Bastaram quatro anos para 75% dos venezuelanos caírem na pobreza extrema

Estudo publicado pelo FMI refere que economia da Venezuela encolheu 65% em seis anos. Venezuelanos são o segundo maior grupo de refugiados no mundo, a seguir aos sírios.

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Mais de 15% da população da Venezuela fugiu do país devido à crise política e económica Carlos Garcia Rawlins/REUTERS

Entre 2014 e 2018, a população venezuelana a viver na pobreza extrema passou de 10% para 85%, segundo o Fundo Monetário Internacional, num estudo publicado no World Economic Outlook, cujo capítulo quatro foi divulgado na sexta-feira. Em apenas quatro anos, três quartos dos venezuelanos passaram a viver com menos de 1,90 dólares por dia, definição de pobreza extrema para o Banco Mundial. 

Segundo o mesmo estudo, que incidiu, particularmente sobre o impacto da imigração na economia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país diminuiu cerca de 65% entre 2013 e 2019. A crise política e económica, que devasta o país há vários anos, levou a uma emigração em massa, com milhões de pessoas a abandonarem o país, em busca de melhores condições de vida.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que mais de 4,8 milhões de venezuelanos – o equivalente a 15% da população – tenha emigrado até final de 2019. Destes emigrantes, quatro milhões estabeleceram-se noutros países da América Latina, particularmente na Colômbia – o país que acolheu o maior número –, Peru, Equador, Chile e Brasil.

Se o ritmo de emigração se mantiver, o número de migrantes venezuelanos pode atingir os dez milhões até 2024. Um êxodo que, a curto prazo, poderá colocar pressão nos países acolhedores, nomeadamente ao nível de serviços públicos e do mercado de trabalho.

No estudo publicado no World Economic Outlook, os especialistas sustentam que, globalmente, os imigrantes contribuem para o crescimento económico e para o aumento da produtividade nos países acolhedores a médio e longo prazo. No entanto, a curto prazo, a imigração acarreta desafios, que exigem respostas.

No médio prazo, segundo o estudo do FMI, os países da América Latina poderão beneficiar significativamente com os imigrantes venezuelanos, que, globalmente, têm alta escolaridade e podem diversificar o mercado de trabalho. No entanto, alertam os autores do estudo, existem “riscos negativos para o crescimento, caso os migrantes não se consigam integrar normalmente”.

Nesse sentido, o FMI sublinha que “providenciar acesso à educação e aos serviços de saúde aos migrantes será essencial para assegurar que tenham vidas longas e produtivas”.

Já na Venezuela, a crise económica persiste e não surgem sinais de melhoria. Há escassez de alimentos e de medicamentos, e a pandemia de covid-19 aumentou a pressão social. Mas muitos venezuelanos que abandonaram o país não estão numa situação melhor, por viverem em situação precária nos países mais atingidos pela pandemia na América Latina, como é o caso do Brasil e do Peru.

“Estamos muito preocupados com a América Latina e particularmente com os países onde se encontram milhões de refugiados da Venezuela”, disse na quinta-feira Filippo Grandi, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, numa conferência de imprensa em que alertou para a situação dos refugiados e deslocados em todo o mundo. “As pessoas continuam a abandonar os países de origem e a procurar ajuda e protecção. Estas necessidades devem ser consideradas”, acrescentou. 

Grandi  referiu ainda que, a seguir aos 6,6 milhões de sírios que fugiram para outros países para fugir à guerra civil que devasta o país desde 2011, os venezuelanos constituem o maior grupo de refugiados no mundo.

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