A pele queixa-se do uso da máscara? Saiba como a ajudar

A pele do rosto está a ser castigada pelo uso da máscara — como prevenir e tratar lesões novas ou o agravamento de preexistentes.

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O aumento de acne pode ser fruto de maior calor e consequente aumento de produção de gordura Alexandra Gorn/Unsplash

A servir à mesa e forçado à utilização contínua de máscara, Eduardo, 23 anos, começou a notar a formação de borbulhinhas semelhantes às que se recorda ter no início da adolescência, na zona do bigode. A origem, associou, estaria nas gotículas de suor que se acumulavam nesta área, fruto do calor que sentia com a máscara posta, na altura uma social. Acabaria por optar por mudar para as cirúrgicas, trocando a máscara de quatro em quatro horas, e o problema acabaria por desaparecer.

No entanto, não há um tipo certo de tecido. Para Lúcia Marques, de 38 anos, foram precisamente as cirúrgicas que lhe provocaram pele irritada e uma mancha de borbulhas, semelhantes às da puberdade, entre a zona sob o queixo e o meio da face — a área coberta pela máscara. “Quando comecei a usar máscaras de tecido 100% algodão, melhorou”, recorda a empregada de comércio que, mesmo com a loja fechada durante o estado de alerta, nunca deixou de trabalhar.

“Ter atenção à forma como a pele reage ao material” de que a máscara é feita é um dos conselhos do dermatologista João Maia Silva que, desde há algum tempo, tem notado um aumento na procura desta consulta precisamente por condições relacionadas com o uso da máscara. “Por um lado, está a criar lesões onde não havia, por outro, a agravar doenças de base”, relata o especialista, adiantando que o mais comum é observar um agravamento da acne, aumento de rosácea, formação de eczemas ou surgimento de irritações.

Dar descanso à pele

Segundo o clínico, o que pode ajudar é “tirar a máscara regularmente”. Lúcia Marques sabe disso e vai tentando fazê-lo ao longo do dia, mas é frequente não dar pelo tempo a passar e esquecer-se. “O nosso cérebro parece ainda não estar sintonizado para estas coisas”, mesmo que não deixe de sentir o calor quase insuportável que a máscara provoca.

“O uso da máscara cria um novo ambiente”, contextualiza João Maia Silva, explicando que a maioria dos problemas surge como uma adaptação da pele às condições criadas por este novo elemento. No caso do aumento de acne, afirma tratar-se de uma reacção natural ao maior calor, que resulta no organismo enviar indicação para que a pele crie mais gordura, e à humidade, que faz com que as bactérias, habitualmente protectoras, se multipliquem — neste último caso, a ida a uma consulta é essencial já que o controlo das bactérias poderá ter de ser feito recorrendo a um creme com antibiótico, cuja utilização exige observação clínica. Foi o caso de Lúcia Marques, que acabou por ter de recorrer ao médico no trabalho, que lhe prescreveu um creme com características calmantes.

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Humphrey Muleba/Unsplash

No entanto, o dermatologista João Maia Silva faz a lista de alguns cuidados a ter tanto para prevenir como para minimizar o impacte da utilização da máscara: fazer uma higiene da face cuidada, mas não excessiva, usando apenas água ou produtos neutros e resistir à tentação de esfregar; evitar quaisquer soluções que tenham álcool na sua composição; e aplicar creme antes e depois da máscara. “Deve-se manter o creme que se costuma usar e ao qual a pele já está habituada, preferindo os que tenham uma base sobretudo hidratante e evitando os cremes antienvelhecimento, cuja composição inclui substâncias mais fortes.” A experiência da empregada de comércio corrobora a indicação do médico: “Quando coloquei um creme anti-rugas, sentia que a pele estava a queimar. Foi horrível.”

Além disso, no caso das máscaras reutilizáveis, não pode ser negligenciada “a higienização do tecido” e ter o cuidado de lavar bem as mãos antes de manusear a máscara e ajustá-la à face.

Atenção, ponto a ponto

Não é apenas a pele da face que reclama da nova situação com a formação de acne ou com o agravamento de condições preexistentes. Todos os pontos em que a máscara toca ou cobre requerem atenção específica. É o caso dos lábios, que, relata João Maia Silva, mostram tendência a estar mais secos, fruto também de se respirar mais vezes pela boca, e para os quais recomenda a utilização diária de um batom hidratante ou de vaselina esterilizada.

Há ainda os pontos de contacto, como atrás das orelhas, onde podem surgir feridas — e, se for o caso, é necessário procurar ajuda especializada —, sugerindo a utilização de aplicadores em plástico para prender a máscara atrás da cabeça. “Claro que isso poderá criar mais tensão em certas áreas do rosto, como o nariz”, reconhece.

Assim, “para quem tenha de usar máscara o dia inteiro”, o dermatologista aconselha proteger o dorso do nariz: com a aplicação de um creme, mas também recorrendo a bandas de silicone, que se podem encontrar em qualquer farmácia.

Independentemente de qual for a situação, o clínico é peremptório no conselho para “valorizar as queixas” e “procurar ajuda em vez de deixar arrastar”.

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