu táxi, tão raro é o acontecimento. Ao descer até os Aliados, vêem-se carros a circular, mas são poucas as pessoas que festejam. Há filas de automóveis até às ruas da Ribeira, no entanto, já ninguém parece lembrar-se das multidões que corriam as ruas da Baixa até à beira-rio. Ao chegar ao cubo, vêem-se as mesas das esplanadas vazias, a água do cubo a fluir em solidão. O rio Douro brilha num cenário desértico. Vinda de pequenas casas de famílias da Ribeira, ouve-se música de colunas — esses, sim, ainda festejam em pequenos grupos. Representam a resistência do Porto à pandemia, o último grito de celebração. 

Pouco passa da meia-noite quando três trabalhadoras da Ribeira, Cristina, Verónica e Felicidade, se juntam à música vinda das colunas, dançando pela noite fora, em frente ao rio Douro. É a melhor festa do ano para muitos dos tripeiros, e, cumprindo as medidas de segurança, não deixam de festejar. É um São João atípico, sem turistas, sem a turba de pessoas a encher as ruas, mas é também um São João dos verdadeiros portuenses, das gentes da Ribeira, que nunca deixarão a tradição morrer.

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