O Café Corcel do Porto reabriu como novo. E com doçaria conventual

Este cavalinho tem um novo fôlego. O Corcel, que faz parte da vida de bairro do Porto desde 1967, está renovado e com uma oferta única de doçaria conventual.

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Paulo Pimenta
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É caso para dizer: “quem o viu e quem o vê”. Quem conhecia o Corcel dos seus anos de juventude, recordava-o como um espaço de bairro, de reunião de artistas e gente ilustre do Porto. Os estudantes, claro, também marcavam o ponto – Rosário Carvalho Guerra, agora responsável pelo velho café, bem se lembra de faltar às aulas para beber aqui finos com os amigos. Com o tempo, o Corcel foi-se degradando. Nos últimos anos, tornara-se num espaço soturno no bairro do Pinheiro Manso – já eram poucos os que transpunham as suas portas, sentindo o peso da nostalgia.

Agora, ao entrar, o cenário é outro, como se o Corcel tivesse ressuscitado. Há candeeiros brilhantes a pender do tecto, grandes suspiros nas prateleiras e pastéis de nata que brilham na montra. O mosaico hidráulico transporta-nos aos cafés antigos, assim como as pernas clássicas das mesas. Não é o Corcel como os mais velhos se recordam dele - é, sim, uma nova versão que quer combinar a tradição com a modernidade.

Lá fora, na esplanada, há quem tome o pequeno-almoço ou trabalhe no seu computador. Os mais velhos reavivam as memórias, os mais novos criam-nas. Mas, contrariamente ao que se possa pensar, não estamos perante um café/snack-bar como outro qualquer. Aqui vive-se muito para além das francesinhas ou das pizzas servidas ao almoço e ao jantar… É que por aqui há estrelas da doçaria e não falamos dos bolos convencionais, conhecidos de todas as pastelarias do Porto, mas sim de doçaria conventual: castanhas de ovos, cones de ovos-moles, delícias de amêndoa, pastéis de Tentúgal – “A única coisa que temos mais ‘normal’ são os pastéis de nata e os croissants”, explica Rosário, que, tal como o próprio Corcel, também tem muita história para contar.

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Advogada, portuense de gema, trabalhou durante anos numa multinacional de café em Coimbra. Mais tarde, sairia da empresa e começaria a trabalhar com grupos ligados à pastelaria. Acabaria por adquirir uma pastelaria que, apesar de arrasada pelo tempo, se dedicava à doçaria conventual – a pastelaria Briosa. “Comecei a explorar essa área e adorei”, conta Rosário, que na verdade já tinha uma relação com os doces tradicionais: as avós e as tias de Braga sempre tinham cozinhado com os ovos, o açúcar e a amêndoa, transmitindo à pequena Rosário esse gosto pelo tradicional. Para recuperar a velha pastelaria conimbricense, Rosário recorreu aos receituários antigos – “O nosso património doceiro é muito vasto”, especifica.

Entretanto, a ideia de recuperar o velho Corcel, onde Rosário passara grande parte do seu tempo, começava a fervilhar: “Achava que este café merecia ser revitalizado, isto era um sítio onde todas as gerações se encontravam, e de repente estava um café morto.” O sonho passou a ser esse mesmo: recuperar o espaço e trazer os doces conventuais para a sua cidade, o Porto.

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E assim foi. Apesar de, como todos nós, ter sido apanhado de surpresa pelo surto de covid-19, o café Corcel reabriu, mantendo a sua velha marca, a cabeça de cavalo, mas ganhando um novo fôlego com os doces conventuais e uma estética vintage que nos faz viajar até aos tempos áureos dos cafés. A afluência, até agora, tem sido excelente, diz Rosário – desde o pequeno-almoço até ao jantar, há sempre clientes para servir. Alguns vêm pelas pizzas artesanais, outros pela doçaria, e ainda há quem venha às sextas e sábados para ouvir o DJ enquanto saboreia um cocktail. “Têm-se passado finais de tarde muito agradáveis” – quem o conta é Kika Serra, cunhada de Rosário que colabora no espaço, conhecida pelos seus famosos brigadeiros e outros bolos de colher.

E é assim que o velho Corcel volta à corrida, com uma nova vida por onde ainda passam os gelados, as miniaturas, os bombons, os chocolates… e as latas tão características onde os clientes podem levar sortidos de doces. Uma viagem do passado ao presente que culmina aqui mesmo, no Corcel. 

Texto editado por Luís J. Santos

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