Uma hora de exercício basta para acertar relógio nos músculos

Investigação em ratinhos mostrou o efeito de uma hora de treino físico no relógio biológico das células dos músculos. Novo dado pode ser útil para pessoas que trabalham à noite e doentes cardíacos.

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Investigadores testaram o efeito da corrida em diferentes alturas do dia Paulo Pimenta

Dependendo da altura do dia em que é praticado, um treino físico de 60 minutos será o suficiente para adiantar ou atrasar uma hora do relógio dos músculos no corpo, revela uma investigação publicada esta terça-feira na revista Journal of Physiology. O estudo foi realizado em ratinhos, mas se os resultados forem confirmados em humanos, o artigo pode ter implicações importantes na prescrição de exercícios físicos para pessoas que trabalham à noite e doentes cardíacos.

“Esta investigação é realmente importante porque destaca o efeito que o exercício pode ter nos relógios biológicos. Se os resultados forem replicados em humanos, isto significa que as pessoas que trabalham em turnos à noite podem usar o exercício para mudar o relógio do corpo. Também podemos usar o exercício como um tratamento para problemas do relógio biológico que podem surgir em muitas doenças crónicas, como doenças cardíacas”, resume Christopher Wolff, primeiro autor do estudo de uma equipa da Universidade da Florida (EUA), num comunicado sobre o estudo. O trabalho demonstra que 60 minutos de exercício físico bastam para deslocar (em qualquer direcção) uma hora do relógio biológico dos músculos.

“Os relógios existem em todas as nossas células para coordenar temporariamente as funções específicas da célula”, explica o resumo do estudo, adiantando ainda que a marcação da hora nestes relógios é, como sabemos, sensível a pistas como as mudanças na luz ao longo do dia, o nosso horário de alimentação ou de descanso. Os cientistas perceberam agora que os relógios nos músculos dos ratos também “ouvem” as informações transmitidas pelas contracções dos músculos durante o exercício.

Para ouvir esta conversa, os cientistas seguiram o rasto de uma proteína que está associada ao relógio biológico. Fizeram-no colocando os animais a correr em diferentes alturas do dia, que correspondiam às fases de dia e noite nos humanos. Assim, os ratinhos correram no meio de uma altura de repouso (a nossa noite), uma hora antes de iniciar a chamada fase activa (o nosso dia) e no meio dessa mesma fase. Os resultados mostraram que, dependendo do momento das contracções musculares, os relógios mudavam cerca de uma hora para um período anterior ou posterior, sem que fosse notada a influência de outras hormonas ou do relógio central (que temos a funcionar no nosso cérebro). “O momento em que fazemos exercício durante o dia pode retroceder ou fazer avançar os relógios nos músculos do corpo e, por isso, um cuidadoso ajuste deste mecanismo pode permitir um tratamento para situações em que o relógio está atrasado ou adiantado”, refere o resumo do artigo.

Recentemente, numa revisão de estudos sobre a relação entre a prática de exercício físico e o cérebro, duas neurocientistas da Universidade de Nova Iorque concluíram que uma única sessão de esforço pode fazer a diferença e trazer benefícios. O artigo concluía que os efeitos mais consistentes de uma só sessão de exercício físico são uma melhoria da função executiva (a capacidade de controlo e regulação de comportamentos), uma melhoria do humor e uma diminuição dos níveis de stress. Por outro lado, confirmava-se também que há áreas e circuitos no cérebro que são activados com “exercício agudo”. 

Além destes e muitos outros benefícios do exercício físico, agora junta-se esta indicação de que pode ser também uma ferramenta importante para acertar o relógio biológico.

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