Em Guimarães, numa mata com vista para o rio Ave, coabitam árvores de vários continentes

Instituto para a Conservação da Natureza classificou conjunto enquadrado numa propriedade privada, a Quinta da Ribeira.

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Paulo Pimenta
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A mata da Quinta da Ribeira, em Guimarães, alberga mais de 30 espécies, incluindo a sequóia e o pinheiro-branco, da América do Norte, e o cedro-do-himalaia, da Ásia, tendo sido recentemente classificada como Arvoredo de Interesse Público. Ao lado, há uma casa também sujeita a um processo de classificação, cuja referência mais antiga data do século XIV.

“Este carvalho terá entre 300 e 400 anos”, estima Domingos Menezes, enquanto aponta para um exemplar com ramos bem definidos, enraizado na Quinta da Ribeira, um espaço de que é proprietário no concelho de Guimarães, a cerca de cem metros do rio Ave. Essa árvore quase toca a fachada noroeste da Casa da Ribeira e integra a mata recém-classificada como Arvoredo de Interesse Público pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), num despacho emitido em 25 de Maio e publicado em Diário da República a 4 de Junho.

O carvalho é o exemplar mais isolado de um espaço de recreio em que as copas das árvores de latitudes várias se sobrepõem, abrigando a casa utilizada para agro-turismo em sombra e frescura, mesmo quando o sol brilha pela manhã. Aí, os nativos cipreste (Cupressus lusitanica) e azevinho (Ilex aquifolium) misturam-se com o cedro-do-himalaia (Cedrus deodara), da Ásia, e com o pinheiro-branco (Pinus strobus), o tulipeiro (Liriodendron tulipifera) e o liquidâmbar (Liquidambar styraciflua), da América do Norte. Das 30 espécies que ali se encontram, exóticas na sua maioria, a sequóia da costa ocidental dos Estados Unidos (Sequoia sempervirens) é a mais imponente. “A árvore terá seguramente mais de 30 metros de altura. Em alturas de temporal, é um bocado aterrorizante ver isto a abanar”, admite o proprietário da quinta.

A “raridade” das espécies que compõem a mata, um testemunho do “gosto pelo coleccionismo de plantas oriundas do Oriente e do continente americano”, típico do final do século XIX e do princípio do século XX, é uma das razões que justificam a classificação atribuída, indica o despacho do ICNF. A outra é o “significado paisagístico” gerado pela diversidade de “espécies arbóreas e arbustivas” que ali se encontram. “A mistura de estruturas e cores de espécies folhosas e resinosas, bem como dos vários exemplares, origina uma composição singular e com elevado valor cénico”, reitera o documento publicado em Diário da República.

Atribuído em resposta a uma candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Guimarães, em 2018, o estatuto de Arvoredo de Interesse Público acarreta responsabilidades acrescidas para Domingos Menezes; a zona de protecção que agora envolve a mata proíbe intervenções que “possam destruir ou danificar o conjunto”, como o “corte do tronco, de ramos ou de raízes das árvores”, e requer a autorização prévia do ICNF para outras intervenções, como a instalação e a reparação de sistemas de drenagem das águas e de linhas eléctricas, refere o despacho.

O proprietário adianta, todavia, que os cuidados com a mata de recreio se cingem à limpeza do espaço e à remoção das mimosas (Acácia dealbata), planta invasora oriunda da Austrália. “Aqui há muitas mimosas. É preciso arrancá-las quando elas são pequeninas, porque depois dá imenso trabalho”, explica Domingos Menezes. A parte classificada da mata, que se estende por 0,76 hectares, entre o portão principal da quinta, junto à estrada, e o muro de onde se vislumbra o rio, dá até menos trabalho do que a parte não classificada, mero eucaliptal, confessa. “Essa parte tem de ser desmatada. Aí, pode-se cortar com mais à-vontade, até para evitar riscos de incêndio”, explica.

Casa também busca reconhecimento

Classificada a mata, Domingos Menezes espera também que a Casa da Ribeira mereça o reconhecimento da Direcção-Geral do Património Cultural. “Eu pedi a classificação da casa. Está a ser avaliada”, diz. O documento de abertura do procedimento de classificação da casa e da quinta, datado de 17 de Agosto de 2018 e consultado pelo PÚBLICO, mostra que a quinta passou para as mãos da sua família em 1900, ano em que foi adquirida pelo seu bisavô, o conde de Margaride, personalidade com influência política na época, que dá hoje o nome a uma das avenidas de Guimarães,

Mas a referência mais antiga à casa data de 1360. Ao contrário dos “solares dos séculos XVII e XVIII”, que “servem somente para estar”, a Casa da Ribeira é, desde a sua fundação, uma “casa agrícola”, como mostram as vinhas espalhadas pela quinta. “Uma casa agrícola tem uma quinta grande. E é suposto que a quinta contribua para que a casa subsista. Aqui há vinha e milho”, esclarece Domingos Menezes.

As principais receitas da quinta provêm mesmo da agricultura, reitera o proprietário. Já o turismo, apesar de não dar “praticamente lucro nenhum”, dá “visibilidade” à quinta, permitindo, a quem a visita, deambular sob as copas de 30 espécies de árvores. “Poderem usufruir da mata é das coisas que os turistas mais apreciam”, confessa.

Além da mata da Quinta da Ribeira, há mais três conjuntos de arvoredo de interesse público em Guimarães: a mata de Santa Marinha da Costa, os jardins do Paço dos Duques de Bragança e os jardins do Palácio Vila Flor. O concelho tem ainda 11 árvores de interesse público. A classificação de interesse público dos cedros-do-himalaia à entrada do cemitério municipal da Atouguia também foi publicada em 4 de Junho.

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