Coimbra: covid-19 empurra estudantes para a vulnerabilidade económica

“Uma parte significativa” dos estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra têm pelo menos um elemento da família em actividade suspensa ou em layoff. E às dificuldades económicas juntam-se as académicas, provocadas pelo ensino à distância.

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Paulo Pimenta

Os primeiros resultados de um estudo revelam que “uma parte significativa” dos estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) se encontra em situação de vulnerabilidade económica devido à pandemia.

De acordo com uma nota da Universidade de Coimbra (UC), enviada esta segunda-feira, 8 de Junho, à agência Lusa, “uma parte significativa de estudantes da FEUC encontra-se em situação de vulnerabilidade económica devido à pandemia de covid-19”, indicam “os primeiros resultados de um estudo” realizado por Rita Martins e Patrícia Moura e Sá, investigadoras daquela faculdade.

O estudo contou com a participação de 440 estudantes de licenciatura e de mestrado dos vários cursos ministrados na FEUC: Economia, Gestão, Sociologia e Relações Internacionais.

Com este trabalho pretende-se avaliar a “vulnerabilidade económica das famílias dos estudantes da FEUC decorrente da pandemia” e “como estão os estudantes a adaptar-se ao contexto, nomeadamente compreender como percepcionam a passagem a um regime de ensino a distância, atendendo à avaliação que fazem das suas condições de estudo nas suas residências familiares”, explicam as autoras.

“Ainda que para já o número de casos de desemprego directamente imputável à covid-19 seja bastante reduzido, verifica-se que 15,5% dos agregados têm pelo menos um elemento com actividade suspensa e que há 19,3% das famílias com pelo menos um membro em layoff, sublinham, citadas pela UC, Rita Martins e Patrícia Moura e Sá.

“Tendo em conta a correspondente redução de rendimentos e o risco de desemprego futuro, pode-se assim dizer que uma proporção significativa de estudantes está, pelo menos circunstancialmente, em situação de vulnerabilidade económica”, esclarecem as investigadoras do Centre for Business and Economics Research (CeBER) da faculdade.

Em relação às consequências sobre a vida académica, praticamente 3/4 dos participantes no estudo consideram ter menos condições para obter sucesso académico. Entre os constrangimentos apontados, destacam-se a compreensão das matérias leccionadas à distância (43%) e as condições em termos de espaço físico para trabalhar com algum sossego (26%).

“Contudo, apenas 5% dos inquiridos admite como bastante provável a hipótese de interromper os estudos, ao passo que cerca de 20% admite como muito provável a hipótese de prolongar os estudos e entrar no mercado de trabalho mais tarde”, refere a UC, ainda de acordo com a investigação.

As decisões quanto à mobilidade internacional parecem ter sido bastante afectadas — “um terço considera que não terá condições de o vir a efectivar no próximo ano e, entre os que pretendiam fazê-lo no futuro, 43% indica que a probabilidade de o concretizar foi afectada pela pandemia”.

Para o director da Faculdade, Álvaro Garrido, este estudo permite “obter informação muito relevante para um diagnóstico dos efeitos socioeconómicos da covid-19 nos cerca de três mil estudantes da FEUC”. Esta monitorização, “quase uma radiografia social, é fundamental para se conhecer realidade e para se poder apoiar os estudantes”, sustenta.

“Intuitivamente, ou de maneira impressiva, sabemos que muitos estudantes vivem situações difíceis e que as desigualdades se agravaram com a pandemia. Esses impactos são dinâmicos e quase silenciosos, daí que seja importante conhecer os dados e identificar padrões”, acrescenta Álvaro Garrido.

Contando com o apoio da UC e dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC), a Faculdade de Economia “vai incentivar o aprofundamento deste estudo e promover outros diagnósticos de autoconhecimento”, adianta o director da FEUC.

A recolha dos dados, que decorreu entre 24 de Abril e 13 de Maio, abrangeu alunos matriculados em 2019/2020 na instituição, sendo 55% dos respondentes residentes fora do distrito de Coimbra e 32% no concelho de Coimbra.

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