Covid-19. Perto de “uma centena de pessoas” passou por festa em Lagos. Há pelo menos 16 infectados

A festa decorreu num salão da freguesia de Odiáxere, em Lagos, e juntou perto de uma centena de pessoas de “vários locais do país” — mais do que as 15 a 20 pessoas que foram comunicadas aos donos do espaço. Há duas pessoas internadas com covid-19 e várias empresas decidiram testar funcionários e encerrar preventivamente.

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Mara Gonçalves
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As autoridades registaram, até à tarde desta terça-feira, 16 casos de covid-19 relacionados com uma festa em Lagos, no Algarve, avançou a delegada de saúde local, Ana Cristina Guerreiro, numa conferência de imprensa. Há duas pessoas internadas. Era para ser uma festa de aniversário com 15 a 20 pessoas, mas terão passado cerca de “uma centena de pessoas” ao longo de toda a tarde pelo salão de festas do clube desportivo da vila de Odiáxere, afirmou o autarca de Lagos, Hugo Pereira, ao PÚBLICO.

Duas das pessoas que estiveram presentes na festa estão internadas no Centro Hospitalar e Universitário do Algarve: uma com 39 e outra com 27 anos. “Quando se internam doentes covid é porque o seu estado clínico é preocupante”, afirmou Ana Cristina Guerreiro.

O espaço foi cedido para uma festa de aniversário de uma família, que aconteceu na noite de domingo de 7 de Junho, com a promessa de que seriam cumpridos os limites de pessoas no espaço. O que se veio a verificar é que “foi ultrapassado em muito o número de pessoas que o espaço permitia”, afirmou Hugo Pereira, pelo que a responsável do espaço alertou as autoridades devido ao incumprimento das normas.

A chegada da GNR ao local fez acabar com a festa, “mas pelo que nos foi dado a saber a festa foi interrompida pelas autoridades e continuada noutro lado qualquer”, admitiu o autarca de Lagos.

O primeiro caso foi detectado no sábado, de acordo com uma fonte da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve que falou à Lusa, e comunicado à autarquia no domingo passado. No final desta segunda-feira eram já nove casos de infecção confirmados entre as pessoas que estiveram no evento e nesta terça-feira, o número subia para 16.

A contabilidade ao número de pessoas que estiveram é difícil, admite Hugo Pereira. Terão estado na festa “umas boas dezenas de pessoas, perto de uma centena”, vindas de vários locais do país e “uma parte considerável das pessoas que lá estavam não se conheciam umas às outras”, o que dificulta na hora de saber quem testar.

“Foi como alugarem o clube e alugarem a rua”

Ao PÚBLICO, Rosa Luz afirma que “nunca tinha visto uma festa com tanta gente” no clube desportivo de Odiáxere desde que mora neste rés-do-chão frente ao edifício, há cinco anos. “Foi como alugarem o clube e alugarem a rua”, descreve, dado o número de pessoas e de automóveis que estariam ali estacionados durante o decorrer da festa. Rosa Luz, aposentada de 67 anos, acabou por ligar às autoridades para dar conta da ocorrência por voltas das 17h.

“Derivado à situação em que o país está, achei que havia qualquer coisa que não estava certa. Achei estranho. Tão estranho que liguei, pela primeira vez, à GNR”, recorda. As autoridades terão acorrido ao local por diversas vezes ao longo da tarde, no seguimento de diferentes queixas, até ao encerramento definitivo da festa, “por volta das 20h”.

De porta entreaberta, no café da sede do Clube Desportivo de Odiáxere, nenhuma das funcionárias quis prestar declarações, indicando que o estabelecimento já se encontrava encerrado. Um aviso afixado à entrada informava que “por motivos de limpeza”, o espaço foi encerrado às 18h30 desta terça-feira e “reabrirá amanhã às 7h”. De acordo com diferentes residentes no bairro localizado em frente ao complexo desportivo, este não terá sido encerrado nenhum dia após a festa, à excepção desta tarde. No campo de futebol, os treinos continuavam​ ao final do dia.

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Empresas testam trabalhadores

Só na segunda-feira foram feitos 60 testes pela autarquia. Até agora, as autoridades de saúde já realizaram mais de 100 testes. Entre os casos confirmados há duas crianças, uma com 12 e outra com sete anos, que não estavam no evento, mas foram infectadas por familiares. Os testes de despiste continuaram a ser feitos esta terça-feira, seguindo o rasto das pessoas que estiveram na festa ou de contactos próximos de quem esteve no evento.

Há cinco pessoas a aguardar resultados e pelo menos dez a aguardar para fazer o teste, acrescentou a delegada de saúde local, sublinhando que a maioria das pessoas envolvidas são “pessoas em idade activa que trabalham em múltiplos locais”.

O presidente da Câmara de Lagos não consegue precisar o número de testes a ser feito – o assunto está agora nas mãos das autoridades de saúde e os casos suspeitos estão a ser encaminhados para as unidades e saúde. A título individual, muitas empresas locais estão também a testar os seus trabalhadores, por terem tido contactos com eventuais infectados.

“Foi uma machadada que ninguém estava à espera”

É o caso do restaurante Adega da Marina, onde todos os trabalhadores fizeram o teste à covid-19 esta terça-feira, depois de terem recebido a confirmação de que dois funcionários figuravam entre os casos confirmados. “Informaram-nos ontem que não tinham estado na festa mas que teriam estado em contacto com pessoas que estiveram na festa. Preventivamente já não entraram ao serviço e mandámos fazer o teste”, conta ao PÚBLICO o director do grupo Adega da Marina, Nuno Maximiano. “Não tinham nenhuns sintomas.”

O restaurante foi encerrado por volta das 13h30, depois de confirmados os resultados dos dois primeiros testes e, ao final da tarde, encontrava-se no local uma equipa de desinfecção. Se todos os testes à covid-19 feitos entretanto à restante equipa vierem negativos, Nuno Maximiano espera reabrir o restaurante “quinta ou sexta-feira”.

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No entanto, este incidente “foi uma machadada que ninguém estava à espera”, lamenta o empresário. E os efeitos da “publicidade negativa” já se começam a fazer sentir. “Temos parcerias com hotéis para fazer [os regimes de] meias-pensões e, ainda hoje, tivemos conhecimento de que, pelo menos, quatro reservas foram canceladas.”

A resposta das empresas “aparentemente mais afectadas” pelo surto de covid-19 no concelho foi “tão rápida”, com o encerramento temporário e desinfecção das instalações, para além do teste dos funcionários ao novo coronavírus, que Nuno Maximiano acredita que a situação será ultrapassada a tempo de evitar piores consequências para o turismo local. “Estamos a tentar transmitir confiança às pessoas de que isto foi uma irresponsabilidade de meia dúzia de indivíduos e quero acreditar que rapidamente vamos ultrapassar esta situação.”

Também o Intermarché de Lagos e o restaurante Camilo encontravam-se encerrados esta terça-feira, depois de, alegadamente, terem sido confirmados casos entre os funcionários.

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A delegada regional de Saúde espera que se apurem responsabilidades e “as suas consequências legais” aos organizadores do evento. “Fazer uma festa, fala-se em mais de 100 pessoas, com uma dimensão destas, num momento de pandemia, em que tem sido tão divulgada a necessidade de distanciamento social, de utilização de máscaras (…), eu espero que sim, que sejam atribuídas responsabilidades”, frisou.

Da parte do município, está para sair uma deliberação que reforça as recomendações do Governo. “O Estado já decretou que não podem estar mais do que 15 pessoas juntar para comemorar um aniversário”, reforçou Hugo Pereira ao PÚBLICO. A autarquia vai apelar a que aos cidadãos que cumpram as regras e às forças de segurança que façam “cumprir o integral cumprimento das ordens, estando mais alerta”.

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