Benfica a fugir do passado, FC Porto a agarrar-se a ele

Está em jogo a liderança da I Liga. Os “encarnados” lideram neste momento, mas é uma liderança virtual e presa por meros detalhes regulamentares.

Jogadores ao FC Porto após a derrota em Famalicão
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Jogadores ao FC Porto após a derrota em Famalicão LUSA/JOSE COELHO
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Benfica entra em campo esta quarta-feira às 19h15. LUSA/TIAGO PETINGA/POOL

A liderança da I Liga está em jogo. Igualados em matéria pontual, Benfica e FC Porto estão apenas separados pela diferença de golos – uma vantagem “encarnada” que é pouco mais do que fictícia, já que, no final da temporada, o critério a utilizar será o confronto directo, favorável aos “dragões”.

Nesta quarta-feira, os “encarnados” vão a Portimão (19h15), enquanto os “dragões” recebem o Marítimo (21h30). Tudo isto a meio de um duelo com traços incomuns. Por um lado, qualquer perda de pontos é, historicamente, vista como um possível “combustível” para o rival embalar para o título nacional.

Por outro, nem lisboetas nem portuenses estão consistentes o suficiente para poderem olhar para o que faz o rival. Primeiro, têm de conseguir marcar golos e ganhar os seus jogos, algo que é, actualmente, um cenário longe de garantido para duas formações em crise ofensiva.

Muito jogo, pouco golo

No lado do Benfica, esta viagem a Portimão – a primeira desde que Rui Vitória lá perdeu por 2-0, acabando por sair do clube – significa uma tentativa de fuga ao passado.

Não só pela má memória da última visita ao campo do Portimonense, mas também – e sobretudo – pelo que o passado recente lhe trouxe. Mentalmente, terá de fugir aos efeitos do recente apedrejamento ao autocarro, que lesionou Weigl e Zivkovic — dificuldades em Portimão, no decorrer do jogo, poderão desencadear nervosismo adicional nos atletas.

No relvado, os “encarnados” querem fugir a um passado recente que lhes dá três jogos sem vencer na I Liga, a sequência mais longa desde o já longínquo ano de 2012.

Mas o problema, mais do que na estatística, está na performance. Entre todas as equipas da I Liga, a equipa de Bruno Lage tem, no ano 2020, o pior diferencial entre golos esperados (medidos pela qualidade das oportunidades de golo) e golos marcados.

Isto equivale a dizer que a equipa, apesar de se aproximar da baliza adversária, tem mostrado uma dificuldade tremenda em finalizar – algo indissociável da “seca” de Carlos Vinícius, melhor marcador do campeonato, que não festeja há precisamente três jogos.

Do lado contrário, o Portimonense está em plena luta pela permanência, tendo ganho um fôlego adicional na vitória (1-0) frente ao Gil Vicente, no primeiro jogo de retoma do campeonato após a paragem. A exibição não foi de “encher o olho”, mas Lucas Fernandes, o jogador tecnicamente mais capaz desta equipa, decidiu a partida.

E bem precisa o treinador de Paulo Sérgio de contribuições variadas, já que o Portimonense, para além de ser o pior ataque da Liga, tem no avançado Jackson Martínez o jogador da Liga que mais remates precisa para fazer um golo – e fez apenas um num campeonato em que tem jogado em claro défice físico.

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Jackson Martínez tem jogado em claro défice físico.

Na antevisão da partida, Bruno Lage apontou precisamente às dificuldades na finalização. “Criámos um grande conjunto de oportunidades [frente ao Tondela], mas temos de seguir em frente e criar o mesmo volume de jogo com o Portimonense. Espero que a equipa dê uma resposta e consiga marcar golos”, disse o técnico.

Já Paulo Sérgio, treinador dos algarvios, lembrou a pressão que assombra as equipas. “Ambas estão pressionadas pela necessidade de pontos e isso faz parte do futebol, restando saber se o Benfica entrará nervoso ou mais concentrado e aguerrido”, anteviu.

Seca ofensiva no FC Porto

Mais a norte, o FC Porto também não vive um momento fulgurante. Não fez um bom jogo em Famalicão – perdeu, de resto, por 2-1 – e não tem tido atacantes capazes de fazer a diferença – os últimos cinco golos dos “dragões” na Liga foram marcados por… cinco defesas (Mbemba, Marcano, Alex Telles, Manafá e Corona). Marega (quatro jogos), Zé Luís (seis) e Soares (nove) vivem um mau momento individual, com Aboubakar ainda à procura do regresso à melhor forma, após lesão.

Não obstante, o FC Porto, agarrando-se ao passado, pode ter, nesta quarta-feira, um bom adversário para regressar às vitórias. O Marítimo não marcou fora de casa nos últimos sete jogos, perdeu nas últimas dez idas ao Dragão na Liga e, em matéria de performance, parece “encaixar” no que o FC Porto pretende: é a terceira equipa que mais golos sofre de bola parada – o FC Porto é a que mais utiliza essa via –, a quinta que mais remates concede aos adversários e a segunda que mais tempo passa remetida ao próprio meio-campo.

Espera-se, portanto, uma “avalanche” ofensiva portista, ainda que Sérgio Conceição tenha alertado para um Marítimo diferente do que jogou parte da época. Este já tem José Gomes no banco e, para o treinador portista, “é uma equipa muito bem orientada, com uma equipa técnica muito capaz”.

O técnico dos madeirenses também recusou um FC Porto debilitado. “Seria um erro tremendo pensar que vamos encontrar um adversário debilitado. Já estaríamos a entrar em desvantagem, se pensássemos assim.”

Por fim, nota para uma ajuda extra dada aos treinadores. Para esta jornada, os técnicos já poderão fazer cinco substituições, algo que até pode significar uma satisfação particular para treinadores que têm tido avançados em sub-rendimento. A partir de hoje, poderão mexer mais peças durante o jogo. Sérgio Conceição, apesar de gostar da medida, aproveitou a antevisão do jogo para dizer que não concorda com o timing da aplicação a meio da temporada.

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