Andamos a sonhar com marisco e peixe fresco

Pedro Bastos, da Nutrifresco, fornecedor de alguns dos melhores chefs portugueses, readaptou o seu negócio, apostando agora também na entrega de cabazes em casa. “Diga-nos o que gosta e levamos a lota até si”, promete a Peixe à Porta.

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Nuno Ferreira Santos

Quer estejamos ainda em semi-confinamento ou já quase totalmente desconfinados, a chegada dos dias de Verão (apesar de o calor a sério parecer ainda tardar) pode tornar mais insistente – talvez mesmo obsessiva, em alguns casos – a ideia de comer mariscos ou peixe fresco numa esplanada, com cheiro a brisa do mar e um copo de vinho branco, rosé, ou um tinto mais leve e fresco.

Nos dias em que nos vimos obrigados a permanecer em casa por causa da pandemia, muita gente perguntava onde poderia encontrar peixe fresco ou marisco de qualidade. Várias peixarias, alguns restaurantes (como o Sea Me) e fornecedores de peixe aproveitaram a oportunidade para repensar o negócio de forma a dar resposta a esse novo tipo de procura. Pedro Bastos, da Nutrifresco, foi um deles. E assim nasceu o Peixe à Porta. Por isso, se tiver que adiar a esplanada, não há problema, pode matar as saudades de peixes e mariscos mesmo ficando em casa.  

Licenciado em Bioquímica, Pedro Bastos é um profundo conhecedor de tudo o que tem a ver com peixe. Algarvio, cresceu nesse mundo e logo aos 22 anos fundou a Nutrifresco, empresa que se tornou uma referência para muitos dos principais chefs portugueses.

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José Sarmento de Matos

É frequente encontrá-lo em eventos gastronómicos para os quais não só forneceu o peixe como tenta sempre contribuir com um lado didáctico, explicando as características das diferentes espécies e divulgando peixes que, tendo qualidade e existindo em qualidade, são muitas vezes pouco valorizados. Com o apoio de Pedro, vários chefs começaram a trabalhar estas espécies, procurando assim contribuir para uma gestão mais equilibrada dos recursos marítimos.

Com os restaurantes de portas fechadas por causa da pandemia, Pedro pensou que uma boa alternativa seria a entrega de cabazes em casa. Montou a operação, que assegura entregas no Algarve, Grande Lisboa e Grande Porto, começando já a ter clientes também no Alentejo.

“Diga-nos o que mais gosta e nós levamos a lota até si”, é o que se propõem fazer, com uma série de cabazes pensados para diferentes necessidades. No caso do peixe, por exemplo, existe um cabaz simples (com peixes considerados menos nobres, como o besugo, o carapau ou a caldeirada de peixe pequeno), um plus, um gastronómico (com peixes nobres como o atum, o cherne, a corvina grande, o salmonete ou o pregado selvagem) e um sem espinhas, no qual o peixe vai já arranjado. Há ainda um cabaz das rias (para 4 pessoas, inclui dourada de esteiro e ostras da Ria Formosa, assim como salicórnia e algas frescas da Ria de Aveiro), e um cabaz das rias familiar, que junta ao peixe.

O site do Peixe à Porta explica as quantidades. Um exemplo: três refeições para duas pessoas com três variedades de peixe, e um peso de 2,5kg, custa 58€; enquanto duas refeições para quatro com duas variedades de peixe, num total de 3kg tem o preço de 70€.

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Paulo Ricca

Nos cabazes de marisco, os bivalves vêm da Ria Formosa, Ria de Alvor, Ria de Aveiro e estuário do Sado, e algumas espécies são importadas, por não existirem em quantidade suficiente nas águas portuguesas – é o caso da sapateira ou do mexilhão das Rias Galegas, que vem da Galiza.

Há um cabaz mariscada (57€) com berbigão, ostras, sapateira ou santola viva, 500g. de gamba fresca da costa e 1kg de perceves de Sagres ou de camarão vermelho. O cabaz Marisquinho custa 26,90€ e tem 1kg de berbigão, 1kg de mexilhão, uma sapateira ou santola viva e 500g de gamba da costa.

Toda a informação está disponível no site, que inclui ainda algumas receitas (nas redes sociais do Peixe à Porta há maior variedade e é um projecto em crescimento) feitas por chefs que mostram como as melhores formas de preparar e cozinhar o peixe e o marisco.

Amêijoa, lagosta ou conquilhas?

Lista de mariscos (dos mais comuns a alguns mais raros) que se capturam em Portugal, sendo sempre necessário ter em conta qual a época em que existem ou em que se encontram no ponto óptimo para consumo.

Amêijoa da Ria Formosa

Algarvias, claro, vindas da Ria Formosa, são capturadas juvenis nos bancos de areia ou no lodo e, seguidamente, semeadas em viveiros onde crescem durante cerca de dois anos, sendo depois apanhadas à mão por mariscadores. Cada zona e viveiro tem o seu próprio terroir que dá à amêijoa as suas características, umas mais escuras e gordas, outras mais claras e finas. A época melhor é de Dezembro a Maio e podem ser simplesmente abertas ao vapor ou feitas, por exemplo, à Bulhão Pato, na frigideira.

Conquilha

Na zona de Lagos são chamadas de “condelipas” porque consta que o Conde de Lippe era grande apreciador deste bivalve de concha achatada, lisa e brilhante, que vive enterrado na areia entre os 0 e os 6 metros de profundidade. É capturado na maré baixa, nos areais voltados para o mar, como se vê tantas vezes nas praias algarvias. Uma das melhores formas de comer conquilhas é o famoso xarém, as papas de milho tradicionais do Algarve. A época melhor é de Novembro a Maio.

Gamba do Algarve

Uma boa notícia é que a deliciosa gamba do Algarve pode ser apanhada todo o ano, com excepção dos meses de Janeiro e Outubro. É capturada por arrasto em águas profundas da costa algarvia e na zona do sudoeste. A melhor forma de a consumir é com uma cozedura muito leve em água e sal, mas pode também ser frita.

Carabineiro

O nome vem do espigão pontiagudo que sobressai da cabeça, fazendo lembrar uma carabina. Em Portugal, é pescado sobretudo no Algarve, nomeadamente na Costa Vicentina, através de redes de arraste de fundo. A melhor forma de o comer é simplesmente grelhado com sal. Existe todo o ano, com excepção de Janeiro.

Lagosta branca

Os pescadores chamam-lhe lagosta da fundura porque habita em fundos entre os 150 e os 400 metros. A ausência de luz faz com que a sua carapaça seja mais pálida, contrariamente à lagosta castanha que, vivendo a baixas profundidades e perto da costa, tem uma pigmentação mais intensa. É capturada com redes de emalhar ou armadilhas em zonas como Sagres, Sudoeste Alentejano e Peniche, e a época ideal é entre Julho e Setembro.

Lagosta vermelha ou castanha

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Lagosta Nelson Garrido

Há quem lhe chame também lagosta do Mediterrâneo. Trata-se de um crustáceo com uma carapaça espinhosa de cor alaranjada ou castanha, que prefere os fundos rochosos e existe na costa de Portugal (Sagres, Sudoeste Alentejano e Peniche) mas também nos Açores. Note-se, contudo, que nem todas as que se vendem em Portugal são aqui capturadas. Muitas (às vezes frescas, outras vezes congeladas) vêm de Cabo Verde, África do Sul ou Caraíbas. A época é de Julho a Setembro e é boa tanto grelhada como cozida.

Cavaco dos Açores

Os ingleses conhecem-no como “lagosta adormecida” por passar muito tempo pendurado em fendas, dentro de grutas rochosas da costa que rodeia as ilhas açorianas. É um crustáceo de aspecto pré-histórico, sendo uma espécie de crescimento lento, alvo de capturas excessivas em algumas zonas do globo – o que obriga a que haja um período de defeso de Maio a Agosto. Pode, por isso, ser consumido entre Setembro e Abril.

Bruxinhas

Conhecida também por bruxa, ferreirinha, cigarra-do-mar, santiago ou cavaco-anão, esta espécie habita entre os 4 e os 50 metros de profundidade, sobre substratos rochosos ou lodosos. Antigamente, os barcos traziam-nas para a lota, apanhadas com armadilhas de malha curta, que hoje são proibidas. Actualmente são apanhadas na costa vicentina por mergulhadores licenciados que fazem mergulho de apneia. Está disponível esporadicamente ao longo do ano, mas em quantidades mínimas. Pode ser cozida ou grelhada.

Fonte: Peixe à Porta

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